Capítulo VII

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A PROMESSA

O avião decolou e incidiu sobre o ladino9 o desejo de voltar atrás. Não gostava da ideia de invadir a GD e não tinha certeza de que os riscos que correria valeriam a pena, mas não podia deixar passar essa oportunidade.

Justin estava bem acomodado na poltrona executiva, ao lado de um garoto gordo e espinhento que, volta e meia, lançava lhe um olhar inquisidor, espiando por cima dos óculos de fundo de garrafa. Tinha tentado ignorá-lo desde o momento em se sentou ao seu lado, mas o garoto ficava mais ousado a medida que o tempo passava e parecia incomodado com a presença do ladino. De todas as malditas poltronas disponíveis nesse avião, tinha que cair logo ao lado desse bolo-fofo espinhento, pensou enquanto mudava de posição e virava as costas para o rapaz.

A voz da aeromoça ao seu lado, lhe oferecendo uma bebida, chamou sua atenção, mas Justin recusou. Queria estar lúcido para revisar o plano e sempre perdia as estribeiras quando bebia, então aceitou apenas uma água com gás e um pacotinho de amendoim. A moça foi até o final do corredor e voltou, dando um meio sorriso ao passar por ele, instigando seus ânimos. Justin devolveu o sorriso e colocou o pescoço para fora da poltrona para ver melhor. A aeromoça era loira e alta. Tinha olhos azuis vívidos e maquiagem carregada, típico das comissárias de bordo. Justin, por sua vez, era negro, alto, cabelo cumprido e escuro, arranjado em várias tranças ao estilo rastafári. Seu rosto fino e ossudo aliado aos caninos proeminentes lhe conferia uma aparência lupina, principalmente quando sorria, e seus olhos negros e profundos estavam sempre em movimento, como se avaliasse uma presa. Estava bem vestido; com blazer e calça preta, camisa branca de seda e sapato social. Um brinco de prata reluzia em sua orelha esquerda e um anel de ferro grosseiro adornava seu anelar direito.

Abriu a bolsa que carregava a tiracolo e examinou o estranho artefato embrulhado em papel jornal. Era um objeto negro, que refletia parcialmente a luz, formando um vulto escuro sobre os olhos do rapaz. O garoto nerd que compartilhava a poltrona com ele esticou o pescoço na esperança de ver o que havia atraído a atenção do ladino, mas Justin fechou a bolsa rapidamente lançando um olhar de censura e repulsa para o jovem, que recuou intimidado.

– Perdeu alguma coisa aqui quatro olhos? – perguntou encarando o rapaz – Se não, vire essa cara purulenta para a janela antes que eu a enfie no saquinho de vômito.

O garoto virou o rosto para a janela e permaneceu assim pelo resto da viagem. Justin esperou o avião pousar e desceu, esperando a aeromoça que se despedia dos passageiros. Ela esperou até o último descer e se dirigiu a ele com um sorriso no rosto.

– Fez boa viagem, senhor? – perguntou puxando conversa.

– Sim, obrigado senhorita! Eu poderia me atrever a perguntar seu nome?

– Lia. – respondeu a jovem lançando lhe um olhar inocente. – E o seu?

– Muito prazer, Lia. Meu nome é Justin Brow e estava pensando se seria muita ousadia de minha parte convidá-la para jantar?

A moça sorriu timidamente, mas aceitou o convite. Trocaram telefones e algumas palavras e, no final, Justin combinou de pega-la às vinte horas e foi para um hotel indicado pelo taxista que o recebeu na saída do aeroporto.

– Pretende ficar muito tempo na cidade, monsieur? – perguntou o taxista tentando puxar conversa. Falava inglês, mas seu sotaque carregado fez Justin percebeu que era novo no ramo.

– Não tenho certeza. Tenho uns assuntos para resolver aqui, mas não imagino quanto tempo demorará. A propósito pode falar francês comigo. Seu sotaque é péssimo e feri meus ouvidos – contrapôs Justin. Uma característica dos magos, independente de sua classe, era a capacidade de falar e entender a maioria das línguas e Justin usava essa qualidade para dar um ar de culto e impressionar as garotas, no entanto, dessa vez, usaria a habilidade para algo necessariamente útil.

A Busca pela Árvore da Vida (em revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora