Capítulo 5

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O único som que se ouvia na floresta era os passos dos três adolescentes a caminhar por entre as árvores, esmagando as folhas caídas no chão. De tempos a tempos uma folha ou outra caía da sua árvore, aventurando-se no ar, rodopiando numa linda dança até finalmente aterrarem no chão já coberto de muitas outras folhas.
Calum e Ema andavam lado a lado, enquanto ele a guiava, abrindo caminho por entre a vegetação. Elisa seguia o par uns passos atrás, observando tudo à sua volta com uma admiração enorme, como se fosse a primeira vez que visse aquela floresta. Ema caminhava imersa nos seus pensamentos, tentando perceber o que tinha acabado de acontecer, para onde estava a ir e o caminho que estava a levar, de modo a conseguir voltar para trás se necessário. Calum tinha uma expressão calma e confiante no rosto, demonstrando que sabia exatamente o que estava a fazer enquanto guiava Ema por entre a floresta com determinação. Elisa por outro lado, estava no seu elemento, observando com atenção todos os pormenores daquele local e desviando-se do caminho várias vezes para ir ver algo em específico que lhe tinha captado a atenção.
- Já cá tinhas vindo alguma vez, Elisa?
Ela demorou um pouco a perceber que estavam a falar com ela, mas assim que percebeu a pergunta, Elisa soltou uma gargalhada e respondeu:
- Sim, claro! Venho cá várias vezes por semana! Eu apenas gosto de observar a Natureza.
- Coisas de Reynard. - comentou Calum do início da fila, enquanto encolhia os ombros.
Elisa revirou os olhos e continuou a explicação:
- Como já deves saber, cada família vê o seu elemento de maneira diferente das pessoas que não têm poderes. A minha família consegue ver a Natureza de maneira diferente. Aos meus olhos, tudo parece...mágico. Não consigo explicar.
Ema estava fascinada. Ela nunca tinha conhecido alguém assim. Ela própria não tinha poderes, os seus avós nunca lhe falaram disso e ela evitava Calum o mais possível. Embora não fosse isso o que parecia naquela situação.
Elisa fechou os olhos durante uns segundos e quando os abriu estes brilharam intensamente com uma cor verde muito pura e intensa. De seguida ela acelerou o passo e começou a saltitar até ao início da fila, passando à frente de Calum. Nas suas pegadas, onde outrora se encontravam apenas folhas secas e pequenas ervas amareladas, agora encontravam-se também pequenas flores e ervas verdes que cresciam em direção ao céu, como a promessa de uma nova vida.
- Exibicionista... - disse Calum, num murmúrio.
Elisa ouviu-o e virou-se para ele, lançando-lhe um sorriso provocador e outra piscadela rápida.
Ema sorriu com aquilo, mas este sorriso rapidamente desapareceu do seu rosto assim que uma dúvida que há muito estava às voltas na sua cabeça ganhou voz:
- Mas afinal o que é que eu não sei e estou prestes a...
Ema chocou contra Calum, que estava parado, assim como Elisa, a olhar para uma cabana de madeira com um ar antigo e novo ao mesmo tempo e sobretudo muito misterioso. Dava a sensação de ser um daqueles mistérios primordiais que nunca seriam resolvidos e que já tinha assistido a mais coisa do que alguém poderia alguma vez contar.
- Descobrir? - completou Elisa. - Isto.
Calum foi o primeiro a voltar à ação e abriu a porta com um ar decidido.
A cabana era muito maior por dentro do que por fora. Parecia uma mistura de todas as mansões das famílias fundadoras, com uma ala para cada uma, que ia dar a uma sala central com uma mesa circular de madeira escura antiga com quatro cadeiras à volta, cada uma assinalada com o símbolo de um dos elementos. Ema olhou demoradamente para a cadeira onde um dia se iria sentar até que reparou numa jovem sentada na cadeira destinada ao representante da família Bryer, a família que dominava o ar.
- Sofia, sai daí. Tu sabes que esse não é o teu lugar. - lembrou Elisa, com um tom de voz cansado, como se já estivesse cansada de repetir a mesma coisa.
Ela limitou-se a lançar um olhar enfurecido a Elisa e não se mexeu um centímetro. Aliás, ela respirou fundo e os seus olhos iluminaram-se, tal como tinha acontecido com Elisa apenas uns minutos atrás, com uma cor prateada puríssima e muito forte. De seguida, com apenas um movimento do dedo, começou a passar as páginas do livro que estava a ler, sem sequer lhe tocar.
