Capítulo I

813 26 10
                                    

A HERANÇA


-- DIAS ATUAIS --


Já passava das duas da madrugada quando o alquimista resolveu ir dormir. A noite não havia começado bem e após doze tentativas frustradas de completar o ritual, sua única alternativa era adiar seu propósito para um dia mais auspicioso e torcer para os círculos estarem a seu favor. Doze era um número muito importante no mundo místico: doze privilégios, doze classes, doze círculos e doze elementos. O doze parecia influenciar tudo positivamente na vida dos magos, só não o último rito que tentara e fracassara miseravelmente.

Do lado de fora de sua janela à chuva continuava a cair e o brilho dos relâmpagos sobre a mesa iluminava as oferendas dispostas pela ordem de importância: sangue, suor e lágrimas, e o Livro Vermelho, cujo título estampava o motivo de seu fracasso: Centésima Canção do Livro Vermelho, o último ritual que todo alquimista jamais conseguira realizar. O ritual do Elixir da Vida Eterna.

Dormiu com o fracasso e na manhã seguinte acordou com o sol matutino incidindo fortemente sobre sua janela. Havia se esquecido de fechar as cortinas na noite anterior e agora o astro-rei invadia seu quarto com seu terno brilho acalorado e o forçava a abrir os olhos. Levantou-se sonolento e pegou as roupas que estavam amontoadas sobre o criado-mudo, enquanto no andar de baixo, sua mãe mexia nas louças preparando o café. Era 25 de setembro de 2010, o dia que completaria dezenove anos.

O som dos pratos e talheres na cozinha atraiu sua atenção e o cheiro gostoso de algo crepitando ao fogo, fez com que descesse as escadas, onde sua mãe o aguardava com um sorriso e os braços abertos. Adam devolveu o sorriso e abaixou-se para receber um beijo e um abraço.

– Já nem consigo mais beijar meu filho. Você não vai parar de crescer não, Sr. Ocher? – apesar da brincadeira sua voz demonstrava orgulho da altura do filho.

– Já parei mãe. A senhora que não percebeu – e se desvencilhou do abraço da mãe, seguindo em direção ao banheiro.

O vento fresco da primavera balançava os galhos da mangueira que crescia perto de sua janela e roedores afoitos saltavam pelo telhado e corriam pelo forro de madeira. Adam não lhes deu atenção. Estava acostumado com os sons da natureza e seu quintal, grande e bem arborizado, fazia fundo com a reserva florestal do município, então não era raro encontrar animais passeando pelo terreno ou revirando as latas de lixo dos vizinhos.

O banho foi rápido, apenas para espantar o sono, e quando Adam voltou para a cozinha sua mãe o saudou com uma xícara de café e uma fatia de bolo.

– Parabéns filhote! Mais à tarde vou ao centro comprar seu presente por isso não demore muito na sua avó, tá!

– Não vou demorar. – respondeu, pegando o café – Tenho uma reunião na facul depois do almoço e não posso me atrasar.

Na verdade, Adam não tinha intenção de chegar à faculdade, mas sim voltar à praça em frente ao campus onde vira uma moça no dia anterior. Uma aura azul celeste a envolvia e por um minuto suspeitou se tratar da visão de um anjo, mas ela se virou, entrou no Corolla estacionado em frente à praça e desapareceu.

A mentira o remoeu por um instante, mas da forma como a mãe era curiosa, ela o interrogaria por horas a respeito da garota e ele ainda não tinha nada de concreto que pudesse dizer, então, comeu o bolo rapidamente e se despediu, saindo em seguida.

-:-

Na rua o vento soprava mais forte e balançava os galhos das árvores ao redor, espalhando folhas e flores pela estrada e inundando a atmosfera com cheiro de terra molhada e eucalipto. Sua vila era bem arborizada e a brisa sob as árvores proporcionava uma atmosfera agradável para caminhar.

A Busca pela Árvore da Vida (em revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora