Prólogo

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Nos confins do mundo, aconchegada entre duas serras, escondia-se Woodshack. Esta era uma pequena cidade, diferente de todas as outras, onde a magia sempre teve o seu lugar.

Woodshack tinha sido fundada há mais de 500 anos por quatro jovens com capacidades especiais. Neste caso, cada um deles conseguia controlar um elemento: água, terra, ar ou fogo. Cada um deles fazia a sua parte e contribuía para o desenvolvimento da cidade com o seu poder. Com o passar do tempo os fundadores foram trazendo outras pessoas para aquela cidade, amigos e pessoas de confiança que fossem dignos de viver naquele lugar mágico.

Ao longo desses 500 anos a cidade foi crescendo, mas os descendentes dos quatro fundadores (ou seja, as famílias fundadoras de Woodshack) continuavam a distinguir-se dos outros habitantes de Woodshack por causa dos seus poderes. Os Reynard controlavam a terra, os Culbert tinham poder sobre o fogo, os Eglington dominavam a água e os Bryer tinham controlo sobre o ar. Com o passar dos anos a utilização dos poderes destas famílias tornou-se cada vez menos necessária, mas continuavam a ser utilizados em ocasiões especiais, para celebrar e honrar este milagre.

Em Woodshack as cerimónias mais importantes ocorriam quando um membro de uma das quatro famílias fundadoras antiga os 12 anos. Aí, os seus olhos mudavam de um profundo castanho-escuro para a cor correspondente ao elemento da sua família. Os olhos de todos os Reynard eram de um verde profundo com uns tons de castanho: as cores da floresta. Os olhos dos Culbert eram de um vermelho-escuro quase cor-de-sangue com umas nuances mais claras que fazem lembrar chamas. Os olhos dos Eglington eram de um azul-marinho bastante forte, que faz parecer que são dois pedaços de oceano. Por fim, todos os olhos dos Bryer eram de um cinzento-claro quase prateado que, na maior parte dos casos, transmitem uma grande sensação de calma. Assim que a cor dos olhos muda, o jovem aniversariante aquire os seus poderes e passa a ter um papel bem importante no bem-estar da cidade e seus habitantes.

Nesta cidade não existia rei, rainha, imperador ou presidente. Todas as decisões eram tomadas pelos representantes das quatro famílias fundadoras. Todos os meses, ou quando era urgente que se tome alguma decisão, os quatro representantes reuniam-se numa cabana de madeira escondida na floresta. Cabana esta onde os quatro fundadores tinham decidido criar Woodshack e onde se reuniam para tomar decisões. Aliás, foi essa mesma cabana que acabou por dar o nome à cidade. Ninguém sabia a localização desta cabana para além dos representantes das famílias fundadoras, de modo a que ninguém seja capaz perturbar aquele local. No entanto o mais provável era que, mais tarde ou mais cedo, fosse alguém de uma das famílias fundadoras a danificar a cabana durante uma discussão. As famílias não gostavam particularmente umas das outras e essas reuniões mensais conseguiam ficar bastantes tensas.

Assim, por serem as famílias mais poderosas de Woodshack, não existiam muitas regras a que as famílias fundadoras tinham que obedecer, com exceção de duas: nunca poderiam prejudicar ou deixar de fazer a sua parte para o bem da cidade e nunca, em quaisquer circunstâncias, poderiam ter alguma relação romântica com alguém de outra família fundadora. Por causa desta última regra, intencionalmente ou não, as famílias acabaram por se afastar, chegando mesmo a sentir um tal desprezo entre elas. No entanto este desprezo não se comparava com o ódio que era sentido entre as famílias Culbert e Eglington, criado pelo facto dos seus elementos serem opostos e, aos olhos de alguns, inimigos.

Em relação a tudo o resto, aquela era uma cidade relativamente normal, com alguns hospitais, escolas, parques e todas essas coisas. Bem, na verdade, "normal" não é bem a palavra certa para descrever Woodshack. Nesta cidade também habitavam algumas criaturas que de normais não tinham nada, as paisagens eram definitivamente diferentes com as suas árvores altas e onduladas com folhas brilhantes, entre outras coisas que mais tarde vão descobrir. No fundo, tudo em Woodshack tinha o seu toque especial.

Era neste ambiente que vivia Ema Eglington, o membro mais novo da família que consegue controlar a água. No entanto, tendo já passados muitos anos desde o seu 12° aniversário, os seus olhos teimavam em permanecer de um tom profundo e doce de castanho-escuro. Ao contrário dos outros membros da sua família e das outras famílias fundadoras, ela era vista como uma aberração e era por essa razão que não tinha muitos amigos. Além disso, os seus pais tinham falecido quando ela tinha apenas 10 anos, e visto que os seus avós (a única família que lhe restava) não eram propriamente carinhosos com ela, a sua vida familiar era um pouco solitária. Ela sabia que tinha um papel importante na sociedade de Woodshack, pois mesmo sem ainda ter os seus poderes, ela era a  próxima representante da família Eglington. Isto se conseguir sobreviver até lá. Muita gente pensava que ela não é digna de ocupar o cargo, visto que era uma "aberração", e ela tinha mais inimigos do que pensa. Inimigos estes que estavam dispostos a fazer tudo para impedir que ela chegue ao poder.

Mas enfim, agora que já conhecem a história de Woodshack está na hora de irem descobrir a de Ema. Afinal, numa sociedade como esta, o que acontece quando os olhos não mudam de cor?

A EscolhidaWhere stories live. Discover now