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— Isso é ridículo! Que tipo de chuveiro só funciona por vinte minutos em pleno século XXI?

Saí contrariada do pequeno banheiro do quarto que estava dividindo com Maya.

Havia três quartos no total, todos equipados com banheiro e uma cama de casal. Liam e Sky correram para ficarem juntos. Niall chegou a me olhar pidão quando Maya perguntou quem gostaria de ficar com ela, mas de forma alguma eu aceitaria dividir uma cama com Harry.

No fim das contas, Niall ficou com o sofá-cama do quarto do brutamontes, e eu não poderia me sentir menos culpada. Isso era o que ele ganhava por me usar como moeda de troca.

— Estamos em uma fazenda antiga, amiga... Não em um hotel – Maya, que já estava na cama, nem ergueu o olhar do livro em suas mãos.

— Estou morrendo de calor! Só que depois de vinte minutos a água vira um gelo e é impossível de aturar... Sem contar as quatorze picadas de mosquito que eu já levei e meus sapatos novinhos que ficaram lotados de terra só porque andei uns dez metros até entrar nesta espelunca de madeira! – discursei, apertando a toalha contra mim e andando de um lado para o outro. — Deve ter milhares de besouros e outros insetos asquerosos por toda esta casa, e sabe-se lá que tipo de animal perigoso tem nesse matagal. A gente pode pegar um vírus, uma doença ou até morrer por causa da brilhante ideia do Niall de nos trazer para cá... E você viu só a recepção que tivemos? Esse Harry Styles é um bruto mal-educado que nem se ofereceu para me ajudar e nem me dirigiu a palavra pelo resto do dia só porque eu lhe disse "não"... Quero dizer, que loucura a minha, né? Não aceitar ser tratada sem o mínimo de respeito e como a droga de um presentinho para o fazendeiro entediado!

A esse ponto, Maya já tinha abaixado o livro e me fitava com um sorriso de lado enquanto eu vestia o pijama. Analisava-me por baixo de seus longos cílios.

— O sinal do celular quase não pega nesse inferno, não tem ninguém por perto em caso de uma emergência e eu não posso nem tomar a droga de um banho sem me preocupar se uma cobra vai sair do ralo ou se a água vai ficar gelada em dois segundos por causa desta casa velha e idiota! Eu odeio o Niall! Eu odeio Niall e essa ideia idiota de férias! – joguei-me na cama, colocando os braços sobre a cabeça e ouvindo Maya rir do meu show.

— Mel? – senti que ela se moveu na cama, mas eu estava muito ocupada tendo uma crise para respondê-la. — Tem certeza de que isso tudo é só sobre as férias?

— Do que você está falando? É claro que é sobre esta droga de fazenda!

— Tem certeza de que não está usando essa situação como desculpa para finalmente estourar e tirar toda a raiva de dentro de você? Quero dizer... Você nem ao menos reagiu quando descobriu que Brian...

— Não – tirei os braços do rosto, devolvendo seu olhar. — Eu te disse que não quero falar sobre isso.

Maya suspirou, já acostumada com o meu humor depois de dividir o quarto comigo por dois anos e meio de faculdade.

Ela apenas se deitou de costas e ficou encarando o teto, frustrada por não conseguir dialogar comigo. Senti-me culpada pelo tom que usei, não era justo descontar a raiva na minha melhor amiga. Eu sabia que ela só queria me ajudar, só queria me entender... Maya gostava de analisar as pessoas, não era por acaso que estava cursando Psicologia. Mas eu não gostava de ser alvo de suas análises. Eu queria uma amiga, não uma psicóloga.

— Desculpe... – suspirei. — Eu não queria ser grossa...

— Está tudo bem, eu só queria...

— Ajudar, eu sei – interrompi, rindo sem graça. — Você sempre quer ajudar e eu sempre sou uma idiota. Acho que esse é o nosso lance.

— Nosso lance?

— É, você sabe. Aquilo que não conseguimos evitar... Você sempre vai tentar ajudar as pessoas e eu sempre vou ser a idiota que afasta quem tenta se aproximar.

