Capítulo 11

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NÃO OLHE PARA MIM

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NÃO OLHE PARA MIM

Ágata

   Mateus fumou dois cigarros seguidos, ele ia para o terceiro, mas arranquei o maço de suas mãos e atirei pela janela, o que o fez aumentar ainda mais o volume da música e cantar com todas as suas forças.

Não consigo entender porque ele gosta tanto das músicas do Antigo Mundo, para mim não há nada no passado que possamos nos orgulhar. Olhe por esse ponto de vista: os humanos do passado condenaram os de hoje e por pouco não extinguiram a humanidade. Eles criaram novas doenças e as usaram como armas, para reafirmar seu poder, para lucrar vendendo vacinas, o que não deu muito certo já que os remédios não tiveram muita eficácia.

Então, quando estavam chegando nas páginas finais do livro da história do homem, eles resolveram se unir, e assim criaram a Nuvem Negra, que nos fez evoluir e sobreviver em um novo mundo, um modelo ideal, onde a natureza podia voltar a sua grandiosidade e as pessoas podiam ser felizes. É um belo conto de fadas, mas o surgimento dos monstros tornou tudo sujo e obsceno, o Mundo Ideal acabou e aqui estamos nós.

Os humanos com habilidades que devem proteger os outros, mesmo que isso os matem. É uma obrigação, não existe escapatória. Eu sabia disso, mas esqueci completamente quando saí da agência. Entretanto, estou aqui de novo, descendo do carro e fazendo uma careta para o prédio.

O sol bate contra as paredes espelhadas do último andar, multiplicando sua luz, e uns canários cantam em uma árvore logo atrás de mim. Grande recepção.

— Temos que ir à sala de convivência! — Mateus alerta, como se eu devesse me preocupar com isso.

— Que seja! — Dou de ombros, em parte demonstrando indiferença e, sendo sincera, para esconder o tremor que reverbera por meu corpo.

Vou vê-lo, depois de um ano. Minha mente relembra, meu estômago embrulha e minhas pernas se mexem apressadas. Caminho de uma forma estranha e temo que Mateus, ao meu lado, perceba e faça um comentário. Posso sentir a perna esquerda pisando mais fundo que a direita e meu pé meio torto, indo para o lado errado. Dizem que sou um pouco cambota e é nesses momentos de nervosismo em que percebo que é verdade.

Entramos por uma porta lateral e Mateus bufa com força, seu hálito me atinge, uma mistura de doce e cigarro, atrativo e perigoso. Olho para ele com o canto do olho e o observo levar uma das mãos até o rosto, tapando um olho e jogando a cabeça para trás. O outro olho, o descoberto, devolve meu olhar.

— Juro que não sabia — comenta baixinho, ainda naquela posição.

Nossa caminhada termina em portas duplas, que se abrem quando nos aproximamos. Piso com o pé direito na sala, é uma superstição idiota, mas realmente preciso de sorte, desesperadamente. Ali está Jorge, com um sorriso forçado nos lábios. Eu era a descoberta dele, um trunfo para esfregar na cara da presidência do país e dizer: viu o que minha agência tem? Ele nem me chamava pelo nome, me deu um apelidinho: arma.

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