Ascensão [4/7]

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Uma longa viagem começa com um único passo. - Lao-Tsé 

Capítulo 4 

Uma das noites os rapazes da empresa resolveram sair e me chamar, bateram no meu ombro e falaram que eu precisava relaxar e me divertir,um deles queria comemorar e não parava de mencionar que estava tudo pronto para fazer uma viagem de férias que planejou por anos, e o destino era Austrália, e me levaram junto com eles. Fomos a uma boate, mulheres nuas dançavam sobre as mesas, havia promiscuidade, bebidas e dinheiro.

Tudo o que​ um dia aprendi sobre o que​ era errado estava à minha frente. Sensações diferentes ao beber, o cheiro de álcool , corpos dançantes na minha frente, uma sede passava a me consumir, uma sede de provar aquilo, mas acabar também​, me aproveitar e jogar fora, pois era impuro, algo repulsivo a sociedade.
Saí de lá após beber e me enojar de tudo e todos, a visão estava meio turva entrei em uma rua, um beco pouco iluminado, era madrugada, um velho dormia lá ao chão.

Era um morador de rua, olhei aquilo por uns minutos, era alguém esquecido e abandonado, a escória da sociedade, um lixo urbano, aquilo não faria diferença nenhuma desaparecendo, ninguém daria falta se sumisse, senti o desejo de limpar minha alma, lavar minhas mãos e saciar meus desejos.

Não tive muito trabalho ao pisar em sua garganta e apertar, nem sequer ouve gritos, leves gemidos soaram, ele não tinha o que fazer, em minha mente a visão dos meus pesadelos quando não podia fazer nada e o mal vinha sobre mim. Mas agora eu apenas compartilhava minha dor, me saciava, desferi chutes e bicos naquele rosto, manchei meu sapato daquele sangue sujo, ao afunda-lo em seu rosto e me retirei antes que alguém visse.

No dia seguinte apreensivo de ter algo sobre o que​ fiz, liguei a Tv no noticiário e para meu espanto, a notícia do morador de rua encontrado morto possivelmente em uma briga, havia sido ofuscada por outras notícias, como a morte de vários trabalhadores em uma ponte que estava em construção e uma polêmica matéria em que uma grande família influente denunciava a negligência de um hospital em uma cirurgia de coração que acarretou na morte de um político. Vendo que a mídia pouco dava importância para os desfavorecidos, a impunidade passou a andar lado a lado comigo.

Será que​ o desejo voltaria?

Teria de escolher quem jamais faria diferença ou falta nesse mundo. Via nas ruas prostitutas, mendigos, imigrantes, mochileiros. Desde o primeiro momento de poder e soberania ao matar passei a ouvir latidos e vozes, cheguei a sonhar que​ bebia sangue.

O que​ me fazia sentir mais ódio era que o fantasma de Hoffman ainda me assombrava, uma voz me dizia que​ ele tinha que deixar a terra, ele fazia parte da escória da sociedade e que eu devia fazer essa limpeza, matando-o. Vingando suas vitimas "o comedor de meninos " - Sua voz veio meus ouvidos em um sussurro: "Que esta noite seja inesquecível" , e um ardor me subiu a cabeça. Meu sangue fervia chegava a tremer, eu precisava, tinha que fazer isso.

Igreja

Eram 3:00 da madrugada não conseguia dormir com aquilo corroendo minha mente. Quando o sol nasceu fui até a Igreja onde passei passei minha infância e conheci o criador do meu ódio. Diante dela relembrei tudo , o cão me atacando a algumas quadras dali, meu desmaio e aquele senhor me socorrendo, meus dias de alegria e desilusão. Ao chegar em frente a igreja me sentei em um banco e aguardei.

Uma voz cochicha em minha cabeça: - Paciência, "depois da morte vem a calmaria..."

Um calafrio me dominou ao ver um senhor grisalho chegando a Igreja, meus pelos se arrepiaram, fui em direção a ele chegando por trás, toquei em seu ombro, ao se virar me espantei. Não era ele. Dei bom dia ao Padre e me retirei, ele sorriu mansamente.

Durante 15 dias eu estive ali pela parte da manhã esperando, ate que em uma manhã ensolarada chega um senhor obeso e calvo. De longe sinto repulsa, ao passar uma mãe com um garoto ele se vira cumprimenta a mãe e olha para o garoto com malícia. Na hora me veio uma tontura ao ver aquele rosto, redondo. Era Hoffman em carne, ossos e banha.

Ele seria meu.

Shadow  - Tríade SombriaWhere stories live. Discover now