Amor e Ódio

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Ela voltou-se e o encarou com olhos brilhantes de desejo. Por um instante, ele acreditou que ela ficaria... mas então, não mais... Seu coração afundou-se em desespero quando a viu dar meia volta e os seguir com passos apressados. 

 O amor era como um jogo... E no jogo deles não havia chance de saírem vitoriosos.



Padre Ralph apareceu na porta da biblioteca e viu que Robert andava de um lado para o outro da sala com a fisionomia transtornada.

— Por que você não as acompanhou de volta a Locksley? — perguntou, percebendo o nervosismo dele.

Ele deu um olhar angustiado em resposta e continuou a andar em volta da sala como um animal enjaulado.

O padre finalmente entrou e apontou uma cadeira, — Sente-se! Pare de andar assim, está me deixando nervoso! — pediu.

Ele sentou-se, apoiou os cotovelos na mesa à frente e cobriu o rosto com as mãos.

— Bom, quando quiser me contar o que está havendo... — continuou o padre, sentando-se ao lado dele.

— Preciso ficar longe dela! — Robert murmurou com o rosto voltado para baixo, lutando para segurar as lágrimas.

— Longe de Marion? Você tem certeza que a ama?

— Se amor for uma dor que arde como se minha alma queimasse no inferno — ele admitiu, a voz deixando transparecer sua frustração. — Não sei... acho que a odeio. Isto não é amor!

O padre sorriu com compaixão.

— Como uma chama que queima e a transforma em cinzas? Um querer algo que nunca se alcança?

— Sim... — ele sussurrou.

— Então, talvez você a ame de verdade — Padre Ralph falou e balançou a cabeça com ar penalizado. Em seguida, suspirou e tentou consolá-lo, — Você sabe que este casamento trará mais terras e poder para sua família e para o conde William... E que acabará com as pretensões do irmão dele ao condado.

—E William precisa de mais terras? Ele já não tem o suficiente? E se morasse em seu próprio castelo não estaria correndo o risco de perder o condado. E o que ele faz em Locksley afinal? — Robert falou em tom indignado, atropelando as perguntas; ergueu-se e passou a andar pela sala de novo.

— Sua família também ganhará mais terras... — o padre relembrou-o, fazendo um sinal para que ele se sentasse.

Robert jogou-se na cadeira.

— Terras! Terras! É só isso que importa? — ele exclamou com um ar furioso.

— Assim são os seres humanos, ambiciosos e insaciáveis... — o padre pensou, entretanto não disse isso em voz alta; seu aluno ainda era muito jovem e inexperiente e não devia fazê-lo desacreditar dos homens tão cedo.

— Pedi que ela desistisse do casamento e ficasse comigo — Robert confessou e lágrimas escorreram pelo seu rosto sem que ele tivesse ânimo para escondê-las. 

— O cancelamento do noivado seria uma desculpa perfeita para os Hastings se unirem a Andrew em troca de uma parte do condado de Fitzbur. Poderia haver guerra e juntos eles teriam um exército maior — o padre explicou com paciência o que o rapaz provavelmente já sabia. Em seguida, perguntou com receio, — O que Marion respondeu?

— Que... que não desistiria, é claro! Ela conhece os riscos tão bem quanto eu.

Ele afundou o rosto nos braços e debruçou-se na mesa, soluçando em desespero, sabendo que não haveria outra solução além de afastar-se.

O padre suspirou aliviado, embora sentisse um pouco de pena pela aflição dele. Ele era orgulhoso e impaciente como todo jovem, porém tinha a alma mais intensa e tempestuosa do que a maioria deles. E estar apaixonado era uma benção e uma maldição ao mesmo tempo!

— Robert, acalme-se! Confie que Deus age sempre da melhor maneira possível. Mesmo que não possamos entendê-lo no momento, devemos aceitar com gratidão tudo que nos acontece. Nossos destinos estão nas mãos dele! — acabou falando.

— Não, padre! Eu faço meu destino! Não era o que Cirino dizia? Ele e todos aqueles heróis gregos? — ele o desafiou, levantando os olhos e encarando-o entre as lágrimas. Nunca sentira tanta falta de seu antigo mestre como agora. Provavelmente os conselhos dele seriam bem melhores do que os do padre!

—Não! Isto é apenas uma ilusão. Apenas tenha fé e um caminho se abrirá no devido tempo. Quando começar a levar a sério os sinais que Ele lhe manda, modelará sua vida confiando em Sua indicação. Basta ter calma!

Robert endireitou o corpo, respirou fundo e limpou o rosto com um gesto brusco da mão.

— Fé, aceitação e espera! Isto é para vocês, monges! — exclamou inconformado, — Eu me sinto como se um bando de demônios brincasse com minha alma e uivassem junto com os lobos que matei. Não posso ficar parado... esperando!

Padre Ralph sorriu compreensivo, sem incomodar-se com a provocação dele. Afinal também já fora jovem e orgulhoso como Robert. Entretanto, a vida lhe ensinara com o tempo. Na verdade, o tempo é o melhor dos mestres..., refletiu.

— O que Cirino me falaria? — Robert perguntou angustiado.

— Bom... — o padre disse com a voz calma, refletindo.

Abriu um dos livros à frente deles.

— Acho que ele diria, "então não vamos ficar parados, ainda temos muito que estudar!" E citaria Santo Agostinho, "Compreenda para crer e creia para compreender".

Sobre Amor e Lobos vol.1  VERSÃO WATTPADOnde as histórias ganham vida. Descobre agora