10 | Anjo ou Demônio?

575 96 29
                                    

A dor física é quase eclipsada pelo remorso que me consome após meu ato de crueldade direcionado a ela

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

A dor física é quase eclipsada pelo remorso que me consome após meu ato de crueldade direcionado a ela. A terrível necessidade de agir de forma horrível é como um veneno que queima o meu ser. É o preço amargo que pago para manter as distâncias intactas, para evitar que ela conheça a verdade sobre o abismo que nos envolve.

Anya... Ela definitivamente tornou-se bonita demais.

Ainda sinto o formigamento persistente nos lugares específicos da minha pele onde ela tocou. Foi quase impossível manter-me imóvel, enquanto seus dedos delicados e suaves moviam-se em uma carícia perigosa, provocando uma sensação que transcendeu o simples toque físico. A suavidade de sua pele entre os meus dedos, uma sedução... Que olhos assustados mais perfeitos.

Eu devia tê-la afastado no instante em que ela entrou aqui, e se aproximou, mas a constatação de sua doce presença, sua existência nesse mundo, quando eu sei que ela esteve tão perto da morte, uma parte em mim não foi capaz de resistir à sua proximidade. O aroma do perfume delicado, uma tentação.

Que decisão mais infeliz. Eu não posso deseja-la, mas desejei.

Tanto tempo se passou, mas ainda assim eu sei que preciso mantê-la longe. É o certo. Não posso permitir que ela se aproxime, não posso! Eu preciso ter em mente, não posso esquecer, ela foi e ainda é uma menina.

Eu não desejo meninas!!

__ Inferno... Maldição... __ Vocifero frustrado, tentando levantar. Me esforço ao máximo do suportável, mas é em vão.

__ Não aqui. Não fale suas blasfêmias na minha casa, Jonh.  __ O olhar repreensivo do padre, pesa sobre mim.

Seus olhos me julgam, e mereço cada centelha de condenação que eles carregam.

__ Você não devia tê-la tratado assim. Nem mesmo faz sentido. __ Ele me encara.

__ E você devia ser mais vigilante com ela. Ao invés disso ela entrou aqui sozinha, onde um desconhecido se encontra. Eu podia perfeitamente ser alguém capaz de machucá-la, e ela se quer poderia gritar. __ Crítico sua ausência, o que permitiu que ela entrasse no cômodo.

Diante da dor e da confusão que toma conta, resolvo parar de tentar sentar e fico imóvel. O silêncio entre nós é pesado, carregado com o peso das palavras ditas e as ainda não ditas, enquanto encaro o horizonte vazio por onde Anya desapareceu, levando consigo a esperança que eu mesmo não me permito ter.

__ Oito anos, fazem oito anos desde a última vez que o vi. Que você me trouxe a Anya, e agora o vejo assim... __ A emoção em sua voz me atinge como um soco no estômago, um lamento carregado de mágoa e dor. __ Você partiu novamente aquele dia, me deixando sozinho com aquela criança ferida, sem saber absolutamente nada sobre ela, além do nome, e claro as suas ordens. Mas agora... Agora você estava a beira da morte. O que houve Jonh?

Eu senti que ia morrer. Dessa vez eu acreditei, e por isso eu vim aqui. Me deixei levar pelo medo de morrer sozinho... Que decisão maldita, agora me vejo em uma posição que não há como fugir. Ele vai me forçar a enfrentá-lo.

INOCENTE ANYAWhere stories live. Discover now