SETE - Parte 3

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Cruzo os braços e olho ao redor de novo. Eu devia ter imaginado que depois do calor infernal durante o dia, isso aqui ia congelar durante a noite. E também devia ter pensado no tanto que ia ser divertido passar um dia inteiro andando na areia. Minhas pernas estão doendo, meus pés estão me matando – e isso levando em conta que peguei meus tênis mais confortáveis para vir para cá – e eu não quero nem pensar na quantidade de areia que se enfiou na trança que fiz com meu cabelo.

A pior parte disso tudo é que não achamos nada. Absolutamente nada.

Não. Achamos a torre e a cidade abandonada. Porque é só isso: pedaços de uma cidade que é parecida demais com a cidade do outro lado dos véus. Eu consegui reconhecer casas e lojas, lugares onde sempre vou. E nada. Absolutamente nada vivo. Nenhum sinal de que algo ou alguém passou por ali e tudo tão quieto e silencioso que chegava a ser assustador.

Quando começou a escurecer e a névoa começou a cobrir o chão, saímos da cidade.

Suspiro e pego minha última barra de cereal. Não faço ideia de quando eu comprei isso, mas ainda bem que eu tinha várias dessas em casa, porque eu não ia ter coragem de comer qualquer outra coisa aqui. Não consigo ignorar a sensação de que estamos sendo observados e que a qualquer momento vai vir uma onda daquelas criaturas atrás de nós. Meje e eu conseguiríamos lidar com alguma coisa assim, sim. Mas mesmo assim...

Um arrepio me atravessa e me levanto de uma vez, sem abrir a barra.

— O que foi? — Meje pergunta.

Balanço a cabeça. Ele está de pé esse tempo todo, olhando ao redor enquanto eu como e tento dar alguns minutos de descanso para os meus pés, mas mesmo assim... Tem coisas que ele não veria.

— Não sei. Mas é melhor não ficarmos aqui.

Porque tem algo se aproximando e eu não sei dizer como sei disso. É uma sensação, só, mas é algo tão nítido que não tenho como duvidar. E, por mais que não tenhamos conseguido nada do que queríamos quando entramos aqui – o que era basicamente uma pista ou informação sobre o que está acontecendo, qualquer coisa assim – também tenho certeza de que não queremos esperar esse poder nos alcançar. O que quer que possamos descobrir não vale o risco.

Meje olha ao redor mais uma vez antes de começar a andar, na mesma direção de antes: de volta para as fendas. Eu queria ir até o lugar onde fica o vórtice de poder, que é praticamente debaixo da caverna de Alessio, mas não tenho nenhuma referência aqui para conseguir achar o lugar exato. E, de qualquer forma, acho se tivesse algum vestígio do vórtice aqui, nós já teríamos reconhecido o poder.

Vou atrás de Meje, cruzando os braços de novo para tentar diminuir o frio. Não que adiante muito. Pelo menos não está ventando e a lua está alta no céu, o que quer dizer que conseguimos ver onde estamos sem precisar de outra fonte de luz.

— Isso não é o que eu esperava — murmuro.

Nada disso é, especialmente depois do que Meje comentou sobre a outra vez que atravessou as fendas. Sobre como as criaturas estavam por toda parte e ele usou pedregulhos para conseguir passar despercebido. Tem algo errado, muito errado aqui, e eu tenho certeza de que esse poder que está se aproximando tem algo a ver com isso.

— Não — Meje responde. — E a única coisa que consigo pensar é que se não tem nada aqui, é porque estavam focando em outro lugar.

O que explicaria a sensação de poder se aproximando, também. Só tem um problema.

— Antes, com os pesquisadores, eles estavam se dividindo, mas era entre nós e Marrein. E agora Marrein está aqui.

Então onde eles estavam?

Fogo e Névoa (Entre os Véus 3) - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora