Capitulo XI [PARTE UM]

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H U N T E R


EU NÃO MENTI PARA APRIL. Nas horas que sucederam o nosso pequeno encontro, eu realmente não parei. Meus amigos ficaram encarregados de organizar uma pequena recepção para os alunos novos da Thomas e eu fui incluído na arrumação por tabela.

Não demorou muito para que calouros e veteranos estivessem reunidos no anfiteatro, o coração do prédio principal. O edifício fora inteiramente construído ao redor da estrutura — era um teatro ao ar livre, composto por um palco sem adornos, circulado por uma escadaria em forma de arco. Os degraus serviam como bancos para a platéia, que começava a se sentar.

E lá estava April.

Penúltima fileira, próxima à saída. Depois de achá-la, se tornou impossível ignorá-la. Enquanto todos os alunos borbulhavam em expectativa, April permanecia imóvel como uma escultura de mármore. Ela tinha o queixo erguido, as pernas cruzadas como as de uma dama e um belo par de coxas escondido sob a saia do uniforme. Eu não conseguia decidir se a peça de roupa era uma benção ou uma maldição. Quanto mais eu olhava, mais eu tinha certeza que aquela garota tinha sido feita sob medida para enlouquecer não só a mim, como a todos.

Havia algo diabólico no jeito que ela se movia. April atravessava os corredores de St Clair como uma criatura expulsa do paraíso e seus passos provocavam a mesma comoção que um evento de caráter religioso. Era um magnetismo natural que atraía a atenção de todos para ela.

— Ei — Seth me chamou — Agora vão apresentar a gente. Fica ligado.

Ele acompanhava a reunião como um participante de reality show, olhos presos ao palco, esperando surgir a oportunidade de entrar. Eu assenti, mesmo sabendo que Seth não notaria a ausência de resposta.

Havia cartazes espalhados pela escola inteira anunciando o evento. Aquele dia marcava o início das atividades estudantis do colégio. No centro do palco, Cole Wright, representante da Thomas e irmão de April, terminava o discurso de boas-vindas e convidava todos a se inscreverem para as olimpíadas internas. Segundo ele, cada um reunido ali tinha o dever de prestigiar a Thomas ao invés de matar aula. Pela primeira vez em muito tempo, nós tínhamos uma chance de vencer. Era por isso que eu estava em pé ao lado daquela cambada de idiotas: eu jogaria naquelas olimpíadas e me inscreveria em todos os esportes se dependesse dos meus amigos. Eu era parte do comitê, afinal. Eu e outros quatro felizardos escolhidos a dedo por Cole tínhamos o dever de parecer entusiasmados com as olimpíadas.

Pelo menos, o engajamento me renderia um ponto na média.

Eu ouvi meu nome ser chamado e depois o de Seth. Ainda no centro do palco, o representante anunciava os membros do comitê. April estava vestindo o casaco preto do uniforme, prestes a se retirar, quando Cole Wright tomou um último fôlego, observando as palavras escritas no cartão como se fossem a própria sentença de morte. Conhecendo a irmã que tinha, com certeza seriam:

— April Wright.

Um burburinho furioso inflamou o anfiteatro como um enxame de abelhas. Todos pareciam mobilizados em localizar a outra Wright, não se importando em serem discretos ou não. Algumas cabeças se viraram na direção da menina. Estavam famintos como urubus para captar alguma reação.

O rosto de April se transformou em uma máscara impassível, feita de pedra, e eu sorri mesmo que ela não pudesse me ver.

Cole não esperou que a irmã viesse ao palco se juntar aos membros do comitê. Ele fingiu uma estupidez momentânea, como se não tivesse visto a menina nas escadarias e suspirou:

— Enfim, pessoal. Se vocês virem a April, avisem a ela.


 Se vocês virem a April, avisem a ela

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