Capítulo 8

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ESPERANÇA DISFARÇADA DE AMOR

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ESPERANÇA DISFARÇADA DE AMOR

   Peculiar, nada mais é do que uma forma educada e poética para dizer que algo é estranho. Gosto dessa palavra, do som que ela reproduz, da forma como minha boca se mexe para dizê-la. Agora só falta a frase. Acho peculiar meu gosto pela sensação de acordar depois de adormecer chorando.

Não que seja romântico, é somente uma boa sensação. Acordar com os olhos vermelhos e inchados, a garganta seca e aquele sentimento de ei, eu dormi chorando! É como se tivessem feito uma limpeza profunda no meu interior. Meu quarto está escuro, mas posso ver o móbile balançando acima da minha cabeça.

Mamãe não está mais aqui. Deve ter saído quando viu que eu dormia. Ela havia aparecido uns cinco minutos depois que entrei, após eu enchê-la de mensagens. Não fez questionamentos, apenas me deixou cair em seus braços e acariciou meu cabelo. Contei o que aconteceu. Ela ouviu calada.

Eu me sentia horrível, todas as palavras de Jorge eram como um colar de espinhos apertado em meu pescoço. Seu tio só está magoado, ela disse quando deitei a cabeça em seu ombro.

— Ele estava com raiva, ódio, para ser mais preciso — respondi, escondendo a parte dolorida e deixando a raivosa tomar conta da voz.

— Não, ele nunca sentiria isso por você, é como um filho para ele.

— Ele disse que vou morrer sozinho. — Eu parecia uma criança contando à mãe que havia apanhado na escola, amedrontado e derrotado e mentalmente planejando um novo confronto.

— Ele tem certa razão, afinal, só cabe um no caixão. — Rimos juntos, então deitamos abraçados. Era como nos velhos tempos. Antes de eu ir para a agência, costumava acordar em pânico no meio da noite, depois de um pesadelo, então ia até o quarto dos meus pais, e dormia nos braços deles.

À medida que fui crescendo parei de fazer isso, em parte porque queria mostrar coragem para Tobias, porém, no fundo, estava tremendo de medo.

— Ele estava de cabeça quente — continuou. Não estava tentando justificar meu tio, e sim, tentando me consolar.

Acendo o abajur da mesinha ao lado da cama, o círculo de luz que ele produz ilumina o teto. Encaro o móbile e todas aquelas estrelas balançando ao ritmo do ventilador de teto. Pareciam mini bailarinas, indo de um lado para o outro com leveza e graciosidade, em uma dança hipnotizante.

Ainda dói, as palavras de Jorge, como se fosse uma bala alojada em algum órgão vital. Palavras são como uma arma, Mateus. Meu pai dizia. Como ele estava certo. A maioria de nossas conversas giravam em torno de suas filosofias sem sentido e frases que pareciam ser tiradas do livro de Sun Tzu, mas algumas raras vezes eu conseguia compreender.

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