Capítulo 9

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Erick encarou a mãe novamente, achando que ela tinha ficado louca. A afirmação da condessa era tão firme que não deixava margem para dúvida. Isso o fez ficar em alerta e sua confusão foi dissipada pela praticidade e pelo senso de urgência.

-- Precisarei de mais que isso, mãe. – O conde disse com seriedade.

A condessa suspirou. O conde a observou em silêncio, esperando.

-- Eu venho de linhagem nobre, filho, mas não da forma como você pode imaginar. Seu pai e eu vínhamos de mundos completamente diferentes, mas cujas fronteiras eram indispensáveis. – a condessa ajeitou o vestido, evitando encarar o filho. – Por muito tempo, nossas fronteiras nunca foram cruzadas, até eu completar dezenove anos. Seu pai tinha vinte e cinco na época.

-- Mamãe... Do que... – a condessa ergueu a mão, pedindo que ele esperasse.

-- O meu mundo, querido, é... Não... deixe-me colocar dessa forma... As terras onde está a floresta que rodeia o castelo do seu pai me pertencem. – a condessa continuou. – Os limites dessas terras fazem fronteira com as terras que hoje lhe pertencem. Mas houve uma época em que a floresta foi ameaçada. Seu avô queria vendê-las!

-- Como meu avô poderia vender algo que pertencia à outra pessoa? – o conde perguntou confuso.

-- Porque para o mundo ao qual seu avô pertencia, a floresta era dele... – a condessa disse, hesitante.

-- O mundo à que ele pertencia?

-- Seu avô e seu pai pertenciam ao mundo dos homens... – a condessa disse com paciência e encarou. – Eu pertencia ao mundo da floresta. Dos seres da floresta...

O conde soltou um murmúrio engasgado, uma risada a respeito de algo absurdo, pois parecia que sua mãe estava se referindo a ninfas e espíritos livres. Quando viu que a condessa continuou séria, a encará-lo, sua risada sumiu.

-- Mamãe... Não pode achar que vou...

-- Quando soube que seu avô venderia as nossas terras, -- a condessa o interrompeu – resolvi tentar impedir. Contra a vontade do meu povo e da minha família, entrei nas terras do castelo para conversar com seu avô, mas encontrei seu pai antes. – a voz da condessa falhou e ela sorriu nostálgica. – Ele era o homem mais incrível que eu já conheci. Não que eu tivesse conhecido muitos. Minha mãe sempre dizia que eles eram gananciosos e burros. Mas seu pai era gentil, inteligente e muito bonito. Quando nos encontramos, em frente à porta do castelo, eu usava um vestido verde feito de fibras vegetais e flores no cabelo e estava determinada a convencê-lo a não se livrar da floresta. Eu achava que ele era o seu avô e o acusei de todas as coisas ruins que pude pensar na hora. Mas ele apenas ficou olhando pra mim, mudo. Seu pai me disse mais tarde que quando ele me viu ele soube que eu não poderia ser desse mundo, mas não se importou. Decidiu que iria se casar comigo.

A condessa sorriu com a lembrança e uma lágrima escorreu pela face. Erick nunca a vira assim antes.

-- Eu era ingênua na época e contei toda a verdade ao seu pai. – a condessa continuou. – Quem eu era, a importância da floresta, o desastre que aconteceria se a floresta fosse derrubada. Seu pai ouviu tudo e acreditou em mim sem pestanejar. Ele era muito menos cético que você, Erick.

-- Qual seria o desastre que aconteceria se derrubassem a floresta? – Erick ignorou, propositalmente, a parte da história que falava da origem da mãe. Precisava se concentrar no que parecia mais concreto.

-- Nossa magia mantém certas coisas em equilíbrio. A natureza se conecta em muitos pontos e nossa floresta é um desses pontos. Além disso... – a condessa continuou com a voz sombria. – Nós mantemos alguns espíritos malignos presos. O lago é nosso portão para mantê-los longe do mundo dos homens.

A curaNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