CINCO - Parte 3

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Me apoio em uma das pilastras e encaro a mata que começa nos fundos da hospedaria. Eu só queria que tudo fosse simples. Só isso. Não. Que ao menos uma coisa no meio dessa confusão toda fosse simples. Uma coisa, e eu estaria satisfeita. Mas não, estamos aqui com um monte de informações soltas que não levam para lugar nenhum.

Porque Marrein não sabe dizer um lugar onde ela descobriu isso. Foram detalhes, coisas que ela aprendeu entre vários mundos e juntou de uma forma que fazia sentido, sem nem perceber que isso não era algo conhecido. E, mesmo assim, ela não tem a menor dúvida de que seja verdade. Considerando todas as situações e exemplos que ela nos deu, eu também estou tentada a acreditar que realmente seja assim que as fendas funcionam. Mas achar que faz sentido não é uma garantia de nada, o que quer dizer que não saímos do lugar, por mais que eu queira me iludir sobre isso.

Vanessa para ao meu lado. Só sobramos nós aqui - eu, ela e Meje. Sina desapareceu em algum momento no meio da conversa, o que não é uma surpresa. Era isso ou provavelmente congelar todos nós. Nero e Marrein desapareceram nos andares de cima do casarão, provavelmente no sótão, que é onde eu sei que vários livros e materiais antigos, das pessoas que vieram antes, estão guardadas.

— Eu mandei Alessio buscar Dai e se esconderem na caverna — falo. — Nós tínhamos certeza de que o que atacou Marrein ia chegar na minha casa, então era mais seguro, por via das dúvidas.

Vanessa suspira.

— Mas eles não podem ficar lá para sempre.

Assinto. É exatamente isso e eu não sei o que fazer. Alessio consegue se virar - não é à toa que defende esse território. Mas Dai é humana, sem nenhum poder como o de Vanessa ou o meu, e já foi um alvo antes.

— Vou pedir para Dai ficar aqui por uns dias — Vanessa continua. — Mas você sabe que não vai demorar muito para ela começar a reclamar.

Sei. Dai odeia ficar aqui sem pagar, por qualquer motivo que seja. Pelo menos ela tem bom senso o suficiente para eu ter certeza que só vai resmungar.

E eu não vou estar aqui para ouvir.

Vanessa suspira de novo e volta para dentro da hospedaria. Não tem sinal de celular na caverna que é a casa de Alessio, mas tenho certeza de que ela tem algum jeito de mandar uma mensagem. Se Sina ainda estivesse aqui isso seria fácil, mas não faço a menor ideia de onde ela foi parar. A essa hora provavelmente está perto da praia, já que não tem como ir para a cidade do outro lado dos véus...

Puta merda. Eu não tinha pensado nisso.

Me sento no chão, ainda encostada na pilastra, encarando a mata sem conseguir focar em nada. Sina está presa no mundo humano. Os pequenos, que estão por toda parte no casarão, também. Não sei se tem algum hóspede aqui, mas se eles quiserem sair daqui agora vão ter que pegar estrada e ir para outra passagem - se é que tem outra passagem aberta. E Alessio e Dai estão presos no mundo das passagens, do outro lado dos véus. Não adianta Vanessa mandar nenhuma mensagem. Eles estão incomunicáveis.

O que provavelmente quer dizer que estão seguros, por enquanto. Eu acho. A não ser que alguma das criaturas que foram atrás de Marrein tenham ficado presas lá, também.

Não. Eu não posso ficar pensando nisso. Não adianta pensar nisso porque não tem nada que eu possa fazer. A única opção agora é resolver isso.

— Rafaela?

Se eu não conhecesse Meje, diria que até parece que ele está preocupado. Mas o que quer que seja isso na voz dele, não é real. Se fosse real, ele estaria fazendo questão de esconder.

Fogo e Névoa (Entre os Véus 3) - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora