Capítulo 37

62 16 45
                                    

Entramos na sala e sentamos mo nosso lugar. O professor dá uma olhada geral e pergunta se alguém quer começar, meia dizia de pessoas erguem as mãos, Nath entre eles, o professor ignora a todos e escolhe alguém que não estava com a mão levantada.

“Babaca” digo ao Nathaniel apenas mexendo os lábios e ele concorda com a cabeça. 

A primeira dupla se apressa a ir lá na frente, eles estão tão nervosos que mal posso ouvir suas vozes trêmulas. Ao final o professor os enche de perguntas e acena para que eles voltem aos seus lugares.

Em seguida ele passa para a próxima dupla, que também não levantou a mão, e depois para a seguinte. Sempre optando por pessoas que não levantavam as mãos, depois da quarta dupla ninguém mais levanta a mão. O professor sequer faz algum comentário sobre isso, continua chamando os nomes como se as mãos levantadas simplesmente não fossem relevantes, apesar dele continuar a perguntar quem gostaria de ser o próximo.

Faltam poucas pessoas quando nosso nome é finalmente chamado. Nos posicionamos no mesmo lugar que tantas pessoas se posicionaram antes e começamos a apresentar o seminário. 

Nathaniel começa, sua voz é firme e confiante. Da para ver que ele sabe o que está falando, sua confiança parece contagiar a mim e quando é chegada minha vez, minha voz soa alta e firme, como se outra pessoa estivesse em meu lugar, apresentando para tantas pessoas pareço confiante e determinada. Antes mesmo de terminar, posso notar que fomos muito bem.

O professor nos olha ao final da apresentação e preparamo-nos para as perguntas que ele fará, mas ele não faz nenhuma. Apenas um “excelente” deixa seus lábios ao fim da apresentação.

Nos viramos então, prestes a voltar ao nosso lugar. Nathaniel estende sua mão e a entrelaça na minha. Estou sorrindo como uma boba ao chegar novamente em minha cadeira.

As poucas duplas restantes apresentam depois de nós, me sinto aliviada de tal maneira que sequer noto quando a aula chega ao fim. 

— Vamos? — Nathaniel diz quando se levanta da cadeira.

Só então percebo que a maioria das pessoas já saiu da sala e vejo que eu estava ali dormindo acordada.

— Fomos bem. — Afirmo.

— Claro que fomos, somos uma ótima dupla afinal.

Eu sorrio, me lembrando de como fiquei furiosa de precisar fazer esse trabalho com Nath. Não éramos uma boa dupla nessa época, ou melhor, eu não era uma boa dupla, Nath sempre se dedicou e esforçou enquanto eu parecia mais preocupada em provar que ele não era uma boa pessoa.

— Está com fome? — Nath pergunta. 

Percebo que estou morrendo de fome quando meu estômago ruge em resposta. Eu realmente deveria ter tomado o café da manhã. 

— Estou morrendo de fome. — Respondo e Nathaniel me olha com uma expressão de quem diz “eu te avisei”.

— Quer comer em um lugar legal antes de irmos para a cadeia?

— Quero. — Respondo, mas sem a empolgação de antes.

Minha vida tem estado tão cheia de coisas que por um momento esqueci dessa visita, esqueci de Lucas e de todo o problema que ele trouxe para minha vida. Queria que esse esquecimento pudesse durar para sempre, mas sei que não será assim, no momento em que eu encostar meus lábios nos lábios de Nathaniel sei que isso voltará com tudo.

Eu não quero viver assim, não quero uma vida pela metade. Quero me entregar inteiramente ao que sinto e isso só será possível quando Lucas se for para sempre.

Nathaniel mais uma vez me guia pelas ruas de Nova York, não pegamos metrô dessa vez, pois o lugar para onde vamos é perto o suficiente para irmos a pé.

Seguimos de mãos dadas até chegarmos em um pequeno restaurante italiano. O ambiente é simples e acolhedor, com música tocando baixo e mesas de quatro lugares com toalhas quadriculadas.

Sentamos em uma das mesas e logo o garçom vem para nos atender. 

— Boa tarde, meu nome é Niccola e vou atendê-los hoje. Posso explicar o cardápio? 

— Claro. — Respondo sorridente.

Niccola então entrega-nos um cardápio para cada e começa a explicação de cada prato. A cada palavra que sai de sua boca, meu estômago parece responder mais alto, se contorcendo e implorando por aquela comida que parece deliciosa só de ouvir.

Ambos acabamos decidindo pelo macarrão a bolonhesa. E um refrigerante para acompanhar, nada de vinho quando iríamos fazer algo tão importante ao sair dali.

— Gosto muito desse restaurante. — Nath diz quando o garçom se afasta. — Já vim algumas vezes e nunca me canso. Queria conhecer o dono, mas ele nunca parece estar por aqui.

— Deve ser delicioso.

— Eu nunca te levaria num restaurante que fosse menos que delicioso. — Ele diz e eu sorrio. — Está nervosa? 

— Estou. 

— Ainda dá tempo de desistir você sabe…

— Preciso fazer isso Nath…

— Sei e entendo o motivo. É por isso que pesquisei sobre essa prisão em que vamos. As visitas são feitas por meio de cabines com vidro blindado. Não precisa se preocupar tanto, ele não conseguirá encostar em você. 

— Não sabia que tinha pesquisado.

— Tive muito tempo essa noite. Não estava conseguindo dormir.

— Por que não dormiu?

— Não sei, estava preocupado com hoje. — Nathaniel responde.

Antes que eu possa responder, no entanto, um prato com um delicioso macarrão é posto a minha frente. Minha boca chega a salivar com o cheiro que sobe da comida, minha barriga novamente ronca em protesto por eu ainda não ter começado a comer. Não perco tempo com palavras, assim que o garçom se afasta começo a devorar a comida como se não comesse há dias.

Nathaniel faz questão de pagar a conta e depois de insistir algumas vezes acabo deixando. Saímos do restaurante logo em seguida, com um silêncio pesado sobre nós, conforme partimos para a penitenciária onde Lucas está preso.

A um e-mail de distância Onde as histórias ganham vida. Descobre agora