Capítulo XXV [PARTE UM]

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A P R I L


QUANDO CHEGUEI EM CASA no início daquela noite, os corredores estavam escuros, preenchidos por uma quietude fantasmagórica. Uma luz suave escapava sob a fresta da porta do escritório, onde meu pai trabalhava e fazia telefonemas. Descalcei os sapatos ainda no hall de entrada e subi as escadas em silêncio, agarrada a meia dúzia de sacolas barulhentas. Pisei em cada degrau com cuidado exagerado e andei junto a parede, misturada à escuridão. Fiz tudo certo, mas nenhuma precaução foi suficiente para despistar Paige Wright.

Assim que fechei a porta do meu quarto atrás de mim, o ranger de uma maçaneta se abrindo no andar inferior me fez gelar. Naquela casa antiga, qualquer som mais alto que a queda de um alfinete era capaz de viajar pelo silêncio — eu conhecia o gemido das tábuas velhas sob meus pés e o barulho de cada dobradiça enferrujada.

Deixei as compras espalhadas no chão e me preparei para escutar as duas batidas ritmadas contra o batente. Eu havia passado a tarde fora com minhas amigas, mamãe provavelmente só queria checar se estava tudo bem.

Quando comecei a achar que havia me enganado, sua voz abafada atravessou a porta:

— Posso entrar?

Girei a maçaneta e a luz amarelada dos abajures projetou sombras por todo corredor e iluminou o rosto da minha mãe. Seus olhos verdes escondiam um sorriso e seus cabelos, castanhos como os meus, oscilavam sobre seus ombros em ondas meticulosamente modeladas.

— Fique à vontade — abri a porta o suficiente para lhe dar passagem e fui atingida pelo cheiro de cigarro impregnado em suas roupas.

Mamãe prometera milhões de vezes que pararia de fumar, mas continuava a fazê-lo secretamente. Não era um hábito exatamente fácil de esconder: o que os olhos não viam, o nariz sentia.

— Não vai sair hoje? — Paige deslizou para dentro, uma passada elegante atrás da outra — Eu queria falar com seu irmão, mas ele foi embora mais cedo.

Meu rosto se entortou em uma careta assim que ouvi seu nome.

Quando me despedi das meninas, dei uma desculpa qualquer para não acompanhá-las até o pub. Não queria ver meu irmão. Eu e Cole não havíamos trocado uma palavra desde a nossa última conversa pela manhã — a discussão parecia ter acontecido fazia uma eternidade: ele me disse para não aparecer no show porque minha presença apenas o prejudicaria.

Eu não era muito fã da ideia de ser um fardo para alguém.

— Cole parecia nervoso. É uma grande noite, não é? Os meninos ensaiaram tanto! Juro por Deus, todo aquele barulho quase... Quer dizer, a música! — uma risada curta escapou de sua garganta — A música quase enlouqueceu seu pai.

No momento em que avistou as sacolas de compras amontoadas no chão, minha mãe congelou.

— Você fez compras — seus olhos se arregalaram de leve — Que ótimo.

Me deitei sobre a cama, de costas para as almofadas, observando-a contar o número de bolsas.

— Renovei o guarda-roupas — sorri com a mentira — O que achou?

Paige se aproximou devagar, sentando-se ao meu lado, e um suspiro escapou de seus lábios:

Será mais difícil do que eu imaginava.

Sua atenção pairava sobre as estampas das sacolas e insígnias de marcas.

— O que vai ser difícil?

— April, minha querida — disse, pesarosa — Queria falar com você e seu irmão juntos, mas parece impossível reunir os dois em um ambiente — ela hesitou, como se repensasse a própria escolha de palavras — Eu e seu pai. Nós estamos passando por uma fase difícil agora. Financeiramente falando. O trabalho do seu pai...

BULLSHITWhere stories live. Discover now