Capítulo XVI [PARTE TRÊS]

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ERA BOM ESTAR EM terra firme. Sentada em uma pedra na beira do lago, April não precisava se preocupar com o movimento constante de um veículo ou com a paisagem do lado de fora mudando em alta velocidade. O máximo que ela tinha que fazer era se lembrar de chegar para o lado a tempo de não ser atropelada por algum de seus amigos. Eles passavam ali de tempos em tempos, correndo como loucos na direção do lago, deslocando água para todo lado ao se jogarem dentro dele.

O céu aberto em Bridgeford Lake foi uma feliz surpresa para April. Já passava de uma da tarde e o sol era como um afago gentil em sua pele, mantendo-a aquecida mesmo em seu traje de banho. O biquíni escolhido para a ocasião era uma coisinha comportada e maliciosa. O pano revestido de veludo era da cor do vinho que uma vez derramara por acidente no tapete do seu próprio quarto e fazia justiça a cada curva de seu corpo. Na hora da compra, a própria Paige Wright lhe assegurara que aquele era um dinheiro bem investido e a menina tinha que concordar com ela.

O dono das íris azuis deveria ter gostado também, a julgar pelos olhares famintos que havia lançado em sua direção. Não que ela se comovesse com isso. Desde que chegara ao lago April se manteve bem longe para não ser obrigada a presenciar mais performances ao vivo de Hunter e Lexie. Para a surpresa dela, Campbell parecia mais interessado em reduzir cigarros a cinzas enquanto fitava o nada do que na morena escultural que tomava sol ao seu lado, deitada em uma toalha de praia.

Finch esbarrou em April com o cotovelo. Ele levava uma latinha de cerveja aos lábios para dar o gole final. O metal ainda suava, conservando a temperatura da bebida, deixando uma marca redonda semi-evaporada na pedra em que estavam sentados.

— Sabe... Quando eu propus essa viagem ao lago eu não estava esperando que tanta gente viesse — ele comentou com os olhos distantes — Da próxima vez nós vamos aparecer de surpresa na sua casa e mandaremos você e o Cole entrarem no carro. Sem perguntas.

April tentou procurar o que o amigo tanto via. O ruído distante do rádio era constantemente interrompido pelas risadas e gritos de seus amigos se divertindo dentro da água, organizando um torneio de briga de galo. Ela observou o corpo de Jackie pender para o lado até despencar dos ombros de Seth, caindo no lago. A morena emergiu logo em seguida com uma risada, afastando o cabelo cacheado do rosto em um movimento para o lado, como uma sereia. Zoe estava começando a comemorar a vitória quando Zack a arremessou na água também.

Tirando eles, mais alguns adolescentes se espalhavam pela faixa de areia na orla — eles haviam chegado depois, em outros carros. Eram pessoas conhecidas do corredor da escola, que também participavam das festas arranjadas pelos meninos.

— Puta que pariu — ele continuou, a voz soando como um resmungo — Olha só quantas pessoas aquele loiro oxigenado convidou. Eles vão acabar com as minhas heinekens.

Pelo que April sabia, todos tinham que trazer alguma coisa para o passeio. O irmão dela ficou encarregado de trazer o som, enquanto Zack trouxe batatas chips e algumas garrafas de água. Hunter e Seth encheram um isopor com gelo e vários engradados de cerveja. Zoe ficou sabendo de tudo de última hora, então, pediu o carro do pai emprestado e ainda se preocupou em trazer alguns sanduíches para os amigos comerem na hora do almoço. Lexie, ela soubera mais tarde, tinha uma contribuição um pouco menos substancial — Finch até tentou explicar, mas achou melhor mostrar: ele retirou um baseado já bolado do bolso, sorrindo como uma criança antes de fazer merda.

Wright revirou os olhos tão forte que quase viu o próprio cérebro.

— Será difícil explicar a ausência de tantos alunos em uma segunda-feira.

April recebeu uma risada frouxa em resposta, como uma concordância bêbada.

— É... – a voz dele soava arrastada – Acho que o cemitério da cidade não tem túmulos o suficiente para suportar o falecimento de tantos avôs fictícios.

BULLSHITWhere stories live. Discover now