CAPÍTULO 39 - LOLLA

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Ignoro as suas ligações e não respondo as suas mensagens.

Onde eu estava com a cabeça que pensei que algo poderia ser diferente? Ele nunca cogitou a possibilidade de terminar o seu noivado. Eu sou mesmo uma idiota para acreditar que aconteceria isso.

O que mais me magoou foi ela me chamar de Raíssa. O que mais ele falou para ela?

Dane-se! Eu não o quero. Eu não preciso dele como um homem. Não preciso da sua companhia. Eu sempre estive sozinha, não seria agora que isso acabaria comigo.

O Uber avisa que eu cheguei ao meu destino.

Saio e na porta da casa, Mateus já me espera.

Com uma bermuda e camisa preta, ele me abraça apertado e me beija no canto da boca.

— Você está magnífica.

— Obrigada.

— Fiquei feliz com a sua mensagem.

— Não deixaria de vir — sorrio, sabendo o quanto eu posso ser cínica.

— Ainda mais feliz quando soube que o Jaime não viria. Desculpe falar assim, mas...

— Não se desculpe. Ele ficou preso com a noiva. — Meu coração se aperta.

— Vamos entrar. Aqui em casa poderemos ficar mais à vontade.

Entramos na sua mansão.

A parte externa da casa é lindíssima.

Ele me guia até a entrada e ao entrar vejo que não é só linda é também aconchegante com madeira escura e detalhes coloridos. Há uma parede repleta de livros e outra de garrafas de vinhos.

— Sente-se. Você bebe vinho ou...

— Bebo o que você quiser.

Ele sorri e vai buscar as taças.

Que merda eu estou falando? O que ele quiser?

Mateus é um homem elegante, lindo, rico e muito educado. Era difícil até entender como ele se interessa por mim. Eu sei que não sou de se jogar fora, mas sou de mundo diferente desses homens. Lembro do Jaime. Ele é um babaca!

Que ele se ferre para lá com a sua noiva! Eu não preciso dele para me satisfazer. Se ele quer me cantar e continuar com a mulher dele, problema! Eu não sou obrigada a esperar que ele faça algo por mim.

O som é ligado e preenche todo o ambiente.

Ele volta e traz as taças de vinho e me entrega a minha.

— Gosta de MPB?

Marisa Monte começa tocar.

— Não é porque sou do morro que...

— Não quis dizer isso.

— Eu sei. Mas a maioria das pessoas acham que eu só gosto de funk.

Ele se senta ao meu lado, virado para o meu lado.

Destina toda a sua atenção para mim.

Não teria uma noiva desfazer esse cuidado.

Conversamos em sintonia. Falo sobre como estava sendo o início da carreira, meus objetivos, meus sonhos. Falamos sobre a notícia falsa que foi veiculada. Claro, ele também já estava ciente. Mateus é um ótimo ouvinte. Ele conta sobre como começou a agenciar jogadores de futebol e como foi parar em uma gravadora.

— Sempre gostei de música. Meu pai era um nato violeiro do interior da Bahia.

— Sério?

— Sim. Ele tocava muito bem e até hoje me frustro por não ter seguidos seus passos, mas, há males que vem para o bem. Tocar viola não me faria conquistar tudo isso.

— Então você toca viola?

— Sim, mas por hobby.

— Sempre sonhei em tocar algum instrumento, mas nunca tive oportunidade. Eu quero ouvir.

Ele sorri. Acho graça da sua nítida timidez. Fica ainda mais lindo.

— Não, eu sou ruim. Cantar na sua frente seria até engraçado.

— Ah, por favor, Mateus...

Ele aceita e sai para pegar a viola.

Fico sozinha. Bebo todo o vinho. Já sinto a tontura.

Ele volta e ajeita o apetrecho no colo, dá uma afinada e começa alguns acordes.

— Vou cantá no cantori primero, As coisa lá da minha mudernage. Que me fizero errante e violêro. Eu falo sério e num é vadiagem. E pra você qui agora está mi ovino. Juro inté pelo Santo Minino. Virge Maria qui ouve o que eu digo
Se fô mintira mi manda um castigo. Ah, pois pro cantadô e violeiro. Só há treis coisa nesse mundo vão. Amor, furria, viola, nunca dinheiro. Viola, furria, amo, dinheiro não...

Ele acaba a canção.

Fico arrebatada.

— De quem é essa música?

— O violeiro de Elomar Figueira Melo.

— É lindo. Eu preciso mostrar ao meu primo.

Ele franze o cenho

— Ele tem problemas na fala. Fala assim mesmo.

— Elomar mesmo disse que essa linguagem é atribuída por ele. Dialetal sertaneza. Um gênio da música.

— O Minga, meu primo, é problema mesmo.

Ficamos sério e acabamos sorrindo.

— Aceita mais vinho?

— Claro.

— Agora, menina Lolla, já te obriguei a ouvir essas minhas lamúrias. O que acha de melhorar o clima?

— O que deseja?

Seus olhos vão para o meu decote, mas logo se levantam.

— Cante o que quiser.

— Hum... vou te mostrar que sou mais do que uma funkeira. O que acha?

— Eu já vi que não é, mas, vamos lá, surpreenda-me.

Respiro fundo e puxo alguma música que dona Zuleica ouvia. Até que escolho uma.

— Posso levantar? — pergunto. Eu não curto cantar sentada. Minga sempre fala que tenho formiga na bunda.

Arranho a garganta.

Não se admire se um dia, um beija flor invadir... A porta da tua casa, te der um beijo e partir... Foi eu que mandei o beijo, que é pra matar meu desejo... faz tempo que eu não te vejo, ai que saudade d'ocê...

Mateus fica com os olhos presos em mim.

Até que se levanta e me embala em uma dança no ritmo da canção.

Ele me gira uma, duas vezes e na hora reparo que já bebi demais.

Paro de cantar e Mateus me olha.

— Há muito tempo não saio com ninguém tão interessante, Lolla.

— Claro que não — brinco.

Ele sorri.

— Você é... encantadora.

Jaime me disse isso.

Mateus coloca uma mão na minha cintura e outra na minha nuca.

— Se me permitir, eu gostaria de te beijar.

Meu coração dói. Jaime. Ele beija a sua noiva. Seus beijos são dela.

Fugindo dos pensamentos que me deixam para baixo e certa de que eu devo esquecer o fato de ter cogitado que Jaime me escolheria, eu paro.

Premeditando o que vem, fecho os meus olhos para responder a sua pergunta e, assim, recebo sua boca na minha.

AGORA OU NUNCA (Spin-off de Tudo ou nada)Where stories live. Discover now