Kartini e Isabella são mulheres bem diferentes.
Se Kartini era negra, militante e feminista ativista, Isabella era uma princesinha, sonhando com seu conto de fadas e vivendo um amor com um verdadeiro príncipe encantado. Kartini gostava de Marx, rap...
É a entidade que reúne os alunos de um determinado curso ou um departamento da universidade, para representar seus interesses, suas ideias, solucionar problemas e reivindicar os direitos dos estudantes. A direção do CA é escolhida por meio de eleições periódicas, entre chapas de alunos daquele curso. Representam os cursos das universidades nas UEEs e na UNE.
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É horrível as coisas que a universidade nos submete.
Noites mal dormidas para terminar trabalhos, dinheiro sendo gasto em cópias de livros difíceis de ler, professores arrogantes que não explicam o assunto e se acham mais superiores que os alunos.
E, é claro, a comida da cantina. Se é que aquela gororoba pode ser considerada algo comestível.
Saio do local com mais fome do que já estava, pois não tinha conseguido engolir muita coisa, ainda mais com a maravilhosa Kartini Khan estando na mesma mesa que eu e soltando todo seu potencial de julgadora. Meu celular toca com uma notificação de Jullie, avisando que ela já está na sala, então marcho até lá imaginando como seria bom dizer poucas e boas para Kartini.
Abro a porta da sala com tudo e encontro Jullie sozinha, sentada em uma cadeira de frente para a caixa do ratinho.
— Milagres acontecem, não é? Fui a primeira a chegar e ainda mais para uma aula de comportamental... – Jullie murmura, mas ao me encarar para de falar. — O que aconteceu para você tá com essa cara?
— Kartini como sempre.
Sento-me e passo a mão pelo rosto quente. Minha vontade é voltar para casa e me jogar na cama.
— Também não sou muito fã dela.
— Eu odeio aquela garota, ela é uma baita preconceituosa que julga os outros sem conhecer achando que isso é problematizar...
— Também não é para tanto, Bella. Não acho legal você odiar uma mulher dessa forma, a Kart tem os problemas dela, uma vivência diferente da nossa, e isso fez com que ela ficasse dessa forma.
— Você tá defendendo ela?
— Não, mas acho que nós mulheres já somos muito desunidas para você jogar tanto ódio para ela por coisas tão bestas. Ela só te corrigiu de forma agressiva, mas foi isso. Fiquei pensando sobre isso esses dias, como temos um vocabulário racista e propagamos sem nem perceber...
Mordo o lábio, entendendo o que Jullie falou, mas é difícil colocar de lado tudo que você recebeu desde o nascimento e modificar para um modo que não fira outras pessoas. Nossa cultura está cheia disso: de machismo, racismo, opressão.
— Tente ter um pouco de empatia pela Kartini – Jullie sussurra.
— Só gostaria que ela tivesse por mim também e parasse de me ver como uma patricinha mimada sem cérebro.
