Capítulo 2

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AMOLÇO, CONSELHOS E DECISÃO

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AMOLÇO, CONSELHOS E DECISÃO

  As ruas da cidade estão movimentadas, pessoas correm na avenida e outras passeiam com seus animais de estimação. O dia está quente, agosto em Teresina é marco do início do B-R-O-BRÓ, ou seja, nenhuma mísera gota de chuva até dezembro. O município só possuía duas estações: inverno e verão, melhor dizendo, um delicioso primeiro semestre chuvoso e de noites frias e o segundo com todo o fogo do inferno.

Meu pai costumava dizer que haviam três estações: quente, mormaço e purgatório. Sorrio para o sinal fechado com a recordação da imagem dele, um homem grande e brincalhão. Um homem morto pelo trabalho que meu tio insistia que eu voltasse a fazer.

Passou-se uma semana desde meu conflito com Pantera. Quando Jorge voltou para casa, estava bem — para meu profundo alívio — no entanto, bastou que estivesse em casa por cinco minutos para voltar ao nosso diálogo sobre a agência. Saí de casa antes de perder a cabeça e a paciência, peguei o carro e resolvi visitar minha mãe.

Ela ficou preocupada quando soube o que aconteceu, queria vir me ver imediatamente, mas consegui fazê-la acreditar que eu estava bem e não fazia sentido ela sair da comodidade de sua casa por causa de alguns arranhões. Nem sentia mais dor no ombro.

O plib em meu pulso começa a apitar freneticamente, a tela mostra o nome de Tobias, meu irmão. Sigo pela Avenida João XXIII e ignoro o toque; não vou atender, ele podia ter feito isso antes, mas preferiu continuar enfurnado em seus joguinhos eletrônicos.

O toque começa a me incomodar e aproximo o pulso a centímetros da boca:

— Bloquear contato de Tobias — digo pausadamente, o plib emite uma luz verde, simbolizando que fez o que mandei e um suspiro escapa de meus lábios quando me vejo em silêncio mais uma vez e pelo ar-condicionado estar começando a esfriar.

Meu pai costumava me contar sobre como era o Antigo Mundo, ele falava das tecnologias atrasadas da época, como os smartphones. Não consigo me imaginar usando um retângulo achatado para me comunicar, os plibs são mais práticos, como pulseiras que funcionam por comando de voz, além de executar todas as funções do celular de uma forma mais rápida.

— Conectar à rádio — peço, e uma música do antigo mundo começa a tocar. Essa é a única coisa que gosto dele, do AM, as músicas. Acompanho a voz de Alceu Valença: — Na bruma leve das paixões que vem de dentro...

A paisagem do metal mesclado ao verde vai sumindo aos poucos e dá lugar a uma estrada única cercada por uma vegetação arbustiva e seca nas laterais, a BR-343 se abre para mim como a boca de uma fera.

Horas se passam até chegar ao meu destino.

Reproduzo uma suave melodia enquanto piso no chão de cascalho, em minha caminhada até a casa. Raios solares acariciam minha nuca exposta, em um sinal costumeiro de boas-vindas. O céu está limpo, sem nuvens, o plib me diz que é quase meio-dia, o sol no centro do céu.

Completamente NaturalWhere stories live. Discover now