fourth

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Manchester, Inglaterra
18hr34min

Duas semanas depois.



Alissa encarava o resultado do exame de um paciente de sete anos. A queixa era de dores fortes no joelho direito a duas semanas. A mãe acreditava que fosse algo passageiro mas ao longo dos dias a agonia apenas se intensificou. O diagnóstico: câncer com metástase por toda a perna direita, alcance também nos rins e na bacia do pequeno Oliver. Em estágio avançado como indicam os exames, alguns médicos já ensaiam como sentenciar a morte de um filho para uma mãe. Ramirez contudo, se preocupa em como providenciar o melhor acolhimento para aquela família e os melhores passos a serem tomados para que o paciente possa passar pelo tratamento sem dor e da maneira mais tranquila possível.

Ela entra no quarto do garotinho ruivo e de olhos castanhos brilhantes - Oliver encara a médica com a inocência e tranquilidade que só uma criança é capaz de ter. Sua mãe no entanto, levanta apreensiva e temerosa, é como dizem: coração de mãe não falha. E aquela parecia já compreender a história toda. Sem cortes, pausas, eufemismos ou ambiguidades.

— Olá. — a médica cumprimenta de maneira vívida. A esse ponto, ela já é muito boa em esconder suas emoções. — Como está o meu paciente favorito?

— Eu não sei o que a senhora fez, tia Alissa, mas eu não sinto mais dor nenhuma. — Oliver diz animado, se ajeitando na cama para poder ficar sentado. O coração da doutora aperta, imediatamente. — É sério, eu nunca tinha visto um truque de mágica tão perfeito assim.

— Me deixa te contar um segredo. — Alissa se aproxima do pequeno para sussurrar em seu ouvido. — Aqui todo mundo tem o poder de ajudar as pessoas.

Os olhos do garoto se abrem em admiração. Ela sorri e acaricia os cachos avermelhados do mais novo.

— Ajudar as pessoas é um poder?

— Um superpoder que só corações nobres são capazes de ter.

— Acho que eu tenho esse. — Oliver afirma com firmeza. A médica não consegue parar de pensar em como seu prognóstico pode tirar aquele sorriso banguela de seu rosto. Seu peito aperta ainda mais.

— Tenho certeza que sim, Olly. — a voz de Ramirez perde um pouco da força e consistência, ela sabe que está a um ponto de desabar. — Agora eu preciso falar com a sua mãe bem rapidinho, você pode esperar um pouco?

— Sim, tia Alissa. — o ruivo assente, suas mãos pequenas erguem um livro de historinhas na altura dos olhos da médica. — Eu vou ler até ela voltar.

— Perfeito, Olly. — a ortopedista diz em tom orgulhoso, o que amplia ainda mais o sorriso do garotinho.

Alissa faz um gesto para Francis – a mãe do paciente. Uma mulher provavelmente seis anos mais jovem do que a médica, mas que já carrega um semblante cansado que só a maternidade solo pode oferecer. A ruiva acompanha a médica para o lado de fora do quarto, no corredor o clima tenso se instala imediatamente.

— Doutora. — ela chama, em uma súplica, a voz é baixa e embargada.

— Francis, preciso que me escute com atenção, tudo bem? — Alissa se aproxima, sua mão livre dos exames, encontra o ombro da jovem tentando passar algum conforto. — Os resultados do Oliver apresentaram alterações significativas. Infelizmente, identificamos um câncer que já apresenta estágio avançado.

Collide, Erling Haaland Where stories live. Discover now