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CONSIGO ATÉ OUVIR O BARULHO dos ponteiros se movendo, desde que me deitei só faço rolar de um lado para o outro entre os lençóis, atra'ves das cortinas posso ver as luzes da cidade se apagando aos poucos conforme a hora avança. Não demora muito até que as luzes do quarto também se apaguem e eu fique imerso em uma escuridão vasta quebrada apenas pela luz pálida que entra pela vidraça do quarto.

Gastei as últimas horas tentando supor o que a Presidente Connely quer falar comigo. Acabei frustrado. Por mais que eu tente, não consigo elaborar nenhuma hipótese coerente.

Nunca torci tanto para que o tempo passasse rápido como estou torcendo agora.

Vez ou outra, o cansaço me vence e eu cochilo, mas acordo logo em seguida só para ver que poucos minutos se passaram.

Nos primeiros raios de sol da manhã, pulo pra fora da cama e entro no banheiro. Tomo um banho rápido e visto o uniforme de forma impecável. Passo meia hora polindo as fileiras de botões dourados. Saio do quarto e me dirijo à sala.

Eu tomaria café, mas estou sem apetite, então ligo o monitor e vejo as transmissões matinais, me sento no sofá. Em destaque estão as imagens do baile da noite passada. As nomeações, as danças, as pessoas importantes presentes no evento. Lembro de como assistia a esse programa com meus pais e imaginava que um dia estaria sendo nomeado. Agora eu estou aqui e não os tenho mais para comemorar essa conquista comigo. Isso tira parte do sentido de tudo pois a reação deles era meu maior estímulo. Achei que depois que fosse nomeado, a sensação passaria porque seria tomado por uma sensação de dever cumprido, de que eu cheguei onde nós três sempre sonhamos, mas isso parece ter aumentado minha saudade. Cada conquista, cada etapa vencida amplia a sensação. Acho que preciso aprender a conviver com a ausência deles. Não há meio termo, nem formas de ludibriar a morte. Devo aceitar a perda dos meus pais.

Esse desafio pode ser o maior que já enfrentei até agora.

♦♦♦

Chego à mansão presidencial com antecedência e espero algum tempo até que minha audiência com a Presidente Connely comece. Estou bastante ansioso, então busco me distrair. Observo a sala. Longas janelas se estendem do chão até bem próximo do teto, estão vetadas por cortinas de seda azul. Uma longa mesa de mogno está posicionada diante de mim. Poltronas com estofamento vermelho e estruturas douradas estão dispostas em um canto da sala. Um quadro com a imagem da Presidente foi pendurado na parede oposta à que está localizada a porta de entrada. Um lustre de cristal pende do teto bem no centro da sala. O piso é inteiramente revestido por um tapete que copia os padrões persas. O primeiro presidente da União dos Estados Remanescentes era um grande apreciador da decoração usada nos tempos anteriores à decadência da humanidade, então ele ordenava que todo o material, que servisse de base para refazer iguarias como esse tapete, fosse reunido e peças de decorações semelhantes à antiga pudessem ser feitas. Ele sempre foi lembrado como um homem de bom gosto. Desde sua casa até as roupas que usava. É mencionado sempre que transmitem um programa mostrando a linha do tempo presidencial, um programa que é apresentado sempre que um novo presidente é eleito. Obviamente, todos são homenageados, inclusive o General Willis, embora ele não seja digno nem de que pronunciem seu nome.

A Presidente Connely entra na sala seguida por seu chefe de gabinete, sua secretária, dois guardas e mais três pessoas que não faço a menor ideia de quem são. Ao me ver, ela abre um sorriso que vem antecipado pelos olhar. Normalmente retribuiria, mas estou aqui na condição de soldado, pelo menos é isso que penso, então permaneço com uma expressão neutra.

— Dispensados. Terei uma audiência com o Sr. Hawkins agora. — diz a Presidente à caravana que a acompanha.

Os subordinados obedecem e saem um por um da sala até que sobrem apenas nós e os guardas.

C.H.A.O.S.Where stories live. Discover now