[4] O DILEMA DA AULA DE PSICANÁLISE

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PRECONCEITO ENRAIZADO:

"É um preconceito que é tão antigo que acaba virando senso comum. É aquela história de que "sempre foi assim, então é verdade". Por exemplo: a noção de que toda mulher negra é sensual é uma ideia completamente falsa, criada por donos de escravos que estupravam suas escravas e depois diziam essa besteira para contar vantagem para os amigos. Apesar disso, esta é uma noção que continua até hoje, e que pouco se questiona".

Estava na hora de intervalo, decido ficar na sala vendo vídeo do Youtube ao invés de sair e ter que conversar com outras pessoas

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Estava na hora de intervalo, decido ficar na sala vendo vídeo do Youtube ao invés de sair e ter que conversar com outras pessoas.  O vídeo que estou vendo é de uma garota da minha cidade, ela está discutindo sobre identidade de gênero, o que me fazia ter muita vontade de pegar o primeiro avião e dar um beijo na dona do Garota Literária, por ensinar tantas coisas.

Ah se nos meus tempos eu tivesse conhecido alguém como ela, talvez tudo tivesse sido diferente.

Mas se tinha algo que eu não gostava de lembrar era das coisas que haviam acontecido, me dava um embrulho no estômago e um frio no corpo.

Vamos recalcar tudo isso, era o melhor.

Como só eu estava na sala, estava vendo o vídeo sem o fone e estava tão concentrada que não percebo quando alguns garotos entram.

— Tá vendo o que, Bella? – um deles pergunta.

— É um canal de uma garota lá da minha cidade.

Ele se aproxima e olha para a tela do meu celular.

— Às vezes esqueço que tu é nordestina, porque nem parece...

Reviro os olhos e pauso o vídeo, não deixaria um babaca como ele apreciar Alice Rocha.

— O que você quer dizer com "não parece ser nordestina"?

— Ah, você sabe, parecendo que trabalha na roça, com a pele rachada do sol, essas coisas. Você é toda branquinha e com o cabelo avermelhado. Teu sotaque nem parece ser baiano.

Respiro fundo. Claro que eu era diferente, todo mundo não tem os mesmos genes. A cor do meu cabelo veio da minha mãe que tem a mesma coloração castanha avermelhada que a minha. Meus pais são brancos e temos muitos privilégios além desses, já que somos classe média alta, mas diferente do meu irmão mais velho, Thiago, que se achava o maior babaca por isso, eu respeito todas as diferenças, saio da minha bolha perfeita e convivo com outras pessoas, em outros ambientes. Além do mais, sofro diversos preconceitos por ser gorda, o que não é a mesma que os outros preconceitos, sei exatamente isso.

— Você parou em que tempo? – pergunto, a raiva crescendo dentro de mim. — Primeiro de tudo, meu sotaque não parece ser baiano porque a região nordeste não é apenas a Bahia, também existem outros estados. A cidade que eu morava faz divisa com Alagoas e Sergipe, nosso sotaque é derivado dessa mistura. Recomendo você fazer umas pesquisas no Google porque tá muito desinformado.

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