O Mal do Amor

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Três semanas se passaram, os dias correndo rápido como as águas de um rio.

Após a missa da manhã, a qual padre Ralph fazia questão que ele estivesse presente mesmo que suas pálpebras teimassem em se fechar e de que suas orações fossem repetidas entre um bocejar e outro, Robert fazia um rápido desjejum e, em seguida, passava a manhã na biblioteca lendo até que seus olhos se cansassem.

A coleção de livros que padre Ralph conseguira juntar ao longo dos anos era inestimável. A maioria deles era escrita em latim, a linguagem erudita, embora houvesse alguns exemplares em árabe e grego.

Gostava dos livros sobre Medicina e estava fascinado com a obra de um grego, o médico Galeno, que descrevia as doenças, seus sintomas e mostrava a anatomia do corpo humano. Aquele exemplar era uma obra rara, traduzida do grego por um árabe e alguns anos depois, do árabe para o latim, pelos monges de um mosteiro da Andaluzia onde a convivência relativamente pacífica das comunidades muçulmanas, judaicas e cristãs permitia a troca de conhecimento e de manuscritos valiosos.

Durante a tarde, ele e Jack treinavam com os novos arcos. Eram armas excelentes e podiam acertar alvos distantes com precisão. Então, voltavam esfomeados para o mosteiro, assistiam à oração noturna e depois jantavam em silêncio no refeitório com os outros monges. A noite padre Ralph os chamava de volta à biblioteca e os ensinava até que começassem a pestanejar de sono.

Naquele lugar parecia haver apenas o presente, um longo presente; os nasceres e os poentes do sol, as conversas com Jack e padre Ralph e os treinos com o arco. Nas visitas anteriores ao mosteiro seu espírito inquieto sempre se acalmava com a rotina e ele sentia-se em paz. Esperava sentir-se assim mais uma vez, entretanto os dias passavam e continuava insatisfeito; sua alma contorcia-se, ardendo com chamas desconhecidas e incontroláveis, as noites povoadas por pesadelos ou pela total falta de sono.

Padre Ralph percebia sua aflição e o aconselhava a esforçar-se para aquietar a mente e orar pela ajuda divina.

—Não, — o padre dissera em resposta à sua esperança de estar fisicamente doente — sua doença é a maladie, o mal do amor, como os trovadores a chamam. infelizmente não há nenhum remédio que possa tomar para curar-se.

Oração, aquietar a mente... Afinal, o que mais posso esperar de um padre? Robert refletia, suspirando de desânimo com estes conselhos inúteis.

Maladie... Maldição!
Estava apaixonado! E não  podia acreditar que aquilo estava acontecendo com ele.





Já era o meio da tarde. Estava recostado na cabeceira de sua cama examinando alguns livros que o padre lhe indicara e estava tão entretido com um deles que não ouviu os passos no corredor. Levou um susto quando a porta do quarto se abriu e sua mãe invadiu o quarto inesperadamente.

O rosto dela contorceu-se em uma careta de reprovação.

—Oh! Meu querido! — ela exclamou, horrorizada. — Já está parecendo um monge! Olhe só para você! Estes cabelos, estas roupas!

Ele passou as mãos na cabeça tentando pentear os cachos revoltos. Afinal, porque perder tempo me arrumando se estou em um mosteiro? Analisou suas roupas. Usava uma camisa branca larga, uma calça simples de algodão marrom e calçava sandálias nos pés emprestadas por Jack.

— Ainda não virei um monge... Fique tranquila! — ele acalmou-a, deixando seu livro de lado. Levantou-se da cama e a abraçou com carinho. Estava quase arrependido de ter desconfiado dela e do conde William. Quase... Talvez tivesse se deixado impressionar por sua própria imaginação sem controle.

De repente, seu olhar deteve-se na porta. O conde e Marion estavam parados sob o batente. William, como de costume, tinha um sorriso meio bobo no rosto e Marion o encarava com olhos indecifráveis, tornados ainda mais verdes devido ao seu vestido do mesmo tom. O coração dele deu um salto no peito e começou a doer de uma maneira estranha. 

Sobre Amor e Lobos vol.1  VERSÃO WATTPADOnde as histórias ganham vida. Descobre agora