Uma Gota de Veneno Serpenteia pela Pele (5 de 5)

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Ciméria - Antiguidade

VI – Euríale e Esteno

Perseu havia chegado. Vinha cumprir com a missão de todo herói: matar um monstro. Matar aquele monstro. Livrar a terra daquele mal. Muitas pessoas já haviam morrido, muitas eram vítimas cujas carnes viraram pedra ao se depararem com Medusa e verem o próprio reflexo nos olhos dela.

O Herói andava por entre as estátuas, contudo, não tinha o que temer, pois carregava consigo a proteção dos Deuses. Com os sapatos alados de Hermes, embora folgados em seus pés, iria para onde quisesse tão rápido e silencioso como quem furta. O escudo espelhado de Atenas o defenderia de um exército se fosse o caso. E o elmo de Hades lhe ocultaria da luz dos olhos de qualquer inimigo. Nada ficaria em seu caminho.

Ao longe, às sombras das pilastras, duas mulheres o observavam. Os véus que lhes cobriam os olhos misturavam-se ao tecido leve das túnicas a descer até os tornozelos. Eram duas figuras gregas, duas Górgonas.

— Será que ela consegue matar este herói? — perguntou Esteno.

— Não sei... Talvez... — A irmã respondeu.

***

Elas ouviram Medusa chamar. Ouviram a espada e algo cair no chão. Mas, quando as duas chegaram: a irmã já estava morta. Entraram com arcos e flechas. As cordas tencionadas, as lágrimas escorrendo. Atiraram. Perseu protegeu-se com o escudo.

A missão dele dizia respeito apenas a matar Medusa, não precisaria lutar com as outras duas Górgonas, principalmente porque elas ainda eram imortais. Com isso em mente, Perseu embainhou a espada, pegou a cabeça do monstro para levar de troféu, e ajeitou na sua própria o elmo do Senhor do Submundo. A escuridão envolveu o Herói à medida que a luz foi subjugada ao seu redor.

Invisível, Perseu foi embora, enquanto Euríale e Esteno atiravam no vazio. Flecha após flecha até não sobrar mais nada.



Brasil, primeira metade do século XXI

VII – Themis

As irmãs estavam em uma das tendas fincadas nas areias da praia. O escudo de Atenas em suas mãos.

— Oh, Themis... nos ouça mais uma última vez. — Rogou Esteno.

As duas estavam a sós. Aguardando. O sol escorria pelo céu, sua luz minguava com as horas. Esperavam. Elas estavam sentadas no chão de frente para uma cadeira vazia. Cabeças baixas. Ansiavam.

Então, a Titânide surgiu. Sentou-se na cadeira vazia. Themis estava sem espada, sem balança. Os ouvidos tampados por fones. Os olhos vendados pela realidade virtual projetada de seus óculos. Majestosa. As mãos a deslizar no ar, a mexer com o que só Ela via. Quando terminou de folhear o processo perguntou:

— Sim, e o que é que vocês querem, mesmo?

— Nós finalmente encontramos a cabeça de nossa irmã. — Falou Euríale, erguendo o crânio de Medusa fundido ao escudo como se oferecesse uma cabeça decapitada em uma bandeja de prata.

— Vossa Excelência pediu para a encontrarmos. — Esteno pegou a palavra.

— Ã-hã.

— Pedimos por justiça!

— Por uma punição — Euríale completou —contra aqueles que tanto mal fizeram à Medusa... e a nós.

— Não. — Themis foi incisiva. — Indefiro.

Carne Morta e Outros Contos Folklóricos de Dark FantasyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora