Capítulo 6

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Sofia acordou com o baque seco de alguma coisa cair no chão e levantou-se imediatamente. A única coisa que ela gostava menos do que não ser a futura representante da sua família era ser acordada mais cedo do que o que era suposto.
Ajeitou rapidamente o pijama e o cabelo e dirigiu-se para o quarto do irmão, pronta a gritar-lhe por a ter acordado tão cedo. Com certeza tinha sido ele. Quando ela chegou ao quarto do irmão ainda hesitou ao estender a mão para agarrar o puxador prateado, mas rapidamente se decidiu a prosseguir e escancarou a porta com toda a sua força.
- Emric, tu...
Sofia interrompeu-se. O seu irmão não estava ali.
- Algo não está certo... - murmurou Sofia enquanto saía cuidadosamente do quarto de Emric.
Ele acordava sempre mais cedo que ela, era verdade. Mas não tão cedo. Ela ouvia-o todos os dias a andar pela casa quando acordava e tinha a certeza que ele apenas se levantava dali a bastante tempo. Além disso, ela não conseguia ouvir nada. Não tinha ouvido nada desde que acordava com exceção daquele estrondo que a fez acordar. Não passos, não ouvia nada.
Sofia continuou a andar silenciosamente e com muito cuidado, até que, ao fechar a porta do quarto do irmão, reparou numa planta linda e verde, cheia de flores amarelas, que estava cuidadosamente arrumada em cima do parapeito da janela. Ela bufou de irritação e voltou ao seu andar normal enquanto se dirigia de novo para o seu quarto. Lá, vestiu-se e arranjou-se, demorando muito mas muito mais tempo do que o normal. Quando finalmente ficou pronta, Sofia dirigiu-se calmamente para a enorme sala de estar da casa da família Bryer.
Lá, ela encontrou Elisa e o seu irmão Emric sentados no sofá de cores claras, com Calum sentado numa cadeira de madeira que tinha muito provavelmente sido tirada da mesa de jantar. Por fim, os seus olhos desviaram-se para o cadeirão que estava ao lado deles. Lá estava sentada uma jovem que parecia mais velha que eles, com cabelos ondulados (a encaracolados) e ruivos. Os seus olhos eram da mesma cor dos da Elisa, com a diferença de, em vez de emitirem alegria e vida, como os da outra Reynard, estes emitiam uma calma e controlo desconfortantes. A rapariga estava sentada direita, quase como se tivesse uma coroa na cabeça e tinha as pernas cruzadas e as mãos delicadamente pousadas em cima delas.
Ao ver Sofia, Calum começou a abrir a boca, mas ao reparar na expressão que estava na cara dela, fechou-a imediatamente e deu imediatamente uns passos atrás. Elisa levantou-se e começou a falar:
- Sofia...
Sofia não a ouviu e apenas se limitou a olhar fixamente para a misteriosa jovem sentada, com um olhar furioso. Quando ela se virou para o sofá e a cadeira onde Emric, Elisa e Calum estavam sentados, a sua cara tinha um tom rosado e faltava pouco para ela começar a expelir fumo pelas orelhas. E ela ficou ali, a olhar para o chão de granito, em choque. Depois, após uns segundos, Sofia levantou os olhos, procurando os de Elisa.
- O que é que ela está aqui a fazer? - perguntou ela, numa voz que demonstrava uma calma que não existia.
Ninguém respondeu. Todos sabiam que o melhor nestas alturas era apenas deixá-la falar.
- E eu que pensava que os Bryer tinham uma tendência para serem calmos e relaxados... - disse a jovem ruiva com um tom divertido, enquanto se levantava e sacudia a sua saia delicadamente. - Mas todos sabemos que esse não é o caso aqui, pois não?
- Ninguém falou contigo, Diana! - disse Sofia, enquanto se voltava para ela. - Aliás, ninguém falou contigo durante dois anos, não foi? Tu apenas limitas-te a desaparecer deixando-nos aqui, a tratar de todos os problemas sozinhos! Tenho a certeza que pensavas que não conseguíamos, só tu é que és capaz de tratar dos assuntos importantes, não é? Adivinha! Afinal conseguimos!
- Sofia, acalma-te... - disse Elisa, baixinho, do seu canto no sofá, sentindo a tensão do momento.
- Não, deixa-a continuar! Tenho a certeza que ela tem ainda imenso para dizer! - disse Diana com um sorriso trocista no rosto.
Mal Diana disse isto, Sofia percebeu que isto era um jogo, e que ela estava só a gozar com ela. Com isto, Sofia começou a relaxar e soltou um suspiro de irritação, enquanto na sua cara começou a surgir um sorriso divertido semelhante ao de Diana.
- Também tive saudades tuas. - disse Diana, enquanto abria os braços, pronta a abraçar a sua amiga.
Sofia revirou os olhos e, com um sorriso, dirigiu-se a Diana e correspondeu ao seu abraço.
- Totó.- disse Sofia, enquanto se recompunha.
- Uau...essa foi a receção de boas-vindas mas estranha que já vi na vida! - exclamou Calum, que tinha estado a observar tudo, ainda sentado na cadeira de madeira, com o peito e constado à parte de trás da cadeira e os braços cruzados apoiados em cima no mesmo lugar.
