C.H.A.O.S.

11

O AUTOMÓVEL PRESIDENCIAL É MUITO maior do que eu poderia imaginar. Desde que começamos a servir na guarda presidencial, essa é a primeira vez em que escoltamos a Presidente fora dos muros da mansão.

    Ela se encontra entre mim e Will no assento do fundo, no banco disposto junto à lateral esquerda do carro estão Brock, Ariana e o General Bernstein e ainda há espaço para mais pessoas. Lembro de ter lido sobre esse tipo de veículo. Nos tempos antigos, eram usados por pessoas com grande poder aquisitivo. Os chamavam de limusine. Atualmente, só os Presidentes fazem uso de automóveis desse porte. Pessoas com boas condições financeiras podem possuir versões menores, menos espaçosas. Toda a superfície externa é revestida por painéis solares espelhados, a luz alimenta o motor e o carro reflete o sol brilhando enquanto parece deslizar pelas ruas da cidade.

    Já fazem alguns minutos que o General Bernstein está engajado em uma conversa através do comunicador preso à sua orelha. A julgar pela atenção que ele dedica ao assunto, trata-se de algo sério.

    Depois de alguns instantes, ele desliga o aparelho e se volta para nós e diz:

    — Senhores, estava falando com o Tenente Fischer. Ele acaba de me informar que a Nova Tríplice se infiltrou em nosso sistema de telecomunicações. Estão tendo acesso às nossas transmissões televisivas.

    — A troco de quê fariam isso? — pergunta Brock, pensativo.

    — Para assistir às novelas é que não seria. — solta Ariana.

    A Presidente Connely sorri.

    — Querem acesso às transmissões para ficarem a par de nossos anúncios para o povo, para ver o que transmitimos nos noticiários — afirma ela, convicta. — , mas gostei da resposta, soldado Dawson. O senhor tem uma amiga bastante impetuosa aqui, soldado Fraser. — fala a Presidente a Brock.

    — Sim, Vossa Excelência, concordo plenamente. — afirma Brock. — Mas toda essa abundância de ímpeto é apenas para compensar a falta de sutileza. — rebate.

    Ariana lança um olhar irado para ele, mas antes que possa dar uma resposta à altura, chegamos ao nosso destino.

    O prédio da sede do governo reluz o sol da manhã em cada centímetro de uma estrutura imponente. A Presidente tem uma reunião com o conselho governamental e o comitê de guerra para debater os próximos passos a serem dados nesse confronto.

    Adentramos o saguão luxuoso com piso de mármore e espessas colunas negras. Seguimos o General Bernstein através do vasto recinto. A Presidente Connely alterna os cumprimentos entre acenos de cabeça e sorrisos acolhedores aos presentes no hall de entrada. Vestida em um terninho azul coral, ela passa uma imagem imponente, mas sem perder a sensibilidade.

    Alcançamos um elevador dourado, o espaço dele é suficientemente grande para fazer um tanque onde uma baleia e um hipopótamo poderiam brincar juntos. Isto é,se ainda víssemos esses animais com facilidade. Durante a Era de Crise, quando a fome se fez presente, a carne bovina, suína e aviária ganharam preços inacessíveis aos menos favorecidos, então a carne de qualquer outro animal passou a ser consumida. E lá se foram os animais.

    O General Bernstein aperta um botão equivalente ao centésimo décimo sexto andar, um dos últimos da estrutura. Ficamos em silêncio durante todo o trajeto de subida. Olho para Will e, com um movimento de cabeça, ele indica Ariana que ainda lança um olhar irritado para Brock. Will e eu sorrimos. Alguns segundos depois, as portas do elevador se abrem, dando acesso a um extenso corredor. Uma mulher de pele clara e curtos cabelos negros espera pela Presidente no corredor.