Marion adiantou-se para abraçá-lo; ele respondeu com um abraço breve e afastou-se rapidamente.
— Olá, Robert! — O conde cumprimentou-o com um aceno de mão, — Pelo visto encontrou um bom esconderijo... — comentou, vendo a pilha de livros ao lado da cama.
Ele deu de ombros com o rosto fechado e emitiu um resmungo mal-humorado. Pelo visto, não foi um esconderijo assim tão bom já que me encontraram tão facilmente...
Um silêncio desconfortável pairou entre eles.
Sua mãe adiantou-se rapidamente e o convidou com voz alegre:
— Vamos até a biblioteca. Padre Ralph nos disse que chegaram novos livros da Andaluzia.
— Vão vocês, minhas queridas. Prefiro dar umas voltas pelos arredores — o conde apressou-se a falar e saiu do quarto sem esperar uma resposta.
Bethany voltou-se para Robert, o rosto repentinamente franzido em uma expressão irritada.
— O que há com você? Não vê que o ofendeu sem motivo?
Ele deu de ombros novamente e continuou em silêncio, olhando-a com um ar de desprezo.
Marion soltou uma risada alta e forçada, e interpôs-se entre os dois.
— Vamos! Chega de brigas... — ela exclamou, pegando Robert pela mão e puxando-o para fora do quarto.
As paredes de pedra da biblioteca eram cobertas por estantes repletas de livros encadernados com capas de couro e pergaminhos enrolados, dispostos ordenadamente nas prateleiras.
Bethany esqueceu sua irritação e sorriu ao entrar no cômodo, lembrando-se de Cirino, seu amigo e antigo tutor de Robert, e de como ele adorava aquele lugar. Ele e padre Ralph passavam horas em discussões filosóficas e muitas vezes ela os acompanhara, deliciando-se com a disputa de inteligências afiadas que duelavam entre si como numa luta de espadas, só que ainda mais emocionante.
Examinou os livros que estavam espalhados sobre a mesa central, folheando alguns deles. Medicina, plantas, alquimia... A maioria deles eram escritos em latim, mas havia alguns em árabe. Onde padre Ralph os conseguira? E que espécie de ensinamentos estava dando ao seu filho?
— Padre Ralph está lhe ensinando a Medicina? Não deveriam ler sobre batalhas ou quem sabe, as histórias de cavalaria, mon cher? — perguntou.
— Ou sobre amor e romance? — Marion interveio, procurando um deles na estante.
Robert as observou sem responder e sentou-se em uma cadeira diante da mesa, aguardando paciente enquanto elas reviravam o aposento, distraídas com as obras e aparentemente esquecidas de sua presença.
— Marion, você não irá encontrar um romance aqui na biblioteca do mosteiro... — ele comentou depois de um tempo, ao perceber que ela procurava um banco para alcançar as prateleiras mais altas.
— Nunca se sabe o que os monges leem quando não estão rezando... — ela retrucou com um leve sorriso, colocando um banco baixo ao lado da estante e subindo nele.
— Hei! — ele deu um pulo e alcançou-a com um salto quando o banco balançou, desequilibrando-a. Seus braços a envolveram pela cintura e ele a colocou de volta ao chão, em segurança. Ficaram abraçados por um instante; em seguida ele a soltou, desejando ardentemente o contrário. — Eu... — gaguejou; tentava recordar o que iria falar e seu coração batia estranhamente descompassado. De repente, lembrou-se, — Eu separei um para você. Encontrei escondido em um dos cantos.
Ele foi até uma das prateleiras mais sombreada, retirou um livro dela e o mostrou.
Marion deu uma piscada divertida e bateu palmas, entusiasmada, —Lancelot, o Cavaleiro do Lago. Eu sabia que iria achar algo interessante aqui! Não te disse? — Arrancou o livro da mão dele e correu para sentar-se sob a luz da janela.
Ele sentou-se novamente em frente à mesa, tentando não olhar para ela e para os reflexos acobreados de seus cabelos que lembravam o fogo na floresta. Baixou os olhos e mordeu os lábios, tentando concentrar sua atenção em suas mãos que se espremiam de maneira inquieta.
Sua mãe sentou-se ao lado e entrelaçou as mãos entre as dele, impedindo o movimento.
— Seu pai quer que volte, Robert. Se você pedir desculpas e prometer que irá obedecê-lo.
O coração dele apertou-se de dor. Afastou as mãos devagar e seus olhos se dirigiram sem querer para Marion.
— Não quero voltar agora. Na verdade, padre Ralph pensa que eu deveria ir para uma Universidade... — ele murmurou, os olhos fitando a madeira da mesa de novo.
—Universidade? — ela exclamou surpresa. Ele deveria apenas casar-se e treinar as artes da guerra para tornar-se um cavaleiro. Que novidade era aquela?
— Sim! Existe uma em Paris e outras melhores na Andaluzia. Cirino não estudou em Toledo?
— Deus, Robert! Paris? Toledo? Seu pai nunca permitiria! Você é o herdeiro destas terras e não pode se ausentar por anos. Esqueça-se disto!
Os olhos dele estreitaram-se e adquiriram um brilho desafiador.
— Eu... — ele começou a argumentar.
Bethany interrompeu-o com um sinal de mão decidido.
— Não vamos começar a brigar! Acabamos de nos reencontrar! — exclamou. Em seguida, voltou-se para Marion e pediu casualmente, — Marion, vá dar uma volta com Robert. O dia está tão lindo! É um desperdício que dois jovens o passem aqui, fechados em um cômodo escuro... — Ela o convenceria a voltar assim como haviam combinado.
— Não! Prefiro ficar aqui, ainda tenho alguns textos para estudar — ele protestou, não desejando ficar sozinho com ela.
Marion largou o livro e foi até ele; abraçou-o por trás, beijando seus cabelos enquanto piscava um olho para Bethany.
— Vamos, Rob! Sua mãe tem razão! Aposto que ficou o dia inteiro em um quarto fechado... — A voz dela era doce como um pote de mel. Se aprendera algo observando sua madrinha era como manipular um homem.
Robert estremeceu. Desde pequena ela fazia aquilo. Abraçava-o, beijava seus cabelos e, em seguida, fazia um pedido o qual ele nunca negava. E nunca se incomodara antes! Entretanto, agora... Olhou para sua mãe que os observava com olhos atentos.
Será que ela tem alguma ideia de como eu me sinto em relação à Marion? Sim, é claro que sim. Ela sabe tudo sobe o Amor! Talvez até demais... Mas então, porque corre o risco de deixar-nos sozinhos? Talvez ela não se importe realmente... Se eu e Marion mantivermos um romance, eles provavelmente fingiriam não perceber nada, assim como todos fingem ignorar o romance dela e do conde. Sua alma contorceu-se de angústia com essa ideia e ele ficou com raiva de si mesmo. Tolices! Pare com isso! ordenou-se e sentiu-se ainda mais confuso quando ela lhe lançou um olhar cúmplice acompanhado por um sorriso enigmático. Ele suspirou de desânimo. Seria melhor não perder seu tempo tentando entender as mulheres!
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Sobre Amor e Lobos vol.1 VERSÃO WATTPAD
Historical FictionGANHADOR DO WATTYS 2018. CATEGORIA: Contador de história. Robin Hood, o herói das antigas lendas, retorna nessa série de amores proibidos e muita aventura. Durante anos, o jovem Robert de Locksley acreditou que seu futuro estava escrito. Ele seria...