— Você não é idiota... – usou um tom defensivo, e eu nem precisei olhar para o lado para saber que ela estava sorrindo. — Só às vezes... Como quando você jogou minhas calcinhas pela janela no meio de uma briga por causa da última barra de chocolate – completou, fazendo nós duas gargalharmos. — Mas tudo bem, você estava na TPM.

Balancei a cabeça e continuei rindo, lembrando-me da expressão incrédula que ela tinha feito quando esvaziei sua gaveta de roupas íntimas pela janela.

Às vezes eu tinha alguns surtos, mas não era nada sério. Eu havia aprendido a conviver com a raiva avassaladora que às vezes buscava escapar do meu peito. Tinha ciência das reações desproporcionais que eu tinha em algumas situações... Às vezes os mais simples acontecimentos serviam como gatilho para que eu perdesse o controle. Mas um dia aquilo ia parar, eu esperava.

Lembrando daquela briga, pela primeira vez naquele dia infernal, eu me permiti rir. Talvez ainda houvesse salvação para aquelas férias, contanto que meus amigos estivessem comigo.

Senti que Maya colocou suavemente a mão sobre a minha, talvez tentando me passar conforto. Apesar de gostar da sensação, estranhei o gesto.

— Ahn, Maya... Eu sei que nós acabamos de ter um momento, mas não acha que dar as mãos é um pouco demais? – ri sem graça, sentindo que ela se virou para me olhar na cama.

— Do que está falando? Eu não encostei em você.

Desfiz o sorriso e o corpo inteiro gelou. Prendi a respiração e senti todo o meu tronco vibrar quando olhei para baixo. Eu podia jurar que meu coração havia parado de bater por alguns segundos quando focalizei a aranha em minha mão.

Dei um grito alto, tão forte, que a cabeça começou a latejar. Pulei da cama junto com Maya, ainda berrando como louca enquanto subia na poltrona do outro lado do quarto.

A porta abriu em um baque e Niall estava ofegando como se tivesse corrido quilômetros para chegar ali. O que foi esquisito, pois ele estava apenas no quarto ao lado. Olhou assustado e confuso para nós duas abraçadas, observando-nos berrar frases desconexas, apontando para a cama.

— O que aconteceu? – quis saber, sem conseguir entender nossos gritos.

Mata! Mata!

Na cama! Mata! Está na cama! – balbuciávamos, tentando nos equilibrar na poltrona velha.

— O que está acontecendo aqui? – Harry apareceu na porta.

Sua voz estava mais rouca do que mais cedo e seus cabelos, bagunçados.

— Um extraterrestre, ali! – Maya conseguiu dizer.

Ele rolou os olhos, visivelmente nos achando patéticas quando entrou no quarto e se aproximou da cama. Revirou os lençóis até achar a aranha monstruosa e não pareceu nem um pouco afetado quando ofereceu a mão para aquele bicho asqueroso.

Entortei o nariz, morrendo de nojo, enquanto ele esperava, pacientemente, a aranha subir nele. E, quando ela o fez, ele abriu a janela e deixou que ela voltasse para de onde tinha vindo.

— Você não vai matar? – questionei, vendo Harry fechar a janela e se virar para mim.

— Se eu fosse matar tudo o que me incomoda, você não estaria aqui depois dessa gritaria na minha cabeça – frio, saiu pela porta, passando por um Niall inútil.

— Grosso – sussurrei, sentindo a respiração tranquilizar quando desci da poltrona, ajudando Maya a me acompanhar.

— Então... – Niall bateu as mãos, sem jeito por não ter conseguido ser prestativo. — Eu vou indo, então... Boa noite para vocês. Ahn... Qualquer coisa... é só chamar — sorriu envergonhado, ainda tentando manter a pose de herói para Maya antes de sair do quarto.

Nós respiramos fundo, olhando uma para a outra.

— Alguma chance de conseguirmos dormir nessa cama depois disso? – perguntou cansada, já sabendo a resposta.

— Nenhuma – deixei claro, imaginando insetos passeando por mim enquanto eu dormia.

Eu estava certa por não querer ter ido para aquele lugar. Seriam as férias mais longas da minha vida. E eu não imaginava, mas também seriam as melhores.

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Fuck Me [HS]Where stories live. Discover now