TRÊS - Parte 2

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Paro a picape no lugar de sempre e fecho os olhos. Meje acabou de voltar para esse mundo, saindo por uma das áreas de deserto perto da minha casa. Pelo menos, é o que parece. E eu não deveria estar tão aliviada assim - como se um peso enorme tivesse sido tirado das minhas costas. Eu não deveria nem ter me preocupado, na verdade.

Odeio isso. De verdade. É por isso que não queria pedir ajuda de Meje e que fiz tanta questão de desaparecer depois de tudo que aconteceu. Me conheço. Mesmo depois do que ele fez, seria fácil demais cair no hábito de ter ele por perto e acabar agindo como se nada tivesse acontecido. Continua sendo fácil demais voltar a me importar - porque eu nunca deixei de me importar e odeio isso.

E Meje vai vir direto para cá. Merda.

Saio do carro e paro antes da porta de casa. Alessio não está aqui ainda. Eu teria notado a presença dele. Mas não tenho como saber onde ele está e se vai demorar. Já Meje, está vindo direto para cá e não tenho nem tempo para levantar todos os bloqueios que sempre impediram que essa ligação servisse para alguma coisa.

Cruzo os braços e continuo parada no lugar. Não vou começar a andar de um lado para o outro. Isso já é demais. E...

Meje está chegando.

Solto os braços e dou a volta para o lado da casa de onde ele está vindo. Não é a mesma direção que ele foi quando entrou em uma das áreas de deserto, mas isso não é bem uma surpresa. Tem tantas áreas de deserto pela mata que ele poderia literalmente escolher por onde sair.

Paro logo antes das minhas defesas, encarando enquanto Meje passa entre as árvores. Ele está exatamente como saiu daqui, sem o menor sinal de que estava em outro mundo. Não. Tem um pouco de poeira amarelada na roupa dele, e isso é novo. Mas só isso.

— Precisamos conversar — ele fala antes de parar do outro lado das minhas defesas.

Precisamos. Mas ainda não sei porque Alessio mandou aquele recado para a hospedaria.

— Podemos terminar isso depois — aviso.

Meje balança a cabeça e fecha os punhos.

Merda. Normalmente ele controla melhor suas reações. Se ele está assim, é porque tem alguma coisa importante.

— Aconteceu alguma coisa aqui — ele fala.

Não respondo. Não vou abrir minhas defesas e continuo sem sentir Alessio por perto. Se ele for fazer o trajeto normal, vai estar vindo na direção do fundo da minha casa, não desse lado, então não vai ter problemas. Mas não quero Meje - um demônio - aqui quando um amigo pode estar ferido.

— Aconteceu alguma coisa — Meje repete. — E você não tem certeza do que é.

Eu odeio que ele consiga me ler tão facilmente assim.

— Talvez alguém tenha sido ferido e vocês não sabem como — ele continua.

Estreito os olhos. Isso não é ele lendo minhas reações.

— O que você sabe?

Meje solta o ar com força e o ar ao redor dele treme. Quase consigo ver seus chifres por um instante, mas a sensação de poder e perigo é real. E familiar demais.

— O que você sabe? — Repito.

Ele respira fundo e toda a sensação de poder desaparece.

— Se isso for o que eu acho que é, você vai precisar de ajuda. Se não for, eu vou embora e você resolve o que precisar primeiro.

Fogo e Névoa (Entre os Véus 3) - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now