Elisa aproximou-se de Sofia e voltou a dizer-lhe para sair dali, e finalmente, ela levantou-se com um olhar contrariado. No entanto, rapidamente se tornou óbvio que o plano dela não era obedecer a Elisa e, com um sorriso malicioso, Sofia voltou a sentar-se, desta vez com os pés em cima da mesa. Ela colocou o livro no colo e continuou a ler, passando as páginas com os seus poderes.
- Bryers... - disse Elisa, entredentes, enquanto soltava um longo suspiro.
Sofia pareceu ouvir e, imitando Elisa disse, no mesmo tom de voz e soltando o mesmo longo suspiro:
- Reynards...
Elisa finalmente desistiu e dirigiu-se a Ema, quando reparou que Sofia tinha interrompido a sua preciosa leitura para olhar para Ema. Ela tinha um ar intrigado e talvez até interessado. Elisa sorriu e em vez de ir ter com Ema, chamou-a.
Assim que Ema chegou ao pé dela, Sofia tirou os pés de cima da mesa, fechou o livro e endireitou-se na cadeira.
- Ema, esta é a Sofia, como já deves ter percebido. Ela é uma Bryer.
Ema estendeu a mão a Sofia e esta apertou-lha, com um pequeno sorriso tímido no rosto.
- Eu sou a Ema. Ema Eglington.
Ao ouvir o apelido de Ema, Sofia fez um ar desconfiado, e olhou com atenção para os seus olhos, como se ela fizesse isso estes se tornassem magicamente azuis, provando o que Ema tinha dito. Mas como era óbvio, isso não aconteceu, pelo que Sofia apenas se limitou a olhar interrogativamente para Elisa, recebendo um aceno em resposta.
- Então...tu és a futura representante dos Bryer? - perguntou Ema, timidamente, visto que ela estava sentada na cadeira dos representantes da família do ar.
Um ligeiro ar de irritação surgiu na cara de Sofia enquanto respondia:
- Infelizmente, não. O meu irmão é...
Ema estava surpreendida. Sofia tinha um irmão? Como é que isso era possível tendo em conta que as famílias fundadoras eram suposto ser o mais pequenas possível? Será que os Bryer tinham quebrado alguma regra?
Sofia reparou no olhar confuso de Ema e riu-se enquanto dizia:
- Vê-se mesmo que és uma Eglignton. Os Reynard e os Bryer podem ter famílias maiores, pois os nossos poderes foram considerados menos destrutivos e perigosos do que os dos Culbert e os dos Eglington, pelo que a probabilidade de caírem em mãos erradas e provocarem o fim do mundo são muito menores.
Ema reparou no ligeiro tom de desdém que Sofia tinha utilizado para dizer o seu apelido, mas também não estranhou. Era do conhecimento de todos que as famílias representantes não gostavam propriamente umas das outras. No entanto Ema estava mais interessada no olhar rápido que Sofia tinha lançado na direção da a ala dos Bryer, atrás de si, enquanto dizia aquelas palavras. O que é que se esconderia ali?
- Bem está na hora de te apresentar a tua futura ala. - disse Calum, que se tinha mantido calado até aquele momento.
Ele estava ao lado da porta fechada com o símbolo da água cravado na madeira e que se situava uns metros atrás da cadeira do representante dos Eglington. Ema ficou à espera que ele abrisse a porta e entrasse, indicando o caminho como ele sempre fazia mas ele apenas ficou ali, quieto e à espera.
- Então...vens? - perguntou Calum, impaciente.
- Sim, claro.
Ema encaminhou-se até à porta apenas para reparar que esta não tinha maçaneta ou fechadura. Aliás, nenhuma tinha.
- Espera, como é que vamos abrir esta porta? - inquiriu Ema.
Calum apressou-se a explicar:
- Apenas as pessoas da família à qual pertence a ala podem abrir a porta.
Enquanto dizia isto, ele encostou a sua mão à porta de madeira e empurrou, mas nada aconteceu. Depois olhou para Ema e, incitando-a a imitá-lo disse:
- Agora tenta tu.
Ema obedeceu, e assim que ela fez pressão na porta, esta abriu-se imediatamente.
Um sorriso surgiu imediatamente na cara de Ema. Aquela tinha sido a primeira vez em muito tempo que se tinha realmente sentido como uma Egligton.

A EscolhidaWhere stories live. Discover now