CAPÍTULO 10 - LOLLA

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Respiro fundo e fecho os meus olhos.

Deixo o balanço do mar me guiar. O cheiro e o gosto nos lábios da água salgada me dão o conforto que há muito tempo não sinto.

— Lollita!

Abro os olhos e me escoro na prancha abaixo de mim.

Encontro Helinho, meu amigo surfista.

Aceno para ele que vem nadando na minha direção.

Helinho dá aulas para uma garotada aqui na praia de Ipanema. Foi ele que me estendeu a mão quando precisei de grana para ajudar em casa quando Minga estava na reabilitação. Eu o ajudava nas aulinhas aqui na praia.

O mar sempre foi a minha saída para os problemas da infância e adolescência.

Remo com as mãos para chegarmos ainda perto.

— E aí, pro!

Sorrio.

Seus cabelos compridos estão grudados nos seus ombros. Seu corpo moreno de tanto sol e seus dentes bem branquinhos logo reluzem. Eu já tinha tirado uma casquinha dele. Namoramos por algum tempo, há uns dois anos, mas não deu certo. Helinho é um galinha nato e eu sou porra louca.

— Fala, Helinho! Como tá?

— Te vi lá da areia. Tá fazendo o quê aqui, gata? O mar está flat. —Verdade. O mar estava sem ondas hoje para o surfe. Mas eu só queria ficar sozinha um pouco. Colocar a cabeça em ordem depois da noite de ontem. — Eu bem. Ajudando a molecada aí, mas hoje tá Lay day. Nem preciso perguntar como você está, né?

— Como assim?

— Pow! Já vi o jornal de hoje. Sinistro! Eu sabia que você ia longe. Lembra que eu falava isso quando a gente tinha um rolo?

Jornal? Que jornal?

— Jornal?

— Acabei de ver, gata. Um dos meus alunos trouxe e...

Uma marola vem e nado até a praia sem me despedir do Helinho.

Ontem.

Ontem a merda caiu. Caiu no meio da minha testa.

Todo meu planejamento, todo o meu objetivo tinha ido por água abaixo quando Jaime negou me empresariar depois do show.

Nem tudo foi ruim, claro. O show havia sido incrível. Conheci gente legal como o Bill Dantas, vi que Fabrício é um cara legal e constatei ainda mais que ele é um espetáculo de homem. Recebi muitos elogios e alguns cartões de empresas a fim de me ajudar na carreira. Eu precisava pesquisar antes e ver o que iria fazer. Mas por enquanto, eu só queria me maltratar e pensar no que fiz errado para o cara não me querer?

O que aquele tem?

Eu fiz o show para ele.

Ensaiei. Mostrei o meu maior potencial. Sei, sei que eu deveria aprender mais, mas é por isso que eu o quero tanto.

Jaime é um cara diferente. Do tipo engomadinho, certinho, príncipe encantado. Percebi isso quando ele bateu no homem que tocou em mim.

Coisas desse tipo já aconteceram comigo. Na maioria das vezes, eu só saio de perto, ou, eu mesmo trato de dar uma porrada no homem escroto, mas dessa vez eu fui defendida.

Eu senti vontade de beijá-lo. Agradecer por ter cuidado de mim.

Era idiotice, mas foi o que senti por ser acolhida.

AGORA OU NUNCA (Spin-off de Tudo ou nada)Where stories live. Discover now