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SE ALGUÉM ME PERGUNTASSE SE eu estava nervoso por causa da demonstração de habilidades no início da semana, a resposta seria um sonoro e concreto não. Mas se me perguntarem agora, a resposta será completamente diferente.

Minhas mãos estão suando, coisa que nunca tinha acontecido antes, meu corpo está quente e, embora não aparente, estou tremendo, como se meus nervos vibrassem simultaneamente. Mas não posso me permitir a isso. Sucumbir às minhas reações físicas desagradáveis é um luxo do qual não posso dispor no momento.

Eu vou manter a calma.

Minha demonstração está marcada para o turno vespertino. Cinco demonstrações depois de Brock e duas antes de Ariana.

Graças a essa feliz coincidência, aproveitamos a manhã para treinar um pouco mais.

Acordamos cedo essa manhã e nos encontramos na fonte da praça. Viemos para o centro da guarda e, por sorte, encontramos todos os galpões vazios visto que muitos farão a demonstração pela manhã e os que também estão marcados para a tarde optaram por descansar.

Meus dedos entram em contato com a superfície metálica e gelada do revólver enquanto ouço os disparos efetuados por Brock ecoarem no galpão. Me direciono a um alvo separado por três marcas do que ele está alvejando. Ariana se aproxima de mim colocando balas no tambor de sua arma. Ao terminar, ela guarda o revólver no coldre preso ao seu quadril acentuado e se aproxima ainda mais.

O toque suave de Ariana é mais do que suficiente para me fazer gelar por dentro, sinto um calafrio percorrer minha espinha enquanto ela conserta minha postura diante do alvo.

— Tente não mover seu braço, Duke. — adverte ela olhando o alvo enquanto posiciona meu braço. — Mantenha-o rígido. Dessa forma, ele permanecerá indiferente em relação ao impulso do disparo.

Enrijeço os músculos do braço, sinto como se fosse feito de pedra.

— Não exagere. — diz ela, esboçando um sorriso. — Apenas segure firme, mas relaxe. Esqueça a pressão que sente por segurar a arma.

Assinto. Relaxo os músculos e sinto como se minha postura fosse moldada apenas para esse momento. Miro no alvo e puxo gatilho até perceber que não há mais balas.

Olho para o alvo e vejo que todos os disparos atingiram o centro.

— Nada mal, Hawkins. — diz ela sorrindo novamente. Devolvo o sorriso.

♦♦♦

Apesar de todos os detalhes do centro de seleções terem sido projetados para fornecer conforto aos recrutas da demonstração, eles são inúteis agora. A tensão está presente em cada um dos que ainda aguardam na sala de espera. É inconveniente, mas verossimilhante. Fomos treinados para lidar com situações tensas. Calma e conforto não são sensações costumeiras em situações extremas. Saber lidar com nossas emoções e dominá-las para que não interfiram em nossas ações é a última etapa do treinamento.

Espero, profundamente, que eu seja capaz de cumpri-la.

Um homem de meia idade, cabelo cortado baixo e expressões rigorosas abre a porta da sala e faz sinal para que um garoto sentado de frente para mim, tentando controlar o tremor das mãos, entre na sala de demonstrações.

Brock olha para mim com as sobrancelhas erguidas.

— Nervoso? — pergunta ele sem emitir o som da palavra.

— Ligeiramente. — respondo, também sem emitir sons. Ele sorri e eu também.

Ariana está sentada do outro lado da sala. Ela e outra garota conversam de forma descontraída. Admiro a maneira como ela não se deixa abater por nada. Não sei se consigo ser assim. Talvez um dia. Afinal, nem todos nascem com a grandeza, alguns a conquistam.

C.H.A.O.S.Where stories live. Discover now