Capítulo XXII [PARTE DOIS]

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H U N T E R


NÓS NÃO ÉRAMOS BEM-VINDOS naquele pub. Sabíamos disso, nos orgulhávamos desse feito, e continuávamos a frequentá-lo mesmo assim. Não era apenas a promessa de perigo que nos atraía de volta noite após noite: a cerveja era boa e a música também. O lugar havia rapidamente se tornado uma espécie de refúgio para nossos amigos e seria difícil abrir mão do nosso programa preferido só porque o resto da clientela — composta por motoqueiros e bêbados solitários — nos odiava. Eles detestavam o barulho e o tumulto que o público da nossa idade trazia para o local. Não poderia culpá-los por desejarem de volta a paz e tranquilidade que só um ambiente livre de adolescentes poderia oferecer, mas, se não fosse por nós, o bar teria fechado as portas meses atrás. O movimento trazido pela banda era a única coisa que mantinha aquele lugar vivo — palavras do proprietário do lugar.

Naquela quarta-feira, a atmosfera do pub não era das melhores. Consegui distinguir o contorno de quatro figuras debruçadas sobre o balcão, todos munidos de uma garrafa ou mais. O barulho de conversas se misturava ao solo de uma guitarra elétrica tocando a distância e as ocasionais explosões de risadas. Era agradável, mas nada daquilo se comparava aos dias de ensaio da The F Word. Sentado ali, senti falta do palco, da multidão espalhada pelos cantos. O lado positivo de não nos apresentarmos era poder ver meus amigos de perto, sem aquela loucura de montar os equipamentos e suar como um porco sob holofotes.

Um copo de cerveja pela metade repousava sobre o tampo da mesa bem na minha frente. Aquele seria meu primeiro e último copo, já que precisava dirigir de volta para casa. Eu ria de alguma história que Zack contava, quando Seth interrompeu a conversa, se colocando de pé:

— Vou mijar — ele anunciou para todos ouvirem, me empurrando para fora do banco em U.

Em resposta, as garotas o vaiaram e batatas cobertas de cheddar voaram em sua direção. Havia três delas, sentadas lado a lado: Zoe, Jackie e Indy. Eu não tinha a menor ideia do porquê delas estarem ali, mas sabia que Zack estava adorando a companhia extra. Eu o invejava por parecer tão satisfeito enquanto dividia uma porção de fritas com Zoe, os dois se divertindo horrores e contribuindo para o caos que tomava conta da mesa. Parecia um casal de filme adolescente. Ninguém deveria encontrar a paz em um relacionamento estável tão cedo. Era irrealista e, francamente, até um pouco ofensivo.

— Vou dar uma volta — levantei do banco, ciente de que ninguém havia escutado uma palavra do que havia dito.

Eu gostava das meninas, mas era vergonhoso assistir meus amigos competindo para ver quem passava mais vergonha para chamar atenção de mulher. Seth, como de costume, estava na liderança e sempre arranjava algum motivo para desviar a conversa para si. Finch vinha logo atrás com aquela cara de quem comeu e não gostou: ele fazia o possível para esconder a dor de cotovelo que sentia ao observar Jackie e Seth flertando, mas se entregava ao implicar com a menina de graça. A troca de farpas entre eles conseguia ser pior do que briga no jardim de infância. Pelo menos, a situação toda me arrancara algumas risadas.

Cole fora o único de nós esperto o suficiente para fugir assim que se deparara com as meninas. Ele se misturava com facilidade, apesar daquele cabelo loiro, descolorido, destacá-lo na multidão.

Sequer cogitei perturbá-lo.

Ao invés disso, segui pelo bar em direção à saída. Athos, o dono do lugar, polia canecas de cerveja atrás do balcão e conversava com algum cliente, mas fez questão de me cumprimentar assim que me viu. Eu cumprimentei de volta. O cara era uma lenda viva. Pelo que eu ouvi, ele havia ganhado a escritura do pub em um jogo de poker. Quando nós surgimos com a ideia de nos apresentarmos aqui, meses atrás, Athos disse que nós seríamos sua próxima grande aposta. Aquele fora um voto de confiança do caralho da parte dele — antes de adotarmos a rotina intensa dos ensaios semanais, nós éramos uma merda. Talvez Athos tivesse enxergado um talento bruto em cada um nós, algo que fizesse o investimento valer a pena, ou talvez só estivesse bêbado feito um gambá, não importava: nós seríamos eternamente gratos por aquele gesto.

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