No Mosteiro

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O mosteiro de Ball era uma construção antiga, feita de pedras e madeira, protegido por uma muralha alta. Um rio raso e largo cruzava o campo ao lado dele e fazia uma curva acentuada antes de penetrar na floresta que circundava a região de Locksley. Pastagens de ovelhas ao redor, um pomar e uma horta abasteciam o local. A estrada que passava próxima não era muito movimentada, mas eventualmente algum viajante necessitava de repouso, então os monges haviam erguido uma pequena hospedaria dentro da propriedade.

O sol já se pusera no horizonte quando Robert chegou à entrada. Respirou fundo, quase morto de cansaço, enquanto batia no portão de madeira.

A batida ressoou e um monge abriu-lhe o portão.

Sir Robert? O que houve? — o monge perguntou, observando suas roupas, ou melhor, a falta delas, com um ar assombrado.

— Por favor, avise padre Ralph de que estou aqui — ele pediu, ignorando a pergunta, e entrando para o pátio interno.

 Seguiu pelo pátio de terra em direção à ala principal, sentando-se na mureta de pedra ao lado da entrada com um ar cabisbaixo e extenuado.

Depois de uns instantes, Padre Ralph, apareceu na porta. Era um homem alto com os cabelos brancos que começavam a rarear nas têmporas; o rosto marcado por vincos profundos ao redor da boca e dos olhos. Antes de tornar-se monge, fora um cavaleiro, participara das Cruzadas e passara muitos anos peregrinando pelo Oriente. Quando voltara à Inglaterra trouxera consigo uma grande quantidade de livros que adquirira ao longo dos anos. Enfim, resolvendo que já tivera aventuras suficientes, fizera seus votos religiosos e internara-se no mosteiro, passando a dedicar-se à sua verdadeira paixão, os livros.

— O que houve? — perguntou com a testa franzida, também estranhando o fato de Robert vestir apenas a calça e a camisa de baixo ao invés de suas túnicas bonitas e caras. — Foi assaltado no caminho? E onde está seu cavalo?

Os músculos dele tremiam de exaustão e sua perna ferida latejava de dor. Ele balançou a cabeça em negativa e não conseguiu responder; um nó de angústia fechava sua garganta e cortava suas palavras. Massageou as têmporas e apoiou a cabeça nos joelhos dobrados, cruzando as mãos sobre a nuca com um suspiro.

—Não foi assaltado... — um rapaz loiro, bonito e de olhos extremamente azuis adiantou-se, — Você está bem? — perguntou com o cenho franzido e um olhar preocupado, colocando a mão no ombro dele.

Robert se aprumou ao vê-lo. Jack era seu melhor amigo e fazia-lhe companhia em suas visitas constantes ao mosteiro. Um órfão que morava ali desde pequeno, embora ainda não tivesse feito seus votos religiosos.

— Não! Sinto-me como se a Roda da Fortuna tivesse girado sobre minha cabeça! — ele reclamou com uma careta de dor e um ar triste no rosto. — Hoje de manhã... Meu coração estava cheio de cólera e acabei falando palavras iradas ao meu pai. E ele me jogou escada abaixo, expulsando-me do castelo como se eu fosse um cachorro... — explicou com voz amarga.

— Não deve se culpar, em tempos de paixão, cólera e vingança perdemos o freio de nossas bocas e falamos o que vai em nosso coração —Jack comentou, tentando consolá-lo.

O padre adiantou-se.

—Não havia lhe avisado que deve pensar antes de falar algo? Tem que aprender a controlar seu seu tempestuoso lado francês! — falou, alertando Jack com um olhar de que não deveria tentar desculpar o amigo.

Alguns monges tinham se acercado e procuravam acompanhar a conversa. Um deles pigarreou e intrometeu-se:

— Parece que não é a primeira vez que os senhores discutem... ouvimos falar que...

Sobre Amor e Lobos vol.1  VERSÃO WATTPADOnde as histórias ganham vida. Descobre agora