Capítulo XXI

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A P R I L


MINUTOS SE PASSARAM ATÉ que nós conseguíssemos respirar direito. Eu peguei meu sutiã do chão e subi as alças pelos braços sem tirar os olhos da porta. Nenhum funcionário aparecera para checar a origem do barulho e isso definitivamente contava como um bom sinal. Talvez ninguém em St. Clair tivesse escutado a mesa quebrar. Estava tarde, todos já deveriam ter ido embora há um tempo. Ao que tudo indicava, nós tínhamos acabado de nos livrar de uma expulsão ou qualquer outra consequência catastrófica.

Enquanto eu vibrava em otimismo, Hunter parecia não acreditar na própria sorte. Ele precisou de um tempo para começar a se mover. A julgar pela expressão em seu rosto, alguém poderia derrubar a porta a machadadas a qualquer momento.

Quando finalmente despertou do transe, Campbell se agachou para examinar o estrago feito na mesa. Dentre os quatro apoios, apenas um havia quebrado. A estaca curta de madeira envergava contra o piso em um ângulo esquisito, ameaçando estourar em lascas e derrubar o móvel.

Isso poderia configurar depredação de propriedade privada?

Eu terminei de vestir meu sutiã sem dizer uma palavra. Seja pelo futebol ou pelo sexo, minhas pernas estavam moles embaixo de mim. Cada um dos meus músculos doía de um jeito diferente, mas eu me sentia bem.

Hunter se pôs de pé.

— Não podemos deixar isso assim — ele quebrou o silêncio, passando uma mão por seus cabelos escuros. Parecia procurar uma maneira de consertar a mesa, mas, a não ser que o baixista estivesse mantendo em segredo seu talento para a marcenaria, não havia muito que pudesse ser feito. Quando eu estava prestes a me afastar, ele me lançou um olhar hesitante: — Espere. Quero tentar uma coisa.

Campbell se posicionou próximo a beirada do móvel, uma mão de cada lado. Seus olhos azuis e penetrantes permaneciam colados em mim a todo momento.

— Eu levanto a mesa e você coloca a perna de volta no lugar.

— Está quebrada, Hunter — cruzei os braços, sem me mover — Não vai se encaixar.

Ele sorriu de má vontade:

— Não custa nada tentar.

Tive que segurar minha língua para não rebater.

Teimoso.

Hunter se preparou para erguer o móvel e eu me ajoelhei contra o chão para observar a parte quebrada. Os pequenos cortes se esticaram sobre minha pele e eu resmunguei baixinho. Merda.

— Vou contar até três e você desentorta a perna quebrada — sua voz era rouca — Não deve ser difícil.

Eu o encarei. Em pé a centímetros do meu rosto, Hunter certamente era uma visão e tanto: sem camisa, braços flexionados e rosto concentrado. Quis lambê-lo. De novo.

Como se escutasse meus pensamentos sujos, o baixista olhou para baixo. Nossos olhos se encontraram por uma fração de segundo longa demais e minhas bochechas esquentaram, assim como o resto do meu corpo.

Ah, sim. Hunter esperava que eu o respondesse.

— Já fez isso antes, Campbell? — ironizei, pronta para morrer se ele me perguntasse por que eu estava corando.

Hunter me ignorou. Contou até três e suspendeu a mesa apenas o suficiente para que eu pudesse empurrar a perna quebrada de volta ao lugar. A peça de madeira rangeu contra a minha mão, mas se encaixou ao móvel sem dificuldades.

BULLSHITWhere stories live. Discover now