Capítulo IX

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A REVELAÇÃO

A chuva ainda caía quando um caipira, vestido com cores fortes, deixou um prato fumegante sobre uma pequena mesa ao lado de Justin e saiu. O ladino estivera desmaiado por apenas algumas horas, mas parecera uma eternidade o tempo que permanecera trancado ali. Ainda se lembrava do temporal que caíra sobre sua cabeça, da imagem de seu pai lhe cobrando sua promessa e da dor. Perdera totalmente seus objetivos ao ter seu cérebro lacerado por aquela dor e agora tudo o que restava era torcer para que seus esforços não tivessem sido em vão.

Desceu da rústica cama de madeira que adornava seu aposento e pegou o prato de comida que lhe deixaram. Apesar de sua cabeça ainda doer, não comera nada desde a noite anterior e seu estômago protestava de fome. Seu quarto de prisão não se parecia exatamente com uma cela. Era relativamente confortável e não havia grades, apenas uma grossa porta de madeira de carvalho e um espaço da parede, sem reboco, no lugar onde deveria haver uma janela. Sua cama, apesar de simples, era macia e havia até um banheiro para quando a necessidade urgisse, mas mesmo assim ainda estava preso.

Olhou ao redor, refletindo, enquanto depositava o prato vazio sobre a mezinha no canto do pequeno cômodo. Ainda estava muito fraco para tentar uma canção que o libertasse, mas em pouco tempo estaria recuperado e poderia por aquela parede abaixo. Seus captores deveriam saber disso, então era estranho que não o tivessem amordaçado ou algemado seus braços.

Ainda pensava com seus botões quando a porta se abriu e Mestre Matheus adentrou o cubículo. Usava uma toga colorida com detalhes em dourado e azul, mas sem a faixa que representava o cargo de Mestre. Abaixou a cabeça num cumprimento e se sentou na cama, ao lado do ladino.

– Espero que esteja sendo bem tratado – disse o Mestre sem demonstrar emoção na voz.

– Quão bem tratado eu poderia estar sendo, jogado nesta cela fétida e alimentado com algo entre comida de cachorro e bosta de neném?– respondeu Justin com raiva. Estava revoltado por ter sido capturado tão facilmente e a presença do Mestre só fazia piorar as coisas.

Mestre Matheus sorriu.

– Você não é mesmo fácil de lidar, não é?! Mestre Jeú me disse que não seria uma conversa amigável, mas eu não lhe dei ouvidos, como sempre. Veja, não há motivos para não convivermos amigavelmente, já que você terá que permanecer um bom tempo conosco, até pagar pelo seu crime.

– Por que não me entregaram as autoridades? Se cometi um crime devo pagar por ele da mesma maneira que todo criminoso comum. Por que me mantêm aqui?

– As coisas não funcionam dessa forma na GD – respondeu o Mestre – O que acontece aqui, resolve-se aqui, essas são as regras.

– Começo a entender a situação – zombou Justin – Se passam por honrados professores, preocupados em ajudar os pobres garotos ignorantes que buscam instrução aqui, quando na verdade usam esse lugar para satisfazer seus anseios de autoritarismo e dominação. Veja o que eu sinto pelas suas regras – e cuspiu nos pés de Matheus.

– Você me lembra seu pai, sabia? – disse o Mestre calmamente limpando o pé – A mesma raiva interior, a mesma ambição, mas seu pai não tinha esse sentimento de remorso, como se tivesse feito algo do qual não pudesse se perdoar.

– Há! – zombou Justin – Está enganado velho. Eu não sinto remorso. Nunca – mas no fundo estremeceu a menção de seu pai.

– Sua boca diz uma coisa, mas sua alma canta outra canção. Eu posso lê-la claramente. Não há necessidade de mentir – respondeu Matheus.

Justin recuou. Ouvira historias a respeito dos sábios e de como podiam ler a alma das pessoas, descobrindo seus mais íntimos segredos e dominando suas mentes, mas nunca os levara a sério. Lendas eram comuns no mundo dos magos e todas as classes gostavam de inventar histórias fantasiosas sobre si mesmas.

A Busca pela Árvore da Vida (em revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora