34- plano de fuga

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Gina Pellegrine

Ouvir as palavras de Saulo me fizeram refletir sobre mil coisas e uma delas era: será que eles realmente me amavam ou só tinham uma distorção de amor? Eles achavam que me machucar, me proibir, me punir, era amor, mas aquilo não parecia ser amor. Se amor era ter que ser machucada por eles, eu não queria ser amada.

Após sua declaração, eu pensei em perdoá-lo, mas pra quê? Pra ser espancada e xingada de novo? Não, eu não merecia aquilo. Eu os ignorei durante alguns dias, passei mais tempo com dona Eleonora que sempre ficava comigo para que eles não chegassem perto. Estávamos no jardim da casa deles, tomando café e conversando sobre a minha fuga. Eu não podia ficar ali pra sempre.

- Eles irão viajar essa noite para Paris, quando eles estiverem fora, iremos arrumar as malas e te levar até o aeroporto. De lá, você pega um avião para Marselha. Vou te mandar dinheiro nos primeiros meses, depois você terá que arranjar um trabalho e aprender a se sustentar.

- Tudo bem, mas e se eles me acharem?

- Meus filhos tem uma coisa em comum: o desejo de caçar. Se você fugir, eles vão atrás de você e você será a presa. Corra, corra o quanto puder, se esconda e se defenda ou quando eles te pegarem, irão te punir da pior forma.

- Dona Eleonora, eu estou com medo. Por favor, não me deixe.

- Gina, eu só posso lhe ajudar a fugir e depois disso encobrir tudo. Enquanto estiver em Marselha, irei cobrir seus rastros para eles demorarem a te encontrar. Você terá tempo de se esconder e ir pra outro país se quiser.

- Eu vou procurar algum lugar pra me dedicar á igreja, talvez eu conheça alguém que realmente me ame e aí podemos nos casar e ter filhos, ou talvez eu nunca deixe de gostar deles...

- Não, Gina. Você vai escapar, eu vou te ajudar. Eu prometo que nós iremos...

- Com licença. - a voz de Saulo interrompeu nossa conversa, fazendo com que meu corpo se arrepiasse. Eu virei o rosto para não olhá-lo, mas eu ainda sentia medo.

- O que você quer, Saulo?

- Vim falar com minha noiva.

- Estamos ocupadas agora.

- Mãe, por favor. Apenas alguns minutos.

- Se veio pra espancá-la de novo, eu sugiro que...

- Mãe, por favor!

- Uhh! Se precisar de mim, é só gritar, querida. Estarei ali na frente.

- Obrigada.

Ela saiu nos deixando sozinhos. Saulo puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado, mas eu me levantei da mesa e encostei na pilastra. Ele pareceu ficar decepcionado com minha atitude de afastamento, mas eu não conseguia ficar perto dele e não chorar.

- Você não fala conosco á dias. Nós sentimos muito a sua falta. Está muito machucada ainda?

Eu não respondi.

- Eu e meus irmãos iremos viajar á trabalho essa noite para Paris, voltaremos daqui á uma semana ou menos. Vou sentir sua falta, assim como sinto todas as vezes que me ignora.

Eu continuei em silêncio.

- Eu não sei mais o que fazer para me desculpar, amor. Eu só quero que você me perdoe e me ajude á ser o homem que você tanto merece.

- Você promete várias e várias vezes, mas todas elas você descumpre e me pune por isso. - eu disse com a garganta doendo.

- Eu me descontrolei.

- Você quase me matou! Quase me matou por puro ciúmes! Você me acusou de trair vocês, sendo que desde que me sequestraram, eu não falei com nenhum outro homem, só com vocês. Eu deixei que tocassem meu corpo e que me dessem o prazer carnal, em troca de respeito e fidelidade, mas só o que vi foi deslealdade e violência.

- Eu não queria matar você, mas meu sangue ferveu só de pensar naquele filho da puta tocando em você!

- Saulo, se você não confia em mim, então é melhor cancelar o casamento e escolher uma outra pessoa ao seu gosto, já que não sou o suficiente para vocês.

- Você é tudo pra gente, você é o nosso império, nossa rainha, nós te amamos como doentes!

- Nossa, amam sim! Olha aqui, o meu pescoço mostrou o tipo de amor que vocês sentem por mim! - eu disse sendo debochada.

- Gina, por favor...

- Olha só, boa viagem á vocês! Quem sabe vocês conheçam uma outra garota para ocupar o meu lugar de prisioneira!

Eu andei em direção oposta á ele, mas sua mão agarrou minha cintura por trás, me fazendo gemer de susto. Ele cheirou meu pescoço e o beijou, causando arrepios por todo o meu corpo. Eu comecei a me tremer e a trincar meus dentes de pavor só de sentir seu toque.

- Eu te amo, ragazza. Tudo em você me deixa louco, seu cheiro, sua boca, seus olhos... você nos deixa loucos por você, caralho.

- Saulo, me solte por favor. Eu lhe imploro.

- Meu amor, minha rainha, não me deixe...

- Saulo, para por favor, eu não consigo respirar. - eu disse sentindo meu coração acelerar e minha respiração ofegar. Minha respiração acelerou demais e eu me senti tonta.

- Gina?

- Me solte! - eu o empurrei para trás e saí correndo pelo jardim. Saulo veio atrás de mim, gritando meu nome enquanto eu corria desesperadamente. Senti a grama em meus pés, o vento em meu rosto e meu cabelo, a sede enquanto corria.

- Gina! Espera! Volta aqui!

- Socorro! Dona Eleonora! Me ajudem! Acudam!

Eu tentei correr mais rápido, mas eu fiquei muito tonta e caí na grama. Meus olhos pesaram, vi a sombra de Saulo em cima de mim e antes de desmaiar eu pude ouvir suas palavras.

- Fique comigo, amore mio. Per favore, io te amo!

𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑺𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝑵𝒐𝒔𝒔𝒂, 𝑺𝒐𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆 𝑵𝒐𝒔𝒔𝒂Where stories live. Discover now