Capítulo 28

97 24 116
                                    

Por um momento não acredito no que ouvi, imagino que meus ouvidos estão me pregando peças ou algo parecido. Meu coração parece martelar tão forte no peito que é como se a qualquer momento ele fosse sair pela minha boca.

— O que você perguntou? — Pergunto sem acreditar.

— Se quer namorar comigo. — Ele responde num tom levemente constrangido. — Gosto de você Aurora, realmente gosto. Não quero ser seu amigo colorido, ou, seja lá qual o nome disso que temos agora. Quero você no meu futuro, na minha vida e não só como amiga.

Não consigo evitar as lágrimas que irrompem pelos meus olhos, minha respiração parece fraquejar e preciso de um momento para respondê-lo. 

— Como pode querer isso de mim? Estou quebrada Nathaniel, não consigo nem mesmo te tocar ou te dar um beijo sem surtar completamente. Como pode querer um relacionamento comigo? Que tipo de namorada posso ser para você? 

— Não está quebrada Aurora, que droga. Você passou por algo terrível. Não pode esperar que isso simplesmente suma do dia para a noite. 

— Não estou pronta para namorar Nathaniel, você não entende? — Digo exasperada, as lágrimas escorrendo abundantemente pelos meus olhos.

— Entendo que você está com medo. Não estou aqui para discutir com você ou te pressionar, certo. Tudo bem se você não quer Aurora. 

 O brilho dos olhos de Nathaniel parece sumir, ele suspira e passa as mãos pelos cabelos, vira as costas para mim. Sei que estraguei tudo, mais uma vez. 

— Acho melhor a gente ir embora. — Ele diz com a voz baixa demais. 

— Não quero ir embora com as coisas assim. — Minha voz sia tão baixa quanto a sua.

— Então o que você quer? — Ele pergunta e vira novamente em minha direção. Seus olhos queimam, agressivos.

— Gosto de você Nathaniel, realmente gosto. Eu só… Não sei se vou melhorar um dia.

— Não estou preocupado com isso.

— Como não? Como pode querer uma mulher que sequer consegue beijar você? Que talvez nunca consiga.

— Você é mais para mim que um beijo, Aurora, não quero só te beijar. Mas, de qualquer forma, estarei aqui para te ajudar a passar por isso. Nada dura para sempre e mesmo se durar, estou satisfeito em ter apenas sua companhia.

Eu o olho intensamente sem saber o que dizer, dividida entre a emoção e a razão, entre a parte de mim que o quer acima de tudo e a outra parte que quer o melhor para ele.

— É egoismo da minha parte te prender a mim nesse momento. — Digo somente. 

— Não há nada de errado em ser egoísta. 

Ficamos em silêncio por alguns segundos, observando mutualmente. Por minha cabeça passam um milhão de pensamentos. Lembranças com Nathaniel em todos os momentos desde que a gente se conheceu. Apesar de tudo, ele sempre esteve ali, por mim, ao meu lado quando eu precisei. Ele tem razão, namorar é muito mais que o laço físico, beijar a boca de alguém não significa tanto assim.

Dou um passo em sua direção e seus olhos brilham.

— A gente precisa ir devagar. — Digo quando estamos próximos. 

— Sim, eu sei, você tem razão…

Ele mal termina de falar quando beijo sua boca. Nossos lábios se unem com força enquanto minhas mãos agarram forte seu corpo contra o meu. 

Nathaniel é delicado, e me beija com suavidade, seu toque não mais que um leve encostar se lábios mostra o quanto ele não quer me machucar. Enquanto meu beijo é forte, quase violento. Esmago meu lábio no seu e seguro forte em sua nuca o puxando para mim, eu sei que isso só mostra o quanto quero ele, insuportavelmente.

E ali no topo do Empire State, com minha boca colada na sua após negar seu pedido de namoro, é que entendo de uma vez por todas que estou completa e irremediavelmente apaixonada por Nathaniel.

Nos afastamos depois de um tempo longo para um beijo num lugar público como esse. Sorrio olhando seus olhos azuis e me afasto ligeiramente dele.

— Aurora… — Ele começa, mas sequer o ouço.

Me aproximo de uma turista que fotografa a vista e falo com ela em alto e bom som, no meu inglês britânico, Nathaniel segue de perto a situação, com uma expressão levemente decepcionada nos olhos.

— Moça, com licença. — Digo e ela apenas sorri em resposta. — Você poderia tirar uma foto minha com meu namorado por gentileza? 

— Claro. — Responde ela com seu inglês razoável. 

Nathaniel esta apenas olhando para mim conforme entrego o aparelho celular para a moça. 

— Caso sua ficha não tenha caído ainda, a resposta é sim, eu aceito namorar você. — Digo baixo.

Nathaniel me agarra pela cintura e me levanta, com o maior sorriso que já vi em sua face. A turista felizmente conseguiu capturar o momento exato e eternizou na imagem o sorriso genuíno de felicidade acompanhado da felicidade em nossos olhos e a vista do alto de Nova York ao fundo.

— Manda essa foto para mim por e-mail? — Nathaniel pede, mas eu o interrompo antes que ele possa sequer começar a dizer seu endereço de e-mail. 

— Vocês americanos precisam se atualizar, ficam nessa mania de tudo ser e-mail. Existem métodos de comunicação mais modernos, sabe? 

— Gosto do bom e velho e-mail. Um clássico. — Ele diz com uma risadinha. 

— Não importa, não vou passar a foto para você. Ela é minha.

— Você não pode fazer isso. — Nathaniel diz. 

— Não só posso, como vou.

Nathaniel começa a me cutucar com o dedo e eu caio na gargalhada, mas não mando a foto.

O momento é tão bom que eu nem percebo o movimento por trás de mim, ligeiramente afastado, conforme o homem com um casaco cinza se afasta cada vez mais.

A um e-mail de distância Where stories live. Discover now