Capítulo 3

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DE SUSERANO A VASSALO

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DE SUSERANO A VASSALO

   O resto da semana rastejou feito um caramujo idoso, instalando em mim uma ansiedade e me fazendo bloquear quase todos os meus contatos. Todos os meus amigos e conhecidos da agência mandavam mensagens sobre meu retorno. As únicas pessoas que mantive foram Jorge, mamãe e meus avós, que moram em São Raimundo Nonato e até teriam um infarto se eu não atendesse suas ligações diárias.

Meu tio estava trabalhando em casa, recomendações médicas. Ou seja, tive que passar o resto da semana o vendo sorrir para o nada orgulhoso de sua conquista. Eu ia desistir, mas a segunda-feira chegou, finalmente.

A viagem para a agência dura cerca de um hora, até a saída da cidade e alguns quilômetros a mais, longe do centro urbano. Jorge não parou de falar o percurso inteiro, assim, tive que morder a bochecha interna e respirar fundo diversas vezes para não sucumbir ao arrependimento e voltar para o conforto da minha cama e dormir até às duas da tarde.

Ele só se cala quando estaciona o carro em sua vaga e desce, me esperando com as mãos na cintura, admirando o prédio à sua frente com uma expressão séria.

O lugar continua igualzinho a dois anos atrás, um edifício enorme com seus três andares, fora os quatro além da superfície, no subterrâneo, onde estão os alojamentos e laboratórios. Enfio as mãos nos bolsos da calça conseguindo sentir no fundo, com as pontas dos dedos, a caixa de papel, o pânico me atinge sem piedade, portanto precisaria do conteúdo dela logo. Estou de volta, depois de repetir centenas de vezes que nunca mais voltaria aqui. Que hipocrisia de minha parte.

— Deixe sua mala aí, quero te levar em um lugar antes do alojamento — pede.

Era mais prático ficar logo no alojamento, minha casa fica longe daqui e eu iria ter que treinar todos os dias e atender aos chamados quando convocado.

O único motivo de ter realmente aceitado é que não posso admitir ser derrotado por um monstro, ter ganhado aquela batalha havia sido apenas sorte. Não podia contar com isso para sempre. Em um mundo ameaçado por monstros, é preciso estar preparado.

Jorge se coloca atrás de mim, as mãos em meus ombros, e me empurra até uma das entradas. Sem poder relutar, me deixo ser levado.

Uma lufada de ar frio me recebe quando entramos, em um extenso  corredor bem iluminado. Seguimos até a porta de vidro no fim do caminho, que se abre assim que nos aproximamos e demora poucos segundos até o silêncio nos abandonar e estarmos em uma ampla sala de convivência.

Há sofás acolchoados espalhados pelo perímetro e uma mesa repleta de doces e café. Engulo em seco e vejo meus amigos e meu irmão, em pé, lado a lado, sorrindo meio sem jeito.

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