Lobos

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Um vulto enorme saiu da floresta, correndo na direção dela. Robert disparou a flecha e ele caiu, rolando e soltando um ganido, ferido no peito. Marion alcançou a árvore e fez como ele havia mandado, escalando-a velozmente. Ele armou o arco novamente e tentou segui-la, entretanto, três sombras colocaram-se em seu caminho.

Os lobos eram enormes. E pareciam estar com fome, muita fome! Os três arreganharam a boca ao mesmo tempo e emitiram um rugido feroz, os olhos brilhando com uma luz avermelhada.

Ele deu alguns passos para trás, lentamente, sem desviar sua atenção deles e esticou a corda do arco com toda sua força.

Subitamente, um deles saltou para frente, atacando-o com um rosnado terrível. Ele disparou a flecha e acertou-o no peito. O animal caiu. Porém, os dois outros avançaram e pularam em cima dele antes que pudesse pegar outra flecha. Ele deixou o arco cair e protegeu seu pescoço com o braço esquerdo, enquanto com a mão direita pegava sua faca, presa ao cinto. Um dos lobos derrubou-o, mordendo seu braço e o outro foi em direção à sua perna, cravando os dentes nela. Dentes faiscaram perigosamente próximos ao seu rosto e ele soltou um berro enquanto enfiava a faca no pescoço do animal, sentindo o cheiro ácido que vinha do pelo espesso. O lobo ganiu, arranhando fundo seu peito com unhas afiadas e afastou-se, a faca encravada ainda entre os pelos. 

O outro animal soltou a sua perna e atacou sua garganta. Ele rolou para o lado tentando fugir, mas não foi rápido o bastante e sentiu uma mordida forte rasgar profundamente seu ombro esquerdo. Gritou de dor e de raiva, acompanhado pelos rosnados do lobo. Sua mão encontrou uma pedra e ele a usou para bater no focinho da fera com toda sua força. Golpeou-o novamente, desesperado, desta vez entre os olhos. E mais uma vez na cabeça. O corpo cinzento finalmente desabou, prendendo-o ao chão.

Ele arrastou-se debaixo dele, empurrando-o com dificuldade e fez um esforço enorme para erguer-se. Sangrava abundantemente nos locais onde fora mordido, mas não sentia dor. O mundo ao redor começava a ficar meio indistinto e borrado como se estivesse em meio a um pesadelo. Passou a mão no rosto, limpando o suor que caía nos olhos.

O lobo que golpeara com a faca ainda estava vivo e ele podia ver sua arma encravada no pescoço dele. O animal o rodeava, rosnando e ensaiando outro ataque, os olhos furiosos faiscando com um brilho selvagem. Sangue pingava da boca dele. O meu sangue provavelmente...

Ouviu Marion chamá-lo de cima da árvore com voz aflita. Preciso matar aquele lobo! Se não sobreviver, o que acontecerá com ela? Não sentira medo em momento algum, contudo este pensamento fez com que ele surgisse de repente, invadindo-o de assalto.

— Fique aí! — ele conseguiu berrar, o coração disparando loucamente de pavor.

O animal atacou ao ouvi-lo. Foi em direção ao seu pescoço e, mais uma vez, ele protegeu-se com o braço. Caíram no chão, engalfinhados, e dentes envolveram seu punho. Rugiu junto com o lobo, enfurecido como ele, enquanto alcançava a faca presa entre os pelos do pescoço e tentava enterrá-la mais fundo, o instinto de sobrevivência mais forte do que o terror que sentia. Ficaram paralisados nesta posição, seu rosto muito próximo ao focinho ensanguentado.

E então, o tempo se distendeu e parou...

Os olhos do lobo eram cinzas e faiscavam com fúria incontrolável. Ele se perdeu dentro deles, fascinado, afogando-se no olhar selvagem. Seu medo desapareceu, substituído por uma calma intensa. A alma da fera se enfraquecia lentamente e ele podia percebê-la como parte da sua. Ele era um lobo... Ele caçava na floresta, correndo pelas sombras com sua família e uivando nas noites de lua cheia... As estrelas brilhavam com mais luz e não eram mais indiferentes, as árvores balançavam seus galhos, murmurando sobre segredos escondidos. O sangue em sua boca era delicioso...

Sobre Amor e Lobos vol.1  VERSÃO WATTPADOnde as histórias ganham vida. Descobre agora