Amigos

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Robert acordou e sentou-se na cama, olhando para os lados e tentando lembrar-se de onde estava.

O quarto era simples e pequeno, a cama estreita tinha ao lado uma pequena mesa de madeira e, sobre ela, uma vela e uma garrafa de cerâmica com água.

Suspirou aliviado ao perceber que estava no mosteiro e que a luz do sol penetrava pelas frestas da janela de madeira. Sonhara novamente com a floresta escura, com o ataque dos lobos e com o sangue esparramando-se ao seu redor. A dor das mordidas ainda reverberava em seu corpo e ele percebeu que estava com uma forte dor de cabeça e sua perna e braço feridos tinham voltado a incomodá-lo. Subitamente, lembrou-se da discussão do dia anterior e sua dor de cabeça piorou. Jogou-se na cama estreita novamente, enterrando o rosto no travesseiro com um gemido de auto piedade e algumas lágrimas escorreram de seus olhos.

Talvez tivesse sido melhor consertar a muralha... — refletiu, sentindo uma pontada de remorso. Entretanto, logo em seguida, foi dominado por uma onda de orgulho. Jamais! Jamais pedirei desculpas ao meu pai! Mas o que farei então? Fui expulso! Como irei viver? Cobriu o rosto com o braço e chorou em silêncio, até que ouviu uma batida na porta.

Ele limpou as lágrimas rapidamente com a manga da camisa e respirou fundo algumas vezes para recobrar o autocontrole.

— Entre! — gritou e sentou-se na cama.

— Já vamos almoçar! — Jack avisou-o e entrou no quarto. Então, percebeu que os olhos dele estavam vermelhos e que seu rosto tinha um ar triste. — Tudo bem? Por que está deitado até essa hora? — perguntou, aproximando-se e sentando-se na beirada da cama com um pulo ágil. A cama rangeu ameaçadoramente e por sorte não desabou.

— Estou pensando no futuro... Preciso decidir o que farei sem terras ou dinheiro para me manter daqui para frente — Robert se lamentou. A voz dele soava desamparada.

— Bem-vindo ao meu mundo! — Jack soltou uma risada alta, deu um tapa leve na perna do amigo e se pôs de pé. — Mas acho que você decidirá melhor com o estômago cheio. Vamos! Tudo parecerá melhor depois que comer.

Robert deitou-se novamente com um gemido de dor. — Minha cabeça está doendo... — resmungou e apoiou um braço por cima dos olhos, — Acho que vou ficar por aqui...

— Terminei de fazer os novos arcos. Quer testá-los mais tarde? Depois que comermos? — Jack sugeriu com um sorriso, pois sabia que isso o tiraria da cama.

— Hei! É claro! — ele respondeu, erguendo-se com rapidez e um leve brilho de animação voltou a cintilar em seus olhos. — Seus arcos são os melhores!

⚜️⚜️⚜️

Uma pequena sala que dava para o pátio servia de oficina. Os arcos estavam em cima de uma mesa; a madeira polida e escura brilhava atrativamente.

— Este é o seu! Um presente... — Jack falou e ergueu um deles com um ar orgulhoso, mostrando o símbolo desenhado na ponta; gravara o brasão de Locksley com a águia.

Robert o pegou e sua dor de cabeça desapareceu instantaneamente. Acariciou a arma, admirando seu formato e puxou a corda, estranhando a força que tinha que fazer para envergá-lo.

— São maiores do que aqueles que estamos acostumados a usar e precisamos usar mais força para atirar, mas os disparos serão mais velozes e precisos — Jack explicou. — Venha, vou mostrar-lhe de onde vieram.

Caminharam até o cemitério que ficava atrás do mosteiro. Uma grande e antiga árvore sombreava as lápides de pedra, tão antiga que talvez fosse mais velha que o mundo. Os que se aproximavam dela podiam sentir a sabedoria e poder que emanavam de seus galhos.

— Você conhece este teixo — disse Jack, mostrando a árvore. — Lembra-se de que Alfre nos trouxe aqui e nos contou sobre ela, uma árvore que nunca morre e por isso é um símbolo da morte e renascimento? É uma árvore sagrada! — Alfre era um arqueiro que se tornara monge e ensinara a ele todos os segredos de como se fazer um arco.

— Sim! Cerimônias druidas aconteciam aqui antes do mosteiro ser construído... Todos sabem disto.

— Foi embaixo dela que os monges me encontraram abandonado. Por sorte, minha mãe, quem quer que ela seja, pelo menos gritou avisando aos monges antes de fugir. — Uma sombra passou pelos olhos dele, transformando o azul claro em um tom mais escuro como o céu antes de uma tempestade.

—Talvez você seja filho da fada que mora dentro dela. Uma noite, um anjo passou por aqui e se apaixonou por ela. Passaram aquela noite juntos e nove meses depois, você nasceu... — Robert procurou brincar, pois sabia que o amigo se afligia em não saber quem eram seus pais.

— Bem... — Jack deu de ombros e forçou um sorriso; aproximou-se do tronco e encostou a mão nele. — Alguns meses antes de sua morte, Alfre veio comigo e cortamos a madeira de que precisávamos. Ele me disse que os arcos desta árvore seriam os melhores já feitos, pois seriam os últimos que faria nesta vida, e então, me ajudou a moldá-los. Gosto de pensar que uma parte da alma dele ainda está aqui, impregnada na madeira. Ele era um arqueiro e você sabe como os arqueiros amam os seus arcos.

— Obrigado! Este é o melhor presente que já ganhei de alguém! Sinto-me honrado por ter feito um destes para mim. — Robert exclamou, emocionado.

—Você é meu amigo... tudo bem que as vezes você pode ser meio irritante e este seu orgulho por ser de uma família importante da Aquitânia também incomoda um pouco, mas... — Jack deu de ombros.

O cenho de Robert se franziu. — Hei! Não sou orgulhoso! — ele protestou, interrompendo-o.

Jack riu, — Sei.. —   e então continuou, — Você terá que fazer-me um juramento! Alfre me obrigou a fazê-lo também. Ele me disse que já matara muitos homens em sua vida e de que não gostaria de continuar os matando após sua morte, então me fez jurar que não poderíamos tirar a vida de ninguém com estes arcos.

— Não sabemos do futuro... — Robert hesitava, mordendo os lábios em dúvida. — E se formos para alguma guerra? Um juramento é algo sagrado!

— Não importa! — Jack pegou a mão dele e a colocou no tronco do teixo, — Jure! — pediu, encarando-o com um olhar sério.

— Ok! — ele concordou enfim. — Juro pela minha alma! Nunca matarei com este arco!

Ficaram um momento em silêncio, sentindo sob as palmas das mãos o poder que emanava do grande teixo e ouvindo o sussurrar de suas folhas que contavam sobre fadas, anjos e antigos guerreiros enterrados aos seus pés.

Depois de um tempo, Jack tirou as mãos do tronco e deu um tapa no ombro de Robert. —Ótimo! Chega de abraçar árvores! Vamos testá-los!


Nota da Autora: este é um capítulo dedicado aos amigos. O que seria de nossa vida sem eles?

Sobre Amor e Lobos vol.1  VERSÃO WATTPADOnde as histórias ganham vida. Descobre agora