- Estavas à espera de outra coisa vinda da minha irmã? - perguntou Emric, que estava ainda sentado no sofá, com as pernas cruzadas, uma apoiada em cima da outra, e o braço esticado em cima do apoio do sofá.
- Bem visto. - retorquiu Calum, enquanto se levantava e se encaminhava para perto de Diana e Sofia. - Quando voltei das férias no Verão passado, ela quase que me ia atirando com um raio.
- Tu foste-te embora sem me dizer nada! - defendeu-se a Sofia.
- Eu disse à Elisa para te avisar! E além disso, eu mandei-te umas cinco mensagens, tu é que nunca respondias!
- Mas...
- Ok, isso também não interessa agora. - disse Diana, por entre a confusão. - Está na hora de me falarem sobre essa Ema.
Com isto, Calum e Sofia acalmaram-se imediatamente e foram-se sentar junto dos amigos. No entanto, ninguém tomou a iniciativa de começar a falar.
- Então? - perguntou, começando a ficar impaciente, Diana.
Calum, Sofia e Elisa entreolharam-se, mas foi Emric que começou a falar.
- Eu não sei muito. Estava na cabana quando ela entrou, é verdade, mas nem sequer a vi. Estive o tempo todo na ala da minha família. No entanto, consegui perceber que ela é da família Eglington.
Ao ouvir este nome a ser mencionado, Diana levantou-se de um pulo.
- Eglington? Tens a certeza?
Emric acenou em resposta, assim como todos os outros adolescentes, perguntando de seguida:
- Porquê o espanto?
Diana rapidamente percebeu que tinha perdido a compostura, algo que nunca acontecia, e decidiu voltar a sentar-se e a prosseguir, com a esperança que ninguém desse muita importância ao assunto.
- Continuem.
Desta vez foi Calum que continuou, com alguma ajuda de Elisa, que completava o que ele dizia aqui e ali, deixando de fora detalhes que ele achava que deviam ficar apenas entre eles. Quando ele acabou de falar, a sala ficou em completo silêncio enquanto que esperavam que Diana dissesse alguma coisa. No entanto, tal não aconteceu, visto que ela se manteve a olhar para a parede com ar pensativo.
- Ah...Diana? - chamou Elisa.
Ainda assim, a representante da família Reynard continuou perdida nos seus pensamentos, ignorando por completo a sua irmã mais nova.
- Diana! - repetiu Elisa.
Desta vez, ela ouviu e, com um ar confuso, olhou para a irmã e levantou-se rapidamente pronta a desaparecer, mais uma vez. No entanto, antes de sair porta fora, Diana ainda voltou para trás, virou-se de frente para as outras pessoas presentes, e disse, de forma muito educada:
- Obrigada pela informação. Devo me reunir com esta nova colega representante o mais depressa possível. Mais uma vez, obrigada pela ajuda.
E com isto, saiu de rompante sem dizer nem mais uma palavra.
Ninguém sabia o que dizer ou fazer. Aquela não era a reação normal de Diana, ela sempre fora uma pessoa extremamente controlada e calma, sempre pronta a resolver problemas, independente do quão grandes estes fossem.
No entanto, Calum ainda tinha uma pergunta a fazer:
- Sofia, como é que soubeste que éramos nós que estávamos aqui?
Sofia sorriu-lhe e disse:
- De início não sabia, mas quando fui ao quarto do Emric ver se era ele que estava a fazer barulho, reparei no vaso em cima do parapeito da janela. Lá estava plantada a uma linda planta com flores amarelas.
- Sim, e então?
Sofia olhou para Emric e ambos se começaram a rir.
- Aquela planta foi uma prenda que a nossa avó deu ao Emric, após ter ido connosco a uma feira, onde vendiam estas plantas, depois de ele ter ficado encantado com aquela. Mas o que aconteceu foi que, como aqui o Emric não têm jeito nenhum para cuidar de plantas, ela morreu mais ou menos duas semanas depois. No entanto, ele nunca foi capaz de deitar a planta fora, e ali ficou ela. Quando a vi tão florida e bonita, percebi logo que estava ali envolvido o trabalho de algum Reynard. E bem, embora nem sequer tivesse colocado a opção de ter sido a Diana, visto que ela andava desaparecida, ela nunca seria descuidada ao ponto de fazer aquilo e denunciar a sua presença, seria demasiado irresponsável. Além disso aquilo tinha mesmo a cara da Elisa!
Todos começaram a rir, com exceção da Elisa que afirmava que tinha feito o que estava correto e que o faria outra vez.
- Obrigado, Elisa. - agradeceu Emric, ternamente. - Significa muito para mim.
Elisa limitou-se a acenar com a cabeça e a murmurar um envergonhado "Não foi nada de especial."
De repente todos ouviram um grande barulho, e apenas uns segundos mais tarde, apareceu uma jovem da idade deles, com longos cabelos loiros, que possuía um vestido sujo e rasgado e que estava suja de lama da cabeça aos pés. Os seus olhos eram furiosos e cintilantes e de uma forte cor violeta.
Todos se levantaram de imediato e Calum, chegando-se à frente e espelhando o ar espantado nas caras de todos os outros perguntou:
- Ema?

A EscolhidaWhere stories live. Discover now