Capítulo 30

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Nathaniel praticamente arranca o bilhete dos meus dedos, puxando-o para si quando vê minha reação, já imaginando o conteúdo no papel. Vejo sua mão amassar o papel levemente em seus dedos conforme ele lê as palavras ali escritas.

“Aurora, 
Te vi hoje. Você estava tão feliz. Não parece sentir mais minha falta, sequer pensou em mim nesse tempo que estivemos longe?
Porque pensei em você CADA MALDITO DIA ansioso pela sua volta, ansioso por te chamar de minha novamente. 
Não faz nem uma semana que te tive em meus braços. Você não pode imaginar o quanto me doeu te ver aos beijos com outro cara. 
Acaso sou assim tão substituível? 
Como pode fazer isso comigo?
Lucas.”

— Como ele entrou aqui? — Nathaniel me questiona, mesmo que saiba que sei tanto quanto ele. — E se você estivesse no quarto, Aurora? 

— Ele sabia que eu não estava. Ele nos viu juntos.

— Isso não alivia em nada as coisas, se ele nos viu juntos significa que ele estava te seguindo, nos vigiando. Esse cara é maluco, princesa, precisamos fazer alguma coisa.

— Vou ligar para ele.

— Aurora, pelo amor de Deus. O cara acabou de deixar um bilhete bizarro em sua cama e você ligará para ele?

— Nathaniel, é a minha vida, droga. Sou eu quem escolhe o que será feito dela. — Grito furiosa com toda essa situação.

— Ótimo. Viva sua vida como quiser Aurora, mas eu não vou estar aqui para te ver perecer. — Nathaniel responde, gritando ainda mais alto.

Não digo nada quando ele se vira, afastando de mim e se dirigindo até a porta. Que se abre antes que ele chegue até ela. Meu peito arde e fico sem ar até que percebo que se trata apenas de Mirella.

— Sei pazzo? Estão loucos? Dá para ouvir os gritos de vocês dois a quilômetros de distância. 

— Aurora está louca. Espero que você ponha algum juízo na cabeça dela. — Nathaniel diz e sai porta a fora. Me deixando ali, confusa e sozinha.

Lágrimas escorrem do meu rosto quando a porta se fecha atrás dele. Sei que ele não está errado, mas queria que confiasse em mim. Porque é tudo tão difícil entre a gente? Sinto falta de confiar plenamente em alguém, sinto falta de Conan. 

Pego meu celular e começo a escrever um e-mail para ele, mais um que fica na pasta de rascunhos, nunca enviados. A despedida de Collin faz com que nossa troca de e-mail não tenha mais sentido, não seria a mesma coisa independente do que ele diga. 

Ainda assim sinto falta da amizade, das trocas de mensagens tarde da noite, da confiança que depositei nele. Na perfeição que só existia do outro lado de uma tela qualquer.

Nesse momento já não sei mais porque estou chorando, se é por Nathaniel que simplesmente saiu de modo intempestivo, por Conan e nossa relação acabada ou por Lucas que não aceita que chegamos ao fim.

— Vamos, respire. — Mirella senta-se ao meu lado, suas mãos descrevem círculos em minhas costas enquanto ela tenta me acalmar. — O que aconteceu? 

Não respondo ela, não tenho forças. Apenas estendo o bilhete amassado em sua direção.  Mirella lê rápido o bilhete e seus olhos estão arregalados quando termina.

— Isso estava...

— Aqui. — Eu respondo. 

— Você quer dizer aqui, na faculdade? Ou aqui no nosso quarto?

— No quarto, em cima da cama.

— Ele entrou aqui? Esse cara maluco entrou no meu quarto? Você já verificou suas coisas?

— Verificar minhas coisas?

— Sim, para ter certeza de que ele não deixou alguma outra coisa e também que não levou nada. 

— Não pensei nisso. — Respondo sincera. 

— E no que pensou? Isso é algo sério Aurora. É perigoso, não só para você, mas para todos no campus. Esse tipo de pessoa pode se tornar perigoso.

Ao ouví-la falar me envergonho da minha decisão, parece idiotice nesse momento ligar para alguém como a pessoa que Mirella descreveu, mas, o que mais eu poderia fazer? Ele não é um monstro, ele é só o Lucas.

— Eu ia ligar para ele. — Confesso por fim e a ouço falar o que parece ser um palavrão em italiano. 

— É por isso que você e o Nathaniel brigaram?

— Sim. 

— Ele não concordou com sua atitude?

— Não. 

— Eu também não concordo Aurora. Acho que ele tem razão em querer te proteger. Você não parece entender a gravidade de tudo o que está havendo. — Mirella diz e me estende meu celular. Que estava na cama, perto dela. — Dito isso, ligue para ele. Você está errada, mas já é maior de idade, confio na sua decisão. 

Eu olho para ela com os olhos arregalados. Surpresa com suas palavras, com a facilidade de tudo o que ela diz.

Mirella segura forte minha mão enquanto eu disco os números. Ponho no viva-voz enquanto o telefone toca. Quando estou quase desistindo ele atende.

— Aurora?

— Lucas, como você ousa entrar no meu quarto e me deixar uma ameaça? Me seguir, violar meu espaço e meu corpo. Você não tem a porra do direito de cobrar nada de mim, não somos um casal, não voltarei para você. Não voltaria antes e agora menos ainda. Tem noção de tudo o que fez? Do medo que sinto desde que você me levou para a cama contra a minha vontade? Você é um merda e nunca deixará de sê-lo. Se chegar perto de mim de novo, eu juro que farei da droga da sua vida um inferno. — Digo e desligo a ligação, sem dar tempo de que ele responda algo.

Estou sem fôlego quando encerro a ligação, tremendo tanto que parece que terei um infarto a qualquer minuto. 

Puxo tanto ar quanto possível para dentro, enquanto tento me acalmar. Mirella não sai do meu lado nem mesmo por um segundo. 

— Você é realmente doida. Essa ligação, foi loucura. — Ela diz balançando a cabeça quando percebe que eu me acalmei. — Nunca mais faça isso, Aurora. Não levará a lugar nenhum, nem para ele e muito menos para você. Isso é dar murro em ponta de faca, é insistir em algo que vai te machucar cada vez mais. 

Não respondo nada, no fundo, estou ciente de que eles estão certos. 

— Vamos. — Mirella diz levantando-se depois de algum tempo em silêncio. Sua mão me puxa até que eu me levante.

— Para onde?

— Vou te levar até o Nathaniel, acho que vocês têm muito o que conversar. E eu vou para o quarto da Tracy. Essa noite, ninguém dorme aqui.

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