9. Não existem palavras para descrever o fim

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23/02/2016

Virgínia Woolf disse uma vez que sua morte seria a única experiência que ela nunca descreveria. É claro. Se ela morreu, é óbvio que não poderia escrever sobre a própria morte. Não sei se Théo escrevia sobre isso, ou se pensava muito sobre morrer enquanto passava por entre a gente com um sorriso no rosto.

Naquela noite, depois que Flora foi embora, não consegui descansar nem dormir. Passei horas lendo sobre Virgínia Woolf, tentando fazer conexões que me levassem a entender meu irmão.

No dia seguinte, quando escutei o som dos meus pais se levantando, me perguntei como seria passar a manhã toda na mesma sala que Flora. Treinei fingir que não a conhecia, assim como vinha fazendo com Luan. Ensaiei manter os olhos no livro que estava lendo sem desviar o olhar de jeito nenhum. Treinei até ignorá-la, caso viesse falar comigo, mas eu não era bom em lidar com garotas, mesmo se o objetivo fosse afastá-las, algo que sem querer eu vinha fazendo com sucesso durante toda minha vida. Mas as horas passaram e Flora nem sequer olhou para mim. Eu podia vê-la rabiscando em um pequeno papel ou em um livro adornado e de capa dura que eu não conseguia identificar. Na aula de Introdução aos Estudos Linguísticos, descobri que era dia de apresentação de trabalhos, o qual eu desconhecia e que não tinha ânimo para correr e tentar fazer alguma coisa qualquer até que o último grupo se apresentasse.

Sendo assim, apenas voltei ao meu livro. Enquanto lia, grupos de três ou quatro alunos se dirigiam para a frente da sala, apresentando seus trabalhos. Tentei prestar atenção algumas vezes, mas era impossível me concentrar em slides com textos enormes e falas decoradas. Mas os grupos foram indo, um após o outro, até que pude notar os olhos do professor em mim, como se esperasse algum movimento da minha parte, mas ele logo desistiu. Deitei a cabeça sobre a mesa, tentando não pensar, e fechei os olhos.

Devo ter adormecido, porque levantei a cabeça, minutos depois, para encontrar um pequeno papel rabiscado em minha mesa. Um quadro com um personagem de capa de super herói e a letra F estampada no peito. Embaixo, os dizeres: "MAX FODÃO".

Peguei o desenho e coloquei dentro do meu livro, o personagem realmente se parecia comigo, e a única coisa que pude fazer foi rir. Estávamos de volta a mais uma aula de Gramática Tradicional, o pesadelo de todas as aulas do curso. Abri de novo o livro e voltei a ler. Então notei um outro papel dobrado dentro dele. O retirei e desdobrei. Lia-se:

Trote Legal – Instruções

Você ou sua dupla irá receber a primeira pista, mas lembre-se de que tudo deve ser feito em conjunto. Nada de sair sozinho(a) resolvendo as coisas e realizando os desafios, mesmo porque a maioria deles necessita de duas pessoas para ser feito.

Em cada pista você encontrará instruções sobre o que fazer e sobre como provar que você já cumpriu com sucesso o desafio. Na maioria das vezes, você terá de tirar uma foto ou gravar um vídeo e postar no Instagram com as hashtags

#trotelegal #comunicaçãoUMC #bichoburro

Nós temos fiscais, portanto, não tente roubar. Durante os próximos dias, considere-se no Big Brother Bicho. Temos voluntários para isso.

Boa sorte e divirta-se. Suas coisas estão bem cuidadas, tenha certeza.

Quão bobo poderia ser algo assim? E eles ainda teriam que publicar as coisas que estavam fazendo e teriam pessoas os observando e, ainda assim, todo mundo achava isso normal e divertido. Parecia que todos os poucos alunos que não tinham gostado da brincadeira já estavam conformados e esperando com expectativa o início do jogo. Não se falava de outra coisa, a não ser o trote.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 19, 2018 ⏰

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