Capítulo 6

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JENNIE

Alguns anos atrás

Peguei um livro de capa de couro marrom e cheirei. Meu Deus, eu amo esse cheiro. Ele me faz lembrar Spencer Knox, que carregava uma bola de futebol para todos os lados, sempre a
jogava para cima e pegava enquanto falava. Toda vez que a bola batia em suas mãos, o cheiro do couro me fazia sorrir.

A mulher que comandava a venda de garagem era idosa e usava uma coisa cor de laranja engraçada em torno da barriga.
O cabelo grisalho e arrepiado se projetava em direções diferentes, como se ela tivesse enfiado o dedo na tomada em vez de acender o abajur que havia sobre uma mesa dobrável.
Eu me aproximei dela.

— Com licença. Quanto custa isto aqui?

Ela olhou para o que eu tinha nas mãos.

— Cinquenta centavos. Mas paguei dez dólares por ele há quinze anos, na venda de garagem de alguém. Isso é o que acontece quando você compra porcarias de que não precisa. Acaba se livrando delas como fez a pessoa de quem as comprou. Você tem um diário?

Eu não tinha notado a palavra “diário” gravada na capa, até ela apontar. Balancei a cabeça.

— Não, nunca tive.

Uma mulher magra vestida com um suéter e com o cabelo preso em um rabo de cavalo se aproximou com uma cafeteira na caixa.

— Dou cinco dólares por isto.

A idosa comprimiu os lábios.

— Não sabe ler? A etiqueta diz que custa vinte.

— Só pago cinco.

— Bom, então pode levar essa sua bunda magrela até a mesa de onde a tirou e colocar lá de volta.

A mulher de suéter se espantou.

— Que grosseria.

A idosa resmungou alguma coisa sobre a mulher ir passear no country club e olhou para mim novamente.

— Então, vai querer o diário ou não? Tenho que prestar atenção nos clientes. Tem gente que acha que o preço das coisas em uma venda de garagem não é suficientemente baixo e decide tentar um desconto de cinco dedos.

Eu estava pensando que devia oferecer vinte e cinco centavos, já que ela começou em cinquenta. Minha mãe sempre dizia que é preciso negociar nessas situações. Mas a
mulher não parecia ser do tipo que negociava. Além do mais, eu tinha os cinquenta centavos, e ela pagou dez dólares, e eu estava um pouco assustada com suas reações. Por isso enfiei a mão no bolso e peguei duas moedas de vinte e cinco centavos.

— Vou levar.

Alguns dias mais tarde, fui para meu quarto depois do jantar, tranquei a porta e mergulhei no diário. Não queria que minha irmã entrasse e descobrisse que eu estava escrevendo coisas da minha cabeça. Ela tentaria ler quando eu não estivesse em casa, com certeza, ainda mais se soubesse que
tipo de coisa ocupava minha mente ultimamente.

Dois dias antes, Kyung-mi me pediu em namoro. Eu tinha o maior crush nela desde o quinto ano. É claro que aceitei, embora meus pais tivessem dito para minha irmã que ela não podia namorar antes do ensino médio. Antes dela se tornar minha namorada, nunca
fiquei nervosa perto de meninas. Mas agora eu surtava cada vez que a gente conversava. Eu sabia o porquê: ela tinha saído com Nayeon antes de mim, e elas ficaram. Eu nunca tinha beijado uma garota e estava com medo de fazer tudo errado quando chegasse a hora.

A Cinderela - Jenlisa (G!P)Where stories live. Discover now