INOCENTE ANYA

09 | O Toque da Desobediência

Meu coração pulsa freneticamente, cada batida uma sinfonia de nervosismo enquanto dou um passo relutante e sorrateiro por vez.

Mantenho meus olhos no homem deitado sobre a cama do padre Tadeusz. O quarto está imerso em uma penumbra suave, mas ainda assim posso observá-lo com clareza.

Depois que o padre Tadeusz compreendeu o que eu lhe dizia na noite anterior, tudo aconteceu muito rápido. Eu nunca o vi agir com tanta rapidez e determinação. Foi como se uma força sobre humana o dominasse.

Ele me mandou recuar, praticamente me expulsando para retornar ao meu quarto, mas eu não obedeci, e permaneci por perto o máximo que deu.

Ainda me pergunto por que o delegado e o legista estiveram aqui de forma tão discreta. Foi o médico legista do condado quem cuidou do homem ferido, que fez todos os seus curativos. Porém ele não foi encaminhado a um hospital onde seria melhor mantido e cuidado, eu sei que seria o correto. Qualquer delegado, ou médico sensato teria feito isso acontecer.

São tantas perguntas sem resposta, e evidências que apontam para vários mistérios ao mesmo tempo. Eu não obtive resposta para nenhuma das minhas perguntas, pois depois que toda a agitação sobre os cuidados com o visitante inesperado terminou, o padre Tadeusz praticamente ordenou que eu tomasse um banho e fosse para a cama descansar, pois não iria conversar comigo naquele momento. Eu resisti de início, mas então percebi o quanto ele parecia atordoado e cansado, e optei por voltar ao quarto. No entanto foi impossível dormir.

Ele não permitiu que eu visse nada do que foi feito para cuidar do homem dentro de seu quarto, o homem que eu não vou deixar escapar. Eu não posso, essa é a minha chance. Eu a pedi e o senhor me deu... De um jeito um pouco inusitado e aterrorizante, mas deu, e eu agradeço.

Estou perto o suficiente para vê-lo com riqueza de detalhes.

Mesmo com parte do seu ombro e peito enfaixados, a visão de seu tronco musculoso se destaca.

“ ele tem um lindo corpo ”

Meu olhar se perde nos contornos do corpo adormecido, mesmo ferido ele mantém uma beleza masculina que atrai minha atenção de maneira inusitada. Observo-o em um estado de repouso forçado, onde a fragilidade da sua condição contrasta com a imponência dos seus traços.

Levo minha mão ao peito encontrando sobre ele o meu crucifixo, o objeto que eu sei que foi ele que me deu no passado, como se pudesse conter a intensidade das sensações que me consomem. A luz suave atravessa a cortina, revelando mais dos contornos de seu rosto, ele parece mesmo profundamente adormecido.

Pergunto-me, perplexa, por que me sinto tão conectada a ele?

Sua voz, de timbre suave, ecoa em minha mente, relembrando-me de como ele elogiou minha beleza. As lembranças se entrelaçam com a imagem dele diante de mim, e essa sensação de querer desvendar tudo sobre esse homem, o meu anjo salvador é perturbadora, na verdade é porque ele sabe com certeza a minha origem, então estar perto dele, é estar perto da verdade.

Ele veio até aqui. Ele sabia onde eu estava. Ele me conhece!

Uma tempestade de emoções agita meus olhos, e o meu corpo. Desafio as ordens do padre Tadeusz.

“ __ Anya, você está terminantemente proiboda de chegar perto daquele homem. Entendeu? Não importa o quão curiosa você se sinta, eu irei conversar com ele antes de qualquer possível contato entre vocês.”

A chama voraz da curiosidade me impulsiona adiante, desafiando qualquer hesitação que possa existir. Sinto a necessidade irresistível de chegar mais perto, de tocá-lo. Eu preciso constatar que ele é mesmo real.

“ Nao! Eu não posso tocá-lo. Que ideia mais estúpida... Ah não, eu quero sim. Que mal pode haver? ”

Meus dedos encontram a pele quente dele. Toco-o com suavidade onde não há faixas, sentindo a maciez da pele que parece escaldante na verdade.  As impressionantes veias do seu braço não enfaixado são tão interessantes.

Seu rosto tem marcas do que com certeza foram atos de violência. Há um corte entre a testa dele e a sua sobrancelha, e um outro machucado na parte superior do seu nariz elegante.

Minha mente é um vórtice de estranhos desejos sem qualquer noção de auto preservação.

De repente, sou arrancada desse devaneio quando seus olhos se abrem, revelando uma expressão intensa e aterrorizante. A força do seu olhar me puxa para a realidade, e meu coração acelera ainda mais diante da percepção de que fui descoberta. Ele me encara, seus olhos verdes penetrantes perecem odiosos. Em um momento de tensão, tento recuar rapidamente, mas sou impedida pela mão firme que me puxa com brusquidão, de volta.

__ O que pensa que está fazendo sua garota idiota. Perdeu a noção do perigo? Onde está aquele maldito padre? __ Sua voz é um rosnado enfurecido, ecoando pelas paredes do quarto, e sinto um calafrio percorrer minha espinha diante de sua raiva.

__ Solta ela, John, agora! __ A voz do padre Tadeusz reverbera em uma inegável ordem atrás de mim

No instante seguinte, meu corpo é empurrado com uma força surpreendente. Trêmula e apavorada, quase caio no chão, sentindo o ar escapar dos meus pulmões. Ele me empurra com apenas uma mão, aquela que não está ferida, mas forte o suficiente para me desequilibrar.

As mãos do padre Tadeusz encontram meus ombros, me amparando com gentileza, evitando que eu vá direto ao chão. Sinto-me tão trêmula quanto  decepcionada.

__ Ela não devia estar aqui comigo. Tire-a daqui padre!

Capítulo concluído ✅🥰

Beijos e até o próximo 😘