07 | Ressurreição das Memórias

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No fundo da minha memória, um eco familiar parece ressoar, no instante em que eu o vejo

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No fundo da minha memória, um eco familiar parece ressoar, no instante em que eu o vejo. E quase posso sentir uma espécie de dor física. O homem de andar firme irrompe através da porta de entrada da cafeteria adquirindo toda a minha atenção.

__ O que porra está fazendo? Vamos embora agora! __ A voz dele, fria e cautelosa reverbera imponente e dominante no espaço.

É como se sua voz, sua aparência ressuscitasse uma parte adormecida em mim, fazendo minhas lembranças, as únicas do passado, pulsarem como memórias primárias em pequenos e dolorosos fleches.

Sua voz...

" Vai ficar tudo bem, inocente Anya "

Meus olhos acompanham cada movimento dele de forma compenetrada.

Meus olhos tornam-se incapazes de observar qualquer outra coisa, que não ele. Tento vê-lo com o máximo de clareza. A forma como ele se contrapõe ao homem que me apavorou com seu comportamento imoral.

__ A muda desgraçada teve a porra da audácia de jogar café quente em mim, e eu vou matar ela. __ A ameaça que soa muito verdadeira e o insulto são horríveis. Me sinto encolher atrás do Sr. Józef que veio me proteger, mas também ainda sinto muita raiva.

Eu não gosto de ser insultada, desrespeitada por um homem, aliás por ninguém.

Eu joguei mesmo café nesse asqueroso. Eu reajo impulsivamente quando estou sob pressão.

__ Saim já do meu estabelecimento, agora! Ou vou chamar a polícia. __ O Sr. Józef se impõe, e os meus olhos permanecem no homem bonito de cabelos castanhos e olhos que eu desejo de forma absurda ver a cor.

Seu rosto vira parcialmente em nossa direção, e quase posso ver seus olhos, mas tudo que eu posso observar é o ângulo do seu queixo, seu maxilar firme e o nariz assimétrico, porém porém elegantemente retilíneo na ponta.

Eu quero ver seus olhos. Eu preciso.

__ Você vai se foder, junto com essa vadiazinha... __ Sinto um aperto no meu peito e um temor terrível pela ameaça, mas ela não é o bastante para nublar um outro sentimento, uma outra sensação que parece estar se sobrepujando a tudo.

__ Chega! __ O homem do qual ainda não consegui desviar o olhar fala. __ Senhor nós estamos de saída, não há necessidade... __ Finalmente posso contemplar o tom dos seus olhos. Verdes, eles são verdes, exatamente como o desenho guardado na minha memória. Eles se fixam em mim como duas flechas acertando o meu coração, as expressões do homem mudam, eu vejo, é um instante, mas eu vejo os traços do reconhecimento. __ De chamar a polícia. __ Não ouço suas últimas palavras, apenas faço um paralelo rápido como um fleche, do tom dos olhos do meu anjo salvador e desse homem.

Eu me agarro ao tom intenso dos olhos verdes dele, à cadência única de sua voz emanando a ordem para o nojento que me insultou. Meus dedos tremem ao segurar o meu crusifixo. Incerta do que fazer. Observo cautelosamente, confirmando cada traço que a memória insiste em reafirmar.

INOCENTE ANYAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora