Capítulo 7

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Uma semana se passou e Alice continuava bem, sem qualquer novo episódio. Ayla temia que o conde a mandasse embora, mas ele simplesmente agia como se ela fosse parte permanente da casa. A esperava todos os dias para descerem juntos no café-da-manhã e no jantar e se esforçava para manter uma conversa amigável durante as refeições.

Por mais de uma vez tentou retomar o assunto sobre a mãe de Ayla, mas todas as vezes eles eram interrompidos. Ele chegou a realmente acreditar que estava lidando de fato com forças malignas que queriam impedi-lo de descobrir a verdade. Mas, eventualmente, era apenas a Srta. Clara de Windsor que os interrompia. Ele tentava mantê-la longe dele, sem muito sucesso, infelizmente.

Em certa ocasião, na biblioteca, enquanto Erick mostrava à Ayla o nome de algumas das constelações que ele havia catalogado, e tentava achar um meio de abordar o assunto sobre o passado dela, Srta. Clara entrou no recinto.

-- Finalmente o encontrei, Erick, querido. – ela disse ignorando Ayla por completo. – Não consigo achar nada prazeroso para passar meu tempo. Preciso de você!

-- Boa tarde, Srta. Windsor. – o conde ergueu o corpo de sobre o livro onde ele e Ayla estavam debruçados e puxou Ayla para o seu lado, discretamente. – Estamos conversando sobre as constelações. Receio que achará esse tema pouco prazeroso também.

A manobra de Erick fez com que a mesa ficasse entre sua hóspede e eles, mas Clara sentou sobre a mesa, e sobre o livro, antes de dizer:

-- Podemos fazer outra coisa... Basta mandar a babá ir fazer o trabalho dela -- Srta. Clara sorriu e passou a mão no braço que Erick apoiava na mesa.

Erick se afastou do toque no mesmo momento em que Alfred entrou na sala.

-- As encomendas chegaram, senhor.

-- Ótimo! – o conde disse aliviado, e pegando o braço de Ayla com delicadeza contornou a mesa. – Venha, Ayla. Isso diz respeito a você.

-- A mim?! – Ayla o seguiu confusa e então se deparou com a Condessa Viúva abrindo diversas caixas no saguão de entrada.

-- Acho que chegaram todos, Erick. – a condessa disse segurando um vestido amarelo nas mãos.

-- Esse combina perfeitamente com o cabelo dela. – Erick examinou o vestido admirado e, após uma rápida olhada para o corpo de Ayla, continuou. – Acho que você acertou em cheio o número dela, mãe.

-- É claro que eu acertaria! – a condessa disse indignada.

-- Isso não são uniformes. – a voz de Clara soou no corredor, um pouco esganiçada.

-- Não são. – o conde respondeu sem desviar os olhos dos vestidos que a condessa retirava das outras caixas.

-- Isso não pode estar acontecendo... – Clara disse inconformada e, quando percebeu que estava sendo completamente ignorada por todos, seus olhos estreitaram de raiva. – Ela é só uma empregada! Quem é essa garota?! – ela gritou.

O corpo do conde ficou rígido e ele endireitou as costas. A tensão nos ombros de Erick fez Clara se arrepender do grito no mesmo instante. Ele se voltou para ela e a fuzilou com os olhos. Ayla, que estava espantada demais para se manifestar, pareceu sentir a densidade do ar mudar. O conde deu um passo para frente, mas a Condessa Viúva se antecipou.

-- Clara! Não admito que se comporte dessa forma na nossa casa! – ela disse rispidamente e passou pelo filho, caminhando energicamente até a afilhada. – Se esqueceu como uma dama deve se comportar, talvez seja melhor se retirar para seus aposentos.

Srta. Clara ficou sem reação por um momento. Estava pronta para colocar aquela menina no devido lugar e, certamente, não esperava ser repreendida publicamente. Ela encarou a condessa indignada, mas então percebeu o olhar raivoso de Erick, o que a assustou. Ele nunca havia parecido tão ameaçador e perigoso antes. Clara se encolheu diante a fúria que viu estampada no rosto do conde e decidiu acatar a sugestão da condessa, saindo do saguão sem nem ao menos olhar para Ayla.

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