1

15 0 0
                                    

WISCONSIN, UNIÃO DOS ESTADOS REMANESCENTES

POPULAÇÃO: 2. 738. 124... ESTIMATIVA NÃO CONFIRMADA

COLÔNIA 7

AS PESSOAS GRITAVAM E CHORAVAM, o desespero era notável, rostos marcados pela tristeza imposta pela morte. A destruição crescente e inevitável do que um dia foi nosso lar. Começaram a minar nossa população de forma discreta e impiedosa. Pragas desenvolvidas em laboratórios, armas biológicas lançadas sobre nós de modo sorrateiro.

Muitos caíram doentes e começaram a definhar rapidamente, sucumbindo aos efeitos fatais dos vírus enviados para nos aniquilar, nos usar como peças do jogo de intimidação deles.

Nossas mortes serviriam como recado da Nova Tríplice ao nosso governo e como medida de autopreservação quando destruíssem a fortaleza localizada em nosso estado. Por tempos foi assim. Dolorosas e frequentes demonstrações de poder e domínio sobre a arte da guerra marcaram nossas vidas de forma cruel e aquela noite foi o ápice.

Jamais me esqueci das coisas que vislumbrei durante o derradeiro ataque à nossa colônia.

Da forma como minha vizinha, Josephine, se esforçava para carregar seu marido, Stanley, que teve a perna direita instantaneamente decepada por uma bomba que atingiu a casa deles. De Anthony, o gentil dono da mercearia, correndo desesperado com o corpo totalmente envolto em chamas. Da maneira como uma jovem mulher chorava sobre o corpo de seu marido morto pisoteado pela multidão atormentada. Do corpo de um garotinho que jazia em praça pública proporcionando a sensação arrebatadora que lhe invade a ver alguém morrer precocemente. De cada um de nossos prédios sendo reduzido a pilhas de escombros inabitáveis. Do modo como, naquela noite fatídica, fomos forçados a deixar o lugar onde construímos nossas vidas.

♦♦♦

O tumulto na estação era atenuante. A tensão das pessoas parecia se transferir para a atmosfera do local. O odor era intragável. Uma desagradável mescla de sangue, suor e fuligem adentrava minhas narinas e descia pela minha garganta me fazendo sufocar com o cheiro incômodo. As vozes alteradas unidas aos choros agudos e às lamúrias constantes penetravam meus ouvidos de modo que eu podia sentir meus tímpanos pulsando.

A situação era uma tortura, agredia a todos os sentidos do corpo.

Sentia meu corpo pesar como se cada centímetro dos meus ossos fosse feito de chumbo. Estava prestes a desabar sobre o chão imundo quando deram início à evacuação.

Seguindo a ética, mulheres e crianças, de até doze anos, foram acomodadas primeiro.

Pelas vidraças da estação podia-se ver o céu levemente tingido pela cor laranja proveniente do fogo resultante das explosões que corroeram tudo aquilo que podíamos chamar de nosso.

Os primeiros vagões foram rapidamente preenchidos. Os rostos de crianças nas janelas do trem, o terror visível em cada olhar que atravessava o vidro, tudo contribuía para a demonstração da desgraça que nos acometeu.

Quando se certificaram de que todas as mulheres e crianças estavam a bordo, o trem lotado partiu e alguns minutos depois, outro vazio estava em seu lugar.

A preferência foi dada aos homens idosos que subiram a bordo primeiro. Então a ordem decrescente das idades seguiu adiante até que chegasse aos jovens na faixa etária dos quinze anos, então subi no trem.

Bastou entrar no vagão e encontrar um assento desocupado para que eu desmoronasse sobre ele e caísse em um sono profundo.

♦♦♦

C.H.A.O.S.Where stories live. Discover now