Capítulo 10

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Nos dias que se seguiram, Ema trancou-se na sua ala, na Cabana dos Representantes, deixando apenas Calum entrar de vez em quando. Ela dizia que tinha medo de causar mais estragos e que era mais seguro para toda a gente se ela ficasse ali e que, por isso, era o que ela iria fazer. No entanto, por causa desta decisão, ela nunca mais voltou à Mansão Eglington, o que causou um pânico generalizado pela cidade inteira, resultante da hipótese de ela ter sido raptada, hipótese esta que era a mais aceite pela maioria das pessoas. Obviamente que Calum, Sofia, Elisa e Emric permaneciam calados quanto a este assunto, ainda era muito cedo para revelar o que quer que fosse. Quanto a Diana, esta tinha desaparecido uma vez mais e ninguém tinha bem a certeza quanto é que ela sabia em relação a Ema, ainda que Elisa jurasse a pés juntos que a sua irmã não seria um problema.
Sempre que Calum falava com Ema, tanto Elisa como Emric e Sofia ficavam à espera que ele voltasse, para lhe perguntar como ela estava, se estava pronta para sair do seu quarto, etc, etc. No entanto, a resposta era sempre a mesma:
- Dêem-lhe mais tempo. Ela ainda não está pronta.
Com isto, Elisa soltava um suspiro triste, Emric cruzava os braços e franzia o sobrolho enquanto que Sofia continuava a tentar roubar mais alguma informação a Calum, apenas para desistir um ou dois minutos depois. Depois disto todos voltavam a fazer o que estavam a fazer, apenas para se voltarem a reunir no dia seguinte, aquando a visita diária de Calum a Ema, prontos a repetir este processo.
Até que um dia tudo mudou.
Quando o Sol nasceu, acompanhado de um céu coberto por nuvens de cor lilás, por entre as quais os fracos raios solares passavam, preguiçosos, algo diferente brilhava no céu: uma luz de cor púrpura iluminava os céus de uma forma nunca antes vista, condizendo com os tons lilases das nuvens, que, ao contrário do que aconteceria com aquela misteriosa luz, acabariam por desvanecer ao longo do dia, apenas para dar lugar a um céu nublado, carregado de nuvens cinzentas, que passariam os tempos seguintes a chorar a chegada daquela estrela misteriosa.
No entanto, a inesperada e brusca mudança de clima não foi a única coisa que mudou. Quando Calum foi visitar Ema, uma vez mais, como fazia todos os dias, bateu à porta como ele sempre fazia - uma batida lenta, seguida de duas rápidas, que culminavam numa final batida lenta - de modo a que ela soubesse que era ele, mas Ema não abriu a porta. Ele bateu mais umas vezes, sempre sem resposta, até que percebeu que a porta não estava fechada, mas sim entreaberta, como que se alguém se tivesse apressado a sair, sem ter tempo para verificar se a porta estava bem fechada. Surpreendido, ele empurrou a porta lentamente, e com cuidado, considerando se devia entrar ou não. A ala de cada família fundadora era algo muito importante, privado e exclusivo de cada família fundadora, sendo considerado algo quase sagrado. Fazendo parte de uma família fundadora, e tendo sido educado deste modo, a primeira reação de Calum foi largar a maçaneta da porta de imediato e ir-se embora, mas depois de apenas três passos, parou a meio do caminho, pensando nas suas hipóteses. Assim, com um suspiro de irritação murmurou:
"Vamos lá a isto..."
E, sem pensar mais, empurrou a porta e entrou na da ala da família Eglington.
Lá dentro, estava tudo virado do avesso, como se um furacão tivesse passado por aquele lugar. Não existia uma peça de mobília que não tivesse folhas com rabiscos misteriosos em cima de si, já para não falar do chão, que também estava coberto por estas folhas amachucadas e rabiscadas. No entanto, não era isso que era mais assustador, mas sim as manchas que Calum encontrara no quarto de Ema, que lhe parecia ser nada mais nada menos do que...sangue. Nada mais foi preciso para convencer Calum de que algo não estava certo, pelo que ele começou a correr o mais rápido possível para fora daquele lugar, e foi chamar Sofia, Elisa e Emric, explicando-lhes o que ele tinha encontrado.
- Tu entraste numa ala de outra família?! - exclamou, Sofia, ainda muito chocada por esse pormenor.
- Sim, sim, mas foi por uma boa razão, eu só... - tentou explicar Calum.
- Eu estou-te já a avisar, se eu alguma vez te encontrar na ala da minha família, a bela visão do nosso bom gosto em decoração vai ser a última coisa que alguma vez vais ver. - interrompeu Sofia.
- Oh-oh, gostava de te ver a tentar...
- Já chega! - gritou a Elisa.
Todos viraram as suas cabeças para ela, surpreendidos, tendo em conta que Elisa raramente se chateava, aliás, a única vez em que ela tinha levantado a voz havia sido anos atrás, quando a sua irmã lhe anunciou que ia sair daquela cidade, para nunca mais voltar, decisão que ela nunca chegara realmente a perdoar.

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⏰ Last updated: Aug 31, 2019 ⏰

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