Capítulo 1

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QUEBRA DA MONOTONIA

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QUEBRA DA MONOTONIA

   Podia sentir o gosto de sangue e terra preso na boca, podia sentir o pavor e o cheiro de carne queimada e, se fechasse os olhos, estaria novamente naquele terreno baldio; veria o rosto dele, assustado, com um pedido de socorro preso na boca fechada. A luz do sol invade meu quarto através da janela e banha o cômodo com uma luz dourada e quente. Pressiono a testa contra o vidro e luto para manter os olhos abertos, apesar de ainda estar meio sonolento. Tento controlar  a respiração e encaro a paisagem além da janela, buscando uma possível distração. Vejo, ao longe, duas sombras na frente de casa. Reconheço meu tio e minha namorada diante das orquídeas do lugar.

Alana vai voltar para a UCM (União de Combate aos Monstros) hoje, depois de ter passado o fim de semana comigo; dois dias permeados por uma discussão, ela implorando que eu me tratasse e eu rebatendo. Havia perdido a cabeça mais uma vez e deixado aquele meu lado arrogante tomar conta de minhas ações, havia deixado o lado que mais odeio discutir por conta de besteira. Ela tinhar razão em querer ficar longe por um tempo.

Na verdade, tendo em consideração como nosso namoro está atualmente, ela pode passar o resto da vida longe de mim e tudo o que eu poderei fazer é aceitar

Eu te amo, ela sussurrou em meu ouvido antes de sair, achando que eu ainda dormia, quando na verdade tentava me acalmar depois de um sonho ruim. Repito suas palavras mentalmente enquanto sua figura se afasta da entrada e entra no carro. Ela está magoada e chateada, achava que podia me mudar e quebrou a cara quando percebeu que não.

Espero uns cinco minutos para ter certeza de que ela realmente havia ido e saio do quarto sem me importar de estar nu da cintura pra cima. Os tremores em minhas mãos já haviam acabado e as sequelas do pesadelo se dissiparam.

Está fazendo calor, o auge do verão, e estou com preguiça de abrir meu armário na tentativa de encontrar uma camisa. Ele está uma bagunça, não sei como isso aconteceu, mas não iria ser naquele dia que iria arrumar, o próximo final de semana sim.

Desço a escada em espiral, dois degraus por vez e, diante do espelho do corredor principal, vejo minha cara de doente. Não me surpreende, fazia um bom tempo que eu não me recordava o significado de aparentar ser saudável. Podia procurar um especialista ou ao menos tomar os remédios, mas tudo isso parece perda de tempo.

Quando chego à cozinha encontro tio Jorge no seu terno cinza de sempre, a gravata da vez é vermelha. Ele limpa os óculos em um lenço preto, tão escuro quanto seu cabelo que começa a ficar grisalho. A idade chega para todos.

— Bom dia! — cumprimenta, bravo pelo fato de ser 11 horas da manhã e eu só ter levantado agora. Ele já deveria ter se acostumado.

Completamente NaturalWhere stories live. Discover now