Capítulo 14

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Nathaniel não mostra nenhuma surpresa de me ver ali, não mostra nada, na verdade, me ignora como se nem estivesse me vendo. Acompanho ele com os olhos até vê-lo se sentar em uma mesa com Amber. 

— Achei que vocês fossem amigos. — Comenta Collin assim que saímos da pizzaria.

— Somos, mais ou menos, ele é um cara complicado.

— Todo mundo é meio complicado, tenho certeza que ele tem os motivos dele para isso. — Ele diz e pega minha mão. Sinto a energia fluir por entre nossos dedos encostados, meu coração bate levemente mais rápido. 

— Talvez. Mas não podemos ignorar que algumas pessoas apenas gostam de ver o circo pegar fogo.

— Você tem razão, tem pessoas terríveis em todo lugar… Até aqui na faculdade. 

— Você já quis desistir? Da faculdade, por essas pessoas? — Pergunto, mesmo que eu saiba a resposta, em alguns momentos isso é estranho, conversar com uma pessoa que não sabe que já conversa com você. 

— Mais de uma vez, tem horas que tudo o que eu queria era me mandar daqui e nunca mais voltar. Tenho certeza que já escrevi mais de um e-mail do tipo para minha irmã. 

— Você só fala com sua irmã sobre essas coisas? — Pergunto, e, nesse momento, tudo depende da resposta dele. Talvez seja esse o momento de contar a verdade, mas, tudo depende de como ele responderá.

— Sim. Num geral, sim, tenho alguns amigos que eu já mencionei, mas, minha irmã é uma grande ouvinte.

— Ou uma grande leitora, né, já que você escreve. — Digo com um sorriso amarelo. Me sinto menos especial nesse momento, menos exclusiva, sendo que, ao mesmo tempo, entendo por que ele fala dessa maneira, eu no lugar dele, provavelmente faria o mesmo.

Toda essa situação é meio complicada, como pisar em ovos sem saber o que falar ou como falar com ele, depois de já ter trocado tantos e-mails com alguém que não sabe que já trocou muitos e-mails com você, você se sente meio perdido. Mas, agora que a insegurança de Collin está passando, a cada momento, ele se parece mais com o cara que eu me correspondo. Ainda assim, é meio inevitável, fazer perguntas já feitas e comparar mentalmente as respostas, até me perguntei algumas vezes de quem ele gosta mais, da Tur, com quem ele fala pelos e-mails, ou da Aurora, que sou eu de verdade.

Não que eu esteja representando um papel. Ambas são a mesma pessoa, mas, ainda assim, me incomoda pensar que ele gosta mais da versão online de mim do que a versão real. Mesmo que isso não faça o menor sentido.

Algumas vezes me pego perguntando, qual seria a reação dele se eu falasse quem eu sou. Já pensei em tantas possibilidades, ele pode, por exemplo, sair correndo, ou dizer que é mentira, ou me dar um beijo, ou quem sabe me chamar de mentirosa e me dar um tapa na cara, são muitas opções. E isso só aumenta minha impressão de que estou vivendo uma mentira. 

Quando chegamos em frente ao meu quarto, estou mais nervosa do que nunca. Sei que isso se deve a minha linha de raciocínio ainda a pouco, mas, é inevitável fazer a comparação. Sair com o Nathaniel não é tão… Estressante assim. Em parte claro, pela pressão. Não tem toda essa pressão de agradar ele, ou, de tentar adivinhar de qual das minhas versões ele gosta mais. Outra parte, sabe que é mais fácil sair com o Nathaniel, pois eu não tenho expectativas sobre ele, e ainda, uma pequena parte de mim se pergunta se é só isso mesmo.

— Bem, chegamos… É aqui. — Digo quando paramos em frente a minha porta.

— Eu me diverti muito hoje, espero que tenha se sentido da mesma forma… Sei que cometi alguns vacilos, mas, prometo que vou me esforçar para ser melhor. 

— Eu me diverti muito também, Collin, no mais, vamos deixar o passado para lá.

— Certo… Bem, então… Eu já vou. — Ele diz e se aproxima de mim.

— Tchau… — Digo como um sussurro, Collin está muito perto de mim, eu acho que talvez ele vá me beijar, meu coração se acelera quando penso nessa possibilidade.

Mas não, eu me sinto murchar quando ele apenas estende a mão para mim. Tento disfarçar minha frustração, mas, não sei se consigo fazer isso tão bem. Estendo minha mão e encosto minha pele na dele. 

Seus dedos estão frios e levemente suados. Ele está nervoso, posso ver isso, e mesmo que me desagrade entendo que ele queira ir devagar. Me lembro dos seus e-mails, da sua confissão sobre a falta de experiência. Tudo faz sentido, talvez, uma coisa esteja ligada diretamente a outra. Preciso manter isso em mente, preciso me lembrar que ele não é como o Nathaniel. 

— Boa noite, Aurora.

— Boa noite, Conan. 

Ele solta minha mão nesse momento e se vira, de costas para mim, enquanto eu o observo se afastar. Meu coração bate acelerado no peito, principalmente quando ele não olha para trás, após alguns passos. Decido então tomar uma atitude.

Entendo que talvez ele queira ir devagar, eu me lembro do e-mail em que ele confessa ter ficado com poucas meninas, eu de verdade entendo que isso tudo, possa ser uma insegurança dele. Mas, ele já me beijou antes. Isso não deveria deixá-lo tão nervoso assim.

— Conan. — Grito seu nome quando ele está já a alguns passos de distância. Ele se vira e eu corro até ele. — Você esqueceu uma coisa comigo.

— Esqueci? — Ele pergunta, fazendo a típica cena de apalpar os bolsos para tentar descobrir o item faltante.

— Você esqueceu isso aqui. — Digo e colo minha boca na sua.

Quando ele corresponde ao beijo, solto um suspiro de alívio.  Eu nunca fui uma pessoa assim tão ousada, então tudo isso foi novo para mim também. 

Eu me penduro em seu pescoço e aprofundo o beijo. Posso sentir o frio os locais onde nossa pele se encontra. Mas. Isso não faz com que esse beijo não seja perfeito a sua maneira.

Collin segue meu ritmo, suas mãos envolvem minha cintura e ele me segura com firmeza. O beijo é quente, mas, ao mesmo tempo, doce. Como um chocolate com pimenta, em que a doçura invade a boca, mas, o sabor da pimenta te formiga a língua ao final.

Olho em seus olhos quando nos afastamos, não sei dizer quem está mais envergonhado nesse momento, afinal, sinto minhas bochechas quentes indicarem que talvez eu tenha ido um pouco além do que deveria.

— Desculpe. Só achei que era necessário te entregar. 

— Não precisa pedir desculpa, foi ótimo. — Ele diz e sorri na minha direção. — Preciso ir.

Ele fala, encosta levemente seu lábio no meu e se afasta. Sem sequer me dar oportunidade para respondê-lo. 